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Inspiração cristã, bom impacto na imprensa

D. Manuel Clemente
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Intervenção de D. Manuel Clemente no 7º Congresso da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã

1. Teve este Congresso como tema “Vencer impactos”; várias e valiosas foram as intervenções que o trataram. Em nome da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais da Conferência Episcopal Portuguesa, saúdo vivamente os organizadores e participantes, com toda a comunhão de natureza e objectivo. A “inspiração cristã” dá o nome à Associação e une-vos a todos na mesma Fonte e no mesmo escopo. Quem passa os olhos por algumas das muitas publicações que representais, repara a breve trecho, por entre as várias maneiras de escrever, num modo básico de ser, definidor de todas elas. Aí perpassa a inspiração; e, porque evangélica nos propósitos, a inspiração cristã. Oportuna inspiração e fortíssimo impacto, particularmente no nosso “mundo” português: continente, ilhas e emigração. 2. Antes de mais como elo cultural. Quanto à religião propriamente dita, nem todos somos cristãos e católicos, os portugueses de hoje. Mas quanto à sensibilidade básica e, nesse sentido, “cultural”, poucos estaremos completamente arredados da matriz cristã. Há um modo de encarar a vida, uma maneira de olhar o outro, uma escala para definir o espaço, que herdaram do impacto cristão o sentido da existência como prova, o sentimento do outro como próximo e o aconchego do espaço como casa, geralmente perto de algum campanário [o semanário da minha terra, que leio sempre como a nenhuma coisa mais, chama-se precisamente “Badaladas”]. Não é preciso acrescentar como é importante este elo cultural, que a imprensa de inspiração cristã representa na sociedade portuguesa, aquém e além fronteiras. E não só para “matar” saudades, mas para fazer da saudade – quer dizer, da permanência daqueles sentimentos – algo de absolutamente vivo e criador. “Saudades do futuro”, podemos também nós dizer, no sentido de que se quer perpetuar o melhor de nós mesmos como povo, como cultura e como solidariedade. Na verdade, só consegue dar um passo em frente quem se firma no pé recuado. Saudável impacto, este da imprensa de inspiração cristã, quando tal malha geral da sociabilidade portuguesa se vai distendendo. Assim acontece, de facto, não tanto por imigração de estrangeiros, mas sobretudo por emigração cultural nossa, em relação à tradição viva que nos explica ainda, aliás hospitaleira e integradora. 3. Por outra via é esta inspiração importantíssima. Uma via mais política agora, no que a designação tem de essencial e fecundo. A globalização dos factos e das inter-dependências é real e inelutável. Corre paralela na política e na economia com a globalização mediática e informática dos gostos, desgostos e maus gostos… Mas a “aldeia global” não dispensa a polis concreta, a cidade, vila ou aldeia de que ainda somos, para sermos alguém com raiz, rosto e nome. A política ganha aqui a indispensável conotação humana e humanizadora. E daqui para a região, o país e o mundo. - Quem o faz? Muito especialmente, a imprensa regional. Aí se sabe dos vivos, aí se sabe dos mortos; aí do mundo, aí das terras; aí se interpretam localmente as ideias e os planos, aí se julgam concretamente os resultados e os desempenhos. E, sendo a inspiração verdadeiramente cristã, tal acontecerá com magnanimidade, exigência e compromisso, próprios de quem escreve e de quem lê. 4. Verificamos hoje em Portugal que os melhores propósitos e projectos, na política e na economia, na administração e na cultura, não se conseguem levar por diante sem uma base geral de valores e a participação concreta dos implicados. Da empresa à escola, do regional ao europeu, nada se estabelece nem afirma sem subsidiariedade autêntica. É um princípio básico da Doutrina Social da Igreja e uma decorrência indispensável do respeito pelas pessoas. Significa, como sabemos, que o geral resulta da concorrência dos vários particulares e o todo social da conjugação dos corpos intermédios. Famílias e autarquias, instituições de vários tipos e finalidades sociais, económicas e culturais, nações e grupos de nações, só funcionam interactivamente, com estímulo para todas e sem esquecimentos nem pressas. Trata-se também de motivação, que só acontece na subsidiariedade. Quem é dispensado retrai-se no alheamento ou reduz-se a espectador. Nenhuma sociedade subsiste assim, muito menos criativamente. A imprensa de inspiração cristã traz o estímulo evangélico à participação criativa, ultrapassando cansaços e avivando responsabilidades. Todos os que aqui estais, representando os variados órgãos congregados na AIIC, sabeis bem ao que me refiro, pela coragem necessária e a tenacidade comprovada em manter as vossas publicações, com tanta dificuldade de colaborações e recursos. E é por isso que representais também o melhor “impacto” da inspiração cristã na imprensa e na sociedade de que não podemos desistir. 5. Resta-me apelar a todos os associados da AIIC para que não desistam da sua tarefa, que é verdadeiramente uma missão de fé e cidadania. E, assim como me congratulo e os felicito muito pela sua acção, assim insisto igualmente, junto dos responsáveis públicos e estatais, para que dêem à imprensa de inspiração cristã o apoio indiscutivelmente devido a uma realidade sócio-cultural de primeira grandeza e da maior valia para a criatividade e a solidariedade gerais da nação que todos constituímos. Bragança, 29 de Novembro de 2008 Manuel Clemente, Bispo do Porto e Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais


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