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Irresponsabilidade na estrada, uma forma de violência

CDJP - Portalegre-Castelo Branco
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Documento da Comissão Diocesana Justiça e Paz de Portalegre-Castelo Branco

Uma guerra para vencer Todos os dias presenciamos ou temos conhecimento de situações que, tendo elas lugar na família, no trabalho ou nas relações que mantemos com os outros, em maior ou menor grau, são factores que geram injustiças e discórdias. Uma resposta mais desabrida por uma qualquer razão de menor importância ou um gesto menos amistoso dirigido a alguém que deveria merecer a maior estima são actos de pouco relevo mas, talvez, suficientemente importantes para aqueles a quem são destinados. E são esses pequenos actos que vão fazer com que determinado dia seja para não mais recordar, onde a paz de espírito esteve ausente e em que sentimentos de injustiça foram vividos. Ora, é entre este tipo de comportamentos, que não afectam muitas pessoas ao mesmo tempo, mas que se fazem quotidiana e repetidamente, que se insere a irresponsabilidade na estrada. É esta irresponsabilidade que gera iras, insultos, medos, estropiados e mortes. É esta irresponsabilidade que transforma pessoas pacíficas e, por vezes, generosas, em agentes de destruição, em pessoas egoístas e agressivas, com falta de solidariedade. Uma Comissão de Justiça e Paz deve preocupar-se com os problemas do nosso tempo que ponham em risco a justiça e a paz. Ora, de entre esses problemas que particularmente nos tocam avulta o da irresponsabilidade rodoviária. Mais do que um problema, ele constitui uma verdadeira guerra que avassala o nosso País e que põe em risco a paz e a justiça dos cidadãos. Para fazer face a esta guerra há que mobilizar tropas para várias frentes: autoridades policiais e judiciárias, autarquias, confissões religiosas, escola, família, organizações de segurança rodoviária, meios de comunicação social e cidadãos em geral. Às autoridades compete um papel pedagógico para a eliminação dos comportamentos de risco dos condutores. Mas esse papel tem limites. Elas terão que encontrar os meios para fazer sentir ao condutor que, esteja onde estiver, não está imune à vigilância da qualidade da sua condução. As autoridades policiais e judiciárias têm que ser implacáveis com quem não respeita os outros e põe em perigo as suas vidas. As confissões religiosas têm, também, uma missão a cumprir neste domínio. Bem andou a Comissão Episcopal Portuguesa, no seu último documento de 15 de Setembro passado, ao considerar a irresponsabilidade na estrada como um dos sete pecados sociais da sociedade portuguesa. Igualmente a Santa Sé, em Fevereiro deste ano, no seu primeiro encontro europeu da Pastoral da Estrada, chama a atenção para a necessidade urgente de uma educação sobre a estrada. As autarquias, a escola, a família, as organizações não governamentais que militam pela segurança rodoviária, a comunicação social, enfim, cada uma destas entidades, no seu campo específico, têm que fazer uma mobilização geral (porque de uma guerra se trata) de todos os seus recursos para pôr fim a esta falta de paz e de justiça que a irresponsabilidade na estrada gera. Finalmente, a pessoa comum, que anda nas ruas mas que também circula nas estradas, tem que tomar consciência de que só um comportamento cívico ao volante faz de alguém um autêntico cidadão. Em síntese: 1 – O atentado à vida – do próprio e dos outros – perpetrado pelo comportamento irresponsável dos que na estrada não respeitam regras nem a sua própria consciência é verdadeiramente um crime e uma forma de violência inaceitável. 2 – A democracia é feita só de liberdades e consentimentos? Onde estão os deveres, as obrigações, o respeito pelas leis e norma democraticamente instituídas e aceites? 3 – Quem assim não o entende, esquecendo o respeito devido às pessoas e às instituições, torna-se irresponsável. É urgente colocar tais criminosos sob a alçada da justiça, mas, tão importante como isso, é necessário educá-las – estamos sempre perante o eterno tema da educação e da educação cívica – que conduza tais pessoas ao entendimento da noção do que é viver numa sociedade justa e harmoniosa e em paz, construída nesse respeito democrático pelas instituições, impondo-se uma reavaliação dos valores sociais, humanos e institucionais. No dia em que João Paulo II faz 25 anos à frente do seu pontificado, esta Comissão pretende homenagear, através deste documento, esse grande vulto da Igreja Católica que tudo tem feito em prol da justiça e da paz. Portalegre, 16 de Outubro de 2003


Solidariedade