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João Paulo II, «O Grande»

Santa Sé
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Homilia da missa de sufrágio por João Paulo II na praça de São Pedro

João Paulo II, “O Grande”: foi assim que o Cardeal Angelo Sodano se referiu ao Papa falecido no passado sábado. O Secretário de Estado do Vaticano utilizou um atributo reservado aos Pontífices que alcançaram a santidade na missa de sufrágio por João Paulo II, a que presidiu na praça de São Pedro do Vaticano, no Domingo da Divina Misericórdia. Embora o Cardeal não tenha pronunciado estas palavras, ele tinha-as escrito no texto da homilia que foi entregue aos jornalistas. Homilia da missa de sufrágio por João Paulo II na praça de São Pedro Venerados concelebrantes, distintas autoridades, irmãos e irmãs no Senhor, O canto do Aleluia ressoa hoje mais solenemente que nunca. É o segundo domingo de Páscoa. É o domingo «in albis», a festa das roupas brancas de nosso baptismo. É o domingo da Divina Misericórdia, como cantamos no Salmo 117: «Cantai ao Senhor porque é bom, porque eterna é sua misericórdia...» É verdade. O nosso espírito está sacudido por um facto doloroso: o nosso pai e pastor, João Paulo II, deixou-nos. Contudo, sempre nos convidou a olhar para Cristo, única razão de nossa esperança. Durante mais de 26 anos, levou a todas os lugares do mundo o Evangelho da esperança cristã, ensinando a todos que a nossa morte não é mais que um passo para pátria do Céu. Ali está o nosso destino eterno, onde nos espera Deus, nosso Pai. A dor do cristão transforma-se imediatamente numa atitude de profunda serenidade. Esta vem da fé naquele que disse: «Eu sou a ressurreição. O que crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais». Certamente o afecto pelas pessoas queridas nos leva a derramar lágrimas de dor, no momento da separação, mas continua a ser actual o apelo que já dirigia o apostolo Paulo aos cristãos de Tessalónica, quando os convidava a não se entristecerem «como quem não tem esperança». Irmãos, a fé convida-nos a levantar a cabeça e olhar longe. A olhar para o alto! Deste modo, enquanto hoje choramos o facto do Papa nos ter deixado, abramos o coração à visão do nosso destino eterno. Nas missas pelos defuntos, há uma bela frase do prefácio: “não se nos tira a vida, esta se transforma”. E, ao destruir-se a morada terrena, constrói-se outra, no céu! Explica-se assim a alegria do cristão em qualquer momento da própria vida. Sabe que, por mais pecador que seja, ao seu lado sempre está a misericórdia de Deus Pai que o espera. Este é o sentido da festa da Divina Misericórdia deste dia, instituída precisamente pelo falecido Papa João Paulo II para sublinhar este aspecto tão consolador do mistério cristão. Neste Domingo seria comovedor reler uma de suas encíclicas mais belas, a «Dives in misericordia», que nos ofereceu já em 1980, no terceiro ano de seu pontificado. Então o Papa nos convidava a contemplar o «Pai das misericórdias e Deus de toda consolação, que nos consola em toda a tribulação» Na mesma encíclica, João Paulo II convidava a olhar para Maria, a Mãe da Misericórdia, que durante a visita a Isabel louvava ao Senhor exclamando: a ‘sua misericórdia se estende de geração em geração’». O nosso querido Papa também desafiou depois a Igreja a ser casa da misericórdia para acolher todos aqueles que têm necessidade de ajuda, de perdão e de amor. Quantas vezes repetiu o Papa nestes 26 anos que as relações mutuas entre os homens e os povos não se podem basear só na justiça, mas que têm de ser aperfeiçoadas pelo amor misericordioso, que é típico da mensagem cristã! João Paulo II - ou melhor, João Paulo II, o Grande -, torna-se assim o arauto da civilização do amor. Concebendo este termo como uma das definições mais belas da «civilização cristã». Sim, a civilização cristã é civilização do amor, diferenciando-se radicalmente dessas civilizações do ódio que foram propostas pelo nazismo e o comunismo. Na vigília do Domingo da Divina Misericórdia passou o Anjo do Senhor pelo Palácio Apostólico Vaticano e disse ao seu servo bom e fiel: «entra no gozo de teu Senhor». Que do céu vele sempre por nós e nos ajude a «cruzar o limiar da esperança» do qual tanto nos falou. Que esta sua mensagem permaneça sempre gravada no coração dos homens de hoje. A todos, João Paulo II repete uma vez mais as palavras de Cristo: «O Filho do Homem não veio para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele». João Paulo II difundiu no mundo este Evangelho de salvação, convidando a toda a Igreja a baixar-se diante do homem de hoje para o abraçar e levantar com amor redentor. Recolhamos a mensagem de quem nos deixou e frutifiquemos para a salvação do mundo! E ao nosso inesquecível pai, nós lhe dizemos com as palavras da Liturgia: «Que os anjos te levem ao paraíso!». Que um coro festivo te acolha e te conduza à Cidade Santa, a Jerusalém celestial, para que tenhas um descanso eterno. Amen!


João Paulo II