Lisboa - Dia da Igreja Diocesana D. José Policarpo 16 de Junho de 2003, às 11:06 ... Homilia de D. José Policarpo Homilia do Cardeal Patriarca No Dia da Igreja Diocesana em Fátima 15 de Junho de 2003 Queridos Peregrinos, Queridos Diocesanos de Lisboa, 1. Na introdução ao Programa Diocesano de Pastoral para este ano, escrevi: “Durante este ano celebrarei o 25º aniversário da minha Ordenação Episcopal. Como principal expressão desse Jubileu, desejaria que a Diocese me acompanhasse em peregrinação a Fátima, no Dia da Igreja Diocesana, colocando sob a protecção de Maria a nossa Diocese e todo o nosso trabalho pastoralâ€. Aqui estamos a realizar esse desejo, celebrando o mistério insondável da comunhão trinitária, unidade de um só Deus, realizada no amor e pelo amor de Pessoas iguais e distintas. Celebramo-lo com Maria, porque ela foi a primeira criatura a mergulhar nesse mistério, ao acolher, no seu seio, com amor de Mãe, por fidelidade e obediência ao Pai, a pessoa do Filho, pela força criadora do EspÃrito de Amor. Porque o amor adorante é o único caminho para penetrar e participar no mistério de Deus uno e trino, Maria será sempre aquela que nos acompanha nesse abandono ao Amor, guardando no coração o dom de Deus. Mas estamos aqui como Igreja Diocesana, que queremos construir e fazer crescer, na fidelidade à sua fonte primeira e perene, como comunhão de amor: a comunhão trinitária de amor. A constituição dogmática sobre a Igreja, do ConcÃlio Vaticano II, define-lhe a fonte de onde brota, o ritmo do seu crescimento, o ideal de perfeição que a atrai: “A Igreja Universal aparece como um povo que bebe a sua unidade, na unidade do Pai, do Filho e do EspÃrito Santo†(Lumen Gentium, n. 4). A participação no amor trinitário marca o ritmo da Igreja, que encontra no amor divino a força para crescer como comunhão de amor. É impossÃvel desligarmos este ideal de crescimento e de fidelidade, de Maria que, na vivência deste mistério, está connosco como o primeiro membro desse novo Povo, alargamento da comunhão de amor. A intensidade com que viveu esse mistério de amor fez, realmente, dela a Mãe da Igreja. Nunca haverá crescimento da Igreja sem Maria. 2. Esta festa da SantÃssima Trindade reconduz a Igreja, no seu ritmo litúrgico, ao chamado “tempo comumâ€, isto é, o tempo da normalidade da vida cristã enquanto tempo de fidelidade e busca da santidade. Fica, assim, claro, que a vida cristã, enquanto caminho de santidade é a vivência progressiva da comunhão trinitária. Progredir na santidade significa apenas isso: mergulhar cada vez mais no mistério do Deus Amor. E se na ordem divina é Deus que nos criou e nos redimiu por amor que nos atrai e nos conduz ao amor, na ordem das criaturas redimidas, é Maria, a primeira a viver totalmente essa radicalidade de amor, que nos ensina, nos fortalece e nos conduz. Mas este voltar da liturgia da Igreja à celebração da normalidade da vida cristã, acontece depois da celebração da Páscoa, morte e ressurreição de Jesus, que possibilitou a plena efusão do EspÃrito para fora de Deus. Torna-se, assim, claro, que só por Jesus Cristo ressuscitado recebemos o EspÃrito e podemos participar da comunhão trinitária. É a humanidade de Jesus glorificada que introduz outros homens e mulheres que se uniram a Cristo, na sua Páscoa, na glória de Deus. É amando Jesus Cristo que descobrimos o amor trinitário; é participando na vida de Cristo ressuscitado, que comungamos na vida divina. O próprio Jesus sabe que é assim e aponta-se a Si mesmo, aos discÃpulos, como caminho para mergulhar no insondável mistério de Deus. “Assim como o Pai Me amou, também Eu vos amei. Permanecei no meu amor†(Jo. 15,9). “Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós… Sem Mim nada podeis fazer†(Jo. 15, 4-5). Só Cristo nos pode introduzir no mistério de Deus e fá-lo a todos que se uniram a Ele e O amam. Só uma experiência de amor pode introduzir na plenitude do amor. A esses Ele comunica o EspÃrito Santo, porque O amam e participam do seu amor. E o EspÃrito Santo é “um EspÃrito de adopção filial, pelo qual exclamamos: ‘Abbá’, Paiâ€. (Rom. 8,15). Para permanecer no amor de Cristo é preciso cultivá-lo, exprimi-lo, dar-lhe densidade existencial no concreto da nossa vida. O Senhor garante que permanecem no seu amor aqueles que cumprem os seus mandamentos e estes resumem-se e reúnem-se no amor de Deus e no amor do próximo. É toda a nossa vida, de relação, de trabalho, de alegria ou sofrimento que podem ser vividas nesse amor de Jesus Cristo. Para quem permanece no amor de Cristo a vida toda torna-se adoração. O trecho do Evangelho de São Mateus, que acabámos de escutar, apresenta-nos os onze discÃpulos a reagirem perante Jesus ressuscitado como se estivessem perante Deus. “Quando O viram, adoraram-n’O; mas alguns ainda duvidaram†(Mt. 28,16). A adoração é a única reacção apropriada perante o mistério de Deus. Só ela apazigua a razão, transformando o abandono amoroso em sabedoria e entendimento, que são dons do EspÃrito Santo. Se reagimos só com a razão, a dúvida é uma ameaça, que até atingiu alguns discÃpulos. Também na aprendizagem da adoração Maria é a nossa mestra e guia. O “faça-se em Mim segundo a tua Palavra†é abandono adorante que a acompanha na concepção do Verbo, quando recebe em seus braços o Menino, em Belém, quando, no Calvário, acolheu, no seu regaço, o corpo morto de seu amado Filho. Em todas essas circunstâncias Ela reagiu com atitude adorante: guardava tudo no seu coração. 3. No mistério de Deus uno e trino, a Igreja aprende o sentido e a beleza da verdadeira unidade entre pessoas, aquela que é construÃda pelo amor e que desabrocha na alegria da comunhão. Tornar-se um, sendo diferentes, porque amando, as pessoas se dizem e se realizam no outro, vivendo como um só. Na chamada Oração Sacerdotal, Jesus pede essa unidade para todos os cristãos, de todos os tempos: “que todos sejam um só. Como Tu, ó Pai, estás em Mim e Eu em Ti, eles também estejam em Nós. Eu dei-lhes a glória que Tu Me deste, para que sejam um só, como Nós somos um só: Eu neles e Tu em Mim. Assim chegarão à perfeita unidade†(Jo. 17,21-23). Só de Deus podemos aprender este amor unificador que faz parte da intenção primeira de Deus ao criar o homem. Ao amor do homem e da mulher, Deus traçou um destino: serem um só (cf. Gen. 2,24); a Igreja, na variedade dos seus membros e na multiplicidade das suas expressões, é chamada a ser um só corpo, em Cristo (cf. 1Cor. 12). Na SantÃssima Trindade aprendemos que a fonte do amor que amamos não é só o nosso coração humano, mas o coração de Cristo, que unido a nós no amor, se torna um connosco e nos introduz na unidade do amor divino. É por isso que o crescimento na caridade é o único critério decisivo para a avaliação do nosso viver em Igreja. Nem a estatÃstica, nem a eficácia, nem o resultado verificável das nossas acções podem ser critério único para avaliar o crescimento da Igreja: só o amor o é, amor que é resposta ao amor de Deus, Ele que nos amou primeiro, e que vai adquirindo, na variedade das suas expressões, a profundidade e a humildade da adoração. 4. Virgem SantÃssima, acompanhai com solicitude maternal, esta Igreja de Lisboa. Vós que aprendestes, na maternidade, como o Verbo de Deus vivia em Vós, porque vivestes, desde sempre em Deus, ensinai-nos a permanecer no amor de Cristo, na simplicidade da nossa fé, na fome com que acolhemos a sua Palavra, no amor com que celebramos a Eucaristia, na ternura com que amamos os nossos irmãos, na coragem e autenticidade com que damos testemunho do Vosso Filho, Jesus Cristo. Ensinai-nos a abrir o nosso coração ao EspÃrito Santo que o Vosso Filho derrama abundantemente sobre nós. Nós sabemos que, se O acolhermos, tudo se torna possÃvel, tudo se transforma, tudo recomeça. Ensinai-nos a adorar, como Vós adorastes, a confiar, como Vós confiastes, a alegrarmo-nos, como Vós Vos alegrastes com a maravilha da acção de Deus no Vosso coração. Queremos compreender, como Vós, que tudo o que Deus faz em nós, é para sua glória e salvação do mundo. Sê, na nossa vida, o raio de luz que nos anuncia o EspÃrito. Mergulhada no amor da Trindade, amai esta Igreja com o amor que viveis em Deus; dai-lhe o que ela precisa e que talvez nem sequer saibamos pedir. Tornai-nos penetrantes de espÃrito para discernirmos os caminhos do Reino e dóceis para obedecer sempre à vontade do Senhor. Vós que fostes serva, ensina-nos a servir; Vós que gerastes a vida do Filho de Deus, tornai esta Igreja uma matriz fecunda em frutos de vida e de graça; Vós que adorastes, ensinai-nos a rezar. Porque Vos temos como Mãe, ficamos mais seguros de permanecer no amor do Vosso Filho, que nos introduzirá na intimidade de Deus. †JOSÉ, Cardeal-Patriarca Diocese de Lisboa Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...