Meditações da Via-Sacra no Coliseu AAVV 09 de Abril de 2004, às 20:00 ... Textos do eremita belga André Louf Anualmente, na noite de Sexta-feira Santa, memória litúrgica da Paixão do Senhor, a Igreja de Deus que está em Roma, guiada pelo seu Pastor, o Sucessor de Pedro, realiza ao pé do Coliseu o piedoso exercÃcio do "caminho da Cruz". À comunidade cristã de Roma vêm juntar-se ao longo das catorze estações peregrinos de todo o oikumene, enquanto milhões de fiéis de todas as lÃnguas, povos e culturas se associam à oração e meditação através dos meios radiotelevisivos. Neste ano, por uma feliz coincidência de calendário, os cristãos do Oriente e do Ocidente celebram simultaneamente o grande mistério da paixão, morte e ressurreição do único Senhor de todos e, assim, vivem contemporaneamente a memória do acontecimento fundamental da sua fé. PRIMEIRA ESTAÇÃO Jesus no Horto das Oliveiras V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi. R/. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum. Evangelho segundo São Lucas 22, 39-46 Jesus saiu, então, e foi, como de costume, para o monte das Oliveiras. E os discÃpulos seguiram também com Ele. Quando chegou ao local, disse-lhes: "Orai para que não entreis em tentação". Depois afastou-Se bruscamente deles até à distância de um tiro de pedra, aproximadamente, e, posto de joelhos, começou a orar dizendo: "Pai, se quiseres, afasta de Mim este cálice, não se faça, contudo, a minha vontade mas a tua". Então vindo do Céu, apareceu-Lhe um anjo que O confortava. Cheio de angústia, pôs-se a orar mais instantemente e o suor tornou-se-Lhe como grossas gotas de sangue, que caÃam na terra. Depois de ter orado, levantou-Se e foi ter com os discÃpulos encontrando-os a dormir devido à tristeza. Disse-lhes: "Porque dormis? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação". MEDITAÇÃO Chegado ao limiar da sua Páscoa, Jesus está na presença do Pai. Como poderia ter sido de outro modo se o seu secreto diálogo de amor com o Pai nunca cessara? "Chegou a hora" (Jo 16, 32), a hora pressentida desde o princÃpio, anunciada aos discÃpulos, que não se parece com nenhuma outra, que a todas inclui e condensa precisamente quando estão para se cumprir nos braços do Pai. E inesperadamente aquela hora mete medo. Deste medo nada nos é ocultado. Mas lá, no auge da angústia, Jesus refugia-Se junto do Pai em oração. No Getsémani, naquela noite, vive-se uma luta corpo a corpo extenuante tão áspera que, no rosto de Jesus, o suor muda-se em sangue. E Jesus ousa pela última vez, diante do Pai, manifestar a angústia que O invade: "Pai, se quiseres, afasta de Mim este cálice, não se faça, contudo, a minha vontade mas a tua" (Lc 22, 42). Duas vontades se defrontam por momentos, para depois confluÃrem num abandono de amor já anunciado por Jesus: É preciso "que o mundo saiba que Eu amo o Pai, que faço como o Pai Me mandou" (Jo 14, 31). ORAÇÃO Jesus, irmão nosso, que, para abrir a todos os homens o caminho da Páscoa, quisestes experimentar a tentação e o medo, ensinai-nos a refugiarmo-nos junto de Vós, e a repetir as vossas palavras de abandono e adesão à vontade do Pai, que, no Getsémani, mereceram a salvação do universo. Fazei que o mundo conheça, através dos vossos discÃpulos, a força do vosso amor sem limites (Jo 13, 1), do amor que consiste em dar a vida pelos amigos (Jo 15, 13). Jesus, no Horto das Oliveiras, sozinho, perante o Pai, renovastes a adesão à sua vontade. R/. A Vós o louvor e a glória para sempre. Todos: Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo. Stabat Mater dolorosa iuxta crucem lacrimosa, dum pendebat Filius. SEGUNDA ESTAÇÃO Jesus, atraiçoado por Judas, é preso V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi. R/. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum. Evangelho segundo São Lucas 22, 47-48 Ainda Jesus estava a falar quando surgiu uma multidão de gente, precedendo-os um dos doze, chamado Judas, que caminhava à frente, e aproximou-se de Jesus para O beijar. Jesus disse-lhe: "Judas, é com um beijo que entregas o Filho do Homem?" MEDITAÇÃO Desde a primeira vez que Judas é nomeado, aparece indicado como aquele "que veio a ser o traidor " (Lc 6, 13; cf. Mt 10, 4; / Mc 3,19); o trágico apelativo de "traidor" ficará ligado para sempre à sua lembrança. Como pôde chegar a isto um que Jesus escolhera para O seguir mais de perto? Ter-se-á Judas deixado levar por um amor contrariado por Jesus que se transformou em suspeita e ressentimento? Tal o faria crer o beijo, gesto que significa amor, mas que serviu para entregar Jesus aos soldados. Ou terá sofrido uma desilusão com um Messias que se subtraÃa à função polÃtica de libertador de Israel do domÃnio estrangeiro? Judas não tardará a dar-se conta de que a sua subtil chantagem se conclui num desastre. É que ele desejara, não a morte do Messias, mas apenas que Se rebelasse e assumisse uma atitude decidida. E então: em vão chora o seu gesto e se desfaz do salário da traição (Mt 27, 4-5), porque se entrega ao desespero. Quando Jesus falar de Judas como "filho da perdição", limitar-Se-á a recordar que assim se cumpria a Escritura (Jo 17, 22). Um mistério de iniquidade que nos ultrapassa mas que não pode sobrepor-se ao mistério da misericórdia. ORAÇÃO Jesus, amigo dos homens, viestes à terra e revestistes a nossa carne, para oferecer a vossa solidariedade aos vossos irmãos e irmãs da humanidade Jesus, manso e humilde de coração, dais alÃvio a quantos sofrem sob o peso do seu fardel (Mt 11, 29); e no entanto a oferta do vosso amor muitas vezes foi rejeitada! Mesmo entre aqueles que Vos aceitaram houve quem Vos renegasse, quem traÃsse o compromisso assumido. Mas Vós nunca deixastes de amá-los, a ponto de abandonar todos os outros para ir à procura deles, com a esperança de os trazer novamente a Vós, carregados aos ombros (Lc 15, 5), ou reclinados ao peito (Jo 13, 25). Entregamos à vossa infinita misericórdia os vossos filhos tentados pelo desânimo ou pelo desespero. Concedei-lhes a graça de procurarem refúgio junto de Vós, e de "nunca desesperarem da vossa misericórdia" (Regra de S. Bento, 3, 74). Jesus, Vós continuais a amar quem recusa o vosso amor e, incansável, procurais quem Vos atraiçoa e abandona. R/. A Vós o louvor e a glória para sempre. Todos: Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo. Cuius animam gementem, contristatam et dolentem pertransivit gladius. TERCEIRA ESTAÇÃO Jesus é condenado pelo Sinédrio V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi. R/. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum. Evangelho segundo São Lucas 22, 66-71 Quando se fez dia, reuniu-se o Conselho dos anciãos do povo, prÃncipes dos sacerdotes e escribas, os quais O levaram ao seu tribunal. Disseram-Lhe: "Declara-nos se Tu és o Messias". Ele respondeu-lhes: "Se vo-lo disser, não Me acreditareis e, se vos perguntar, não respondereis. Mas o Filho do Homem sentar-Se-á, doravante, à direita do poder de Deus". Disseram todos: "Tu és, então, o Filho de Deus?" Ele respondeu-lhes: "Vós o dizeis, Eu sou". Então, exclamaram: "Que necessidade temos já de testemunhas? Nós próprios o ouvimos da sua boca". MEDITAÇÃO Jesus está só diante do Sinédrio. Os discÃpulos fugiram. Desorientados pela prisão à qual algum procurou reagir com a violência. Fugiu também aquele que pouco antes exclamara: "Vamos nós também, para morrermos com ele" (Jo 11, 16). O medo venceu-os. A brutalidade do facto prevaleceu sobre o seu frágil propósito. Cederam, arrastados pela corrente da vilania. Deixam que Jesus enfrente, sozinho, a sua sorte. E todavia formavam o cÃrculo dos seus Ãntimos, Jesus tinha-os designado como os seus "amigos" (Jo 15, 15). Agora, ao seu redor, só uma assembleia hostil, unânime em querer a sua morte. Já mais vezes se estendera sobre Jesus a sombra da morte, quando aludia à sua origem divina. Já outras vezes quem O escutava tentara lapidá-Lo. "Não é por alguma obra que Te apedrejamos - afirmavam -, é por blasfémia, porque, sendo Tu homem, Te fazes Deus" (Jo 10, 33). Agora o Sumo Sacerdote intima-Lhe que declare, diante de todos, se é Filho de Deus ou não. Jesus não Se subtrai: com a mesma gravidade o atesta. Deste modo assina a sua própria sentença de morte. ORAÇÃO Jesus, testemunha fiel (Ap 1, 5), face à morte confessastes serenamente a vossa identidade divina e anunciastes o vosso regresso glorioso no fim dos tempos para levar a cumprimento a obra que o Pai Vos confiara. Confiamos à vossa misericórdia as nossas dúvidas, as contÃnuas oscilações entre Ãmpetos de generosidade e momentos de / indolência, em que deixamos "os cuidados deste mundo e a sedução da riqueza" (Mt 13, 22) sufocar a centelha que o vosso olhar ou a vossa Palavra fez saltar dos nossos corações endurecidos. Encorajai aqueles que começaram a seguir o vosso caminho, para que não se assustem diante das dificuldades e renúncias pressentidas. Recordai-lhes que sois manso e humilde de coração e é suave o vosso jugo e leve o fardo. Concedei-lhes experimentar o alÃvio que só Vós podeis oferecer (Mt 11, 28-30). Jesus, sereno face à morte iminente, único justo perante o injusto Sinédrio. R/. A Vós o louvor e a glória para sempre. Todos: Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo. O quam tristis et afflicta fuit illa benedicta Mater Unigeniti! QUARTA ESTAÇÃO Jesus é renegado por Pedro V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi. R/. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum. Evangelho segundo São Lucas 22, 54b-62 Pedro seguia Jesus de longe. Como tivessem acendido uma fogueira no meio do pátio e se tivessem sentado, Pedro sentou-se no meio deles. Ora, uma criada, ao vê-lo sentado ao lume, fitando-o, disse: "Este também estava com Ele". Mas Pedro negou-o, dizendo: "Não O conheço, mulher". Pouco depois, disse outro, ao vê-lo: "Tu também és dos tais". Mas Pedro disse: "Homem, não sou". Cerca de uma hora mais tarde, um outro asseverou com insistência: "Com certeza este também estava com Ele, pois até é galileu". Pedro respondeu: "Homem, não sei o que dizes". E, no mesmo instante, estando ele ainda a falar, cantou um galo. Voltando-Se, o Senhor fixou os olhos em Pedro, e Pedro recordou-se da palavra do Senhor, quando lhe disse: "Antes de o galo cantar, negar-Me-ás três vezes". E, vindo para fora, chorou amargamente. MEDITAÇÃO Dos discÃpulos em fuga, dois voltam atrás, seguindo à distância os soldados e o seu prisioneiro. Um misto de afecto e curiosidade, talvez; falta de consciência do risco. Não demora muito que Pedro seja reconhecido: a denunciá-lo o acento galileu e o testemunho de quem o viu desembainhar a espada no Horto das Oliveiras. Pedro refugia-se na mentira: nega tudo. Não se dá conta de que assim renega o seu Senhor, desmente as suas ardentes declarações de fidelidade absoluta. Não compreende que assim nega também a sua própria identidade. Mas um galo canta, Jesus volta-Se, pousa o seu olhar sobre Pedro e dá sentido à quele canto. Pedro compreende e prorrompe em lágrimas. Lágrimas amargas, mas suavizadas pela recordação das palavras de Jesus: "Não vim para condenar o mundo, mas para o salvar" (Jo 12, 47). Agora repete-as aquele olhar "misericordioso e compassivo", o mesmo olhar do Pai, "tardo na ira e grande no seu amor", que "não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos castigou segundo as nossas culpas" (Sal 103/102, 8.10). Pedro abisma-se naquele olhar. Na manhã de Páscoa as lágrimas de Pedro serão lágrimas de alegria. ORAÇÃO Jesus, única esperança daqueles que, frágeis e feridos, caem; Vós conheceis o que há no interior de cada homem (Jo 2, 25). A nossa fragilidade aumenta o vosso amor e suscita o vosso perdão. Fazei que, à luz da vossa misericórdia, reconheçamos os nossos passos falsos e, salvos pelo vosso amor, proclamemos as maravilhas da vossa graça. Concedei a quantos exercem autoridade sobre os irmãos que se gloriem, não de ter sido escolhidos, mas da sua fragilidade pela qual habite neles a vossa força (II Cor 12, 9). Jesus, pousando o olhar sobre Pedro, suscitais lágrimas amargas de arrependimento, rio de paz de um novo baptismo. R/. A Vós o louvor e a glória para sempre. Todos: Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo. Quæ mærebat et dolebat, pia Mater, dum videbat Nati pÅ“nas incliti. QUINTA ESTAÇÃO Jesus é julgado por Pilatos V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi. R/. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum. Evangelho segundo São Lucas 23, 13-25 Pilatos convocou os prÃncipes dos sacerdotes, os chefes e o povo, e disse-lhes: "Trouxestes este Homem à minha presença como andando a revoltar o povo. Interroguei-O diante de vós e não encontrei n'Ele nenhum dos crimes de que O acusais. Herodes tão-pouco, visto que no-Lo mandou de novo. Como vedes, Ele nada praticou que mereça a morte. Vou, portanto, libertá-Lo, depois de O castigar". (...) E todos se puseram a gritar: "Dá morte a esse e solta-nos Barrabás!" Este último foi metido na prisão por causa de uma insurreição desencadeada na cidade e por um homicÃdio. De novo Pilatos lhes dirigiu a palavra, querendo libertar Jesus. Mas eles gritavam: "Crucifica-O! Crucifica-O!" Pilatos disse-lhes pela terceira vez: "Que mal fez ele então? Nada encontrei n'Ele que mereça a morte. Libertá-Lo-ei, portanto, depois de O castigar". Mas eles insistiam em altos brados, pedindo que fosse crucificado, e os seus clamores aumentavam de violência. Pilatos, então, decretou que se fizesse o que eles pediam. Libertou o que fora preso por sedição e homicÃdio como eles reclamavam, e entregou-lhes Jesus para o que eles queriam. MEDITAÇÃO Um homem sem culpa alguma está diante de Pilatos. A lei e o direito cedem ao arbÃtrio de um poder totalitário, que procura o consenso das multidões. Num mundo injusto, o justo não pode senão ser rejeitado e condenado. Viva o homicida, morra Aquele que dá a vida. Liberte-se Bar-Abbà , o insurrecto chamado "filho do Pai", seja crucificado Aquele que revelou o Pai e é o verdadeiro Filho do Pai. Outros, não Jesus, são os agitadores do povo. Outros, não Jesus, fizeram o que é mal aos olhos de Deus. Mas o poder teme pela sua própria autoridade, renuncia à credibilidade que lhe vem de praticar a justiça, e abdica. Pilatos, a autoridade que tem poder de vida e de morte, Pilatos, que não hesitara em sufocar no sangue focos de revolta (Lc 13, 1), Pilatos, que governava com mão de ferro aquela obscura provÃncia do Império, sonhando domÃnios mais amplos, abdica, entrega um inocente, e com ele a própria autoridade, a uma multidão / vociferante. Aquele que no silêncio Se tinha abandonado à vontade do Pai acaba assim abandonado à vontade de quem grita mais forte. ORAÇÃO Jesus, cordeiro inocente levado ao matadouro (Is 53, 7) para tirar o pecado do mundo (Jo 1, 29), dirigi o vosso olhar de ternura para todos os inocentes perseguidos, aos prisioneiros que gemem em cárceres infames, à s vÃtimas do amor pelos oprimidos e pela justiça, a quantos não entrevêem o fim de um longa pena não merecida. A vossa presença, intimamente sentida, suavize a sua amargura e dissipe a escuridão da prisão. Fazei que nunca nos resignemos a ver em cadeias a liberdade que destes a todo o homem, criado à vossa imagem e semelhança. Jesus, manso rei de um reino de justiça e de paz, resplandeceis vestido com um manto de púrpura: o vosso sangue derramado por amor. R/. A Vós o louvor e a glória para sempre. Todos: Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo. Quis est homo qui non fleret, Matrem Christi si videret in tanto supplicio? SEXTA ESTAÇÃO Jesus é flagelado e coroado de espinhos V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi. R/. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum. Evangelhos segundo São Lucas e São João Lc 22, 63-65; Jo 19, 2-3 Entretanto os que guardavam Jesus troçavam d'Ele e maltratavam-n'O. Cobriam-Lhe o rosto e perguntavam-Lhe: "Adivinha! Quem Te bateu?" E muitos outros insultos proferiram contra Ele. E os soldados, depois de tecerem uma coroa com espinhos, puseram-Lha na cabeça e envolveram-n'O com um manto de púrpura. Depois avançavam para Ele e diziam: "Salve, ó Rei dos Judeus"! MEDITAÇÃO À inÃqua condenação junta-se o ultraje da flagelação. Entregue nas mãos dos homens, o corpo de Jesus é desfigurado. Aquele corpo recebido da Virgem Maria, que fazia de Jesus "o mais belo dos filhos dos homens", que irradiava a unção da Palavra - "em teus lábios se derramou a graça" (Sal 45/44, 3) -, é agora cruelmente dilacerado pelo azorrague. O rosto transfigurado no Tabor é desfigurado no pretório: rosto de quem, insultado, não responde de quem, flagelado, perdoa de quem, tornado escravo sem nome, liberta a quantos jazem na escravidão. Jesus avança decididamente pelo caminho da dor, cumprindo na carne viva, que se torna viva voz, a profecia de IsaÃas: "Aos que Me feriam apresentei as costas, e a minha face aos que Me arrancavam a barba: não desviei o meu rosto dos que Me ultrajavam e cuspiam" (Is 50, 6). Profecia que se abre para um futuro de transfiguração. ORAÇÃO Jesus, "resplendor da glória do Pai e imagem da sua substância" (Heb 1, 3), aceitastes ser reduzido a um frangalho humano, um condenado ao suplÃcio, que dá pena. Tomastes sobre Vós os nossos sofrimentos, tÃnheis carregado as nossas dores, éreis esmagado pelas nossas iniquidades (Is 53, 4-5). Com as vossas feridas, sarai as feridas dos nossos pecados. Concedei a quantos são injustamente desprezados e marginalizados, a quantos foram desfigurados pela tortura ou pela doença, compreender que, crucificados convosco e como Vós para o mundo (Gal 2, 19), completam o que falta à vossa Paixão para a salvação do homem (Col 1, 24). Jesus, pedaço de humanidade profanada, em Vós se revela a sacralidade do homem: arca do amor que paga o mal com o bem. R/. A Vós o louvor e a glória para sempre. Todos: Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo. Pro peccatis suae gentis vidit Iesum in tormentis et flagellis subditum. SÉTIMA ESTAÇÃO Jesus é carregado com a Cruz V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi. R/. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum. Evangelho segundo São Marcos 15, 20 Depois de O terem escarnecido, tiraram-Lhe o manto de púrpura e vestiram-Lhe as suas roupas. Levaram-n'O, então, para fora para O crucificarem. MEDITAÇÃO Fora. O justo, injustamente condenado, deve morrer fora: fora do acampamento, fora da cidade santa, fora da sociedade humana. Os soldados despojam-n'O e revestem-n'O: Ele já não pode dispor sequer do seu próprio corpo. Carregam-Lhe sobre os ombros um madeiro, parte pesada do patÃbulo, sinal de maldição e instrumento de execução capital. Madeiro de ignomÃnia, que pesa, como fardo extenuante, sobre os ombros curvados de Jesus. O ódio, de que está impregnado, torna insuportável o seu peso. E no entanto aquele madeiro da cruz é resgatado por Jesus, torna-se sinal de uma existência vivida e oferecida por amor dos homens. Segundo a tradição, Jesus vacila, por três vezes cairá sob aquele peso. Jesus não pôs limites ao seu amor: "tendo amado os seus, amou-os até ao fim" (Jo 13, 1). Obediente à palavra do Pai - "Amarás ao Senhor, teu Deus, com todas as tuas forças " (Dt 6, 5) - amou a Deus e cumpriu a sua vontade até ao fim. ORAÇÃO Jesus, rei da glória, coroado de espinhos, curvado sob o peso da cruz que mãos humanas prepararam para Vós, imprimi em nossos corações a imagem do vosso rosto coberto de sangue, para nos recordar que nos amastes até Vos entregardes Vós mesmo por nós / (Gal 2, 20). Que o nosso olhar nunca se separe do sinal da nossa salvação, erguido no coração do mundo, para que, contemplando-o e crendo em Vós, não nos percamos, mas tenhamos a vida eterna (Jo 3, 14-16). Jesus, sobre os vossos ombros dilacerados pesa o patÃbulo ignóbil: por vosso merecimento a cruz torna-se constelação de gemas e a árvore do ParaÃso volta a ser árvore da Vida. R/. A Vós o louvor e a glória para sempre. Todos: Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo. Quis non posset contristari, Christi Matrem contemplari, dolentem cum Filio? OITAVA ESTAÇÃO Jesus é ajudado pelo Cireneu a levar a Cruz V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi. R/. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum. Evangelho segundo São Lucas 23, 26 Quando O iam conduzindo, lançaram mão de um certo Simão de Cirene, que voltava do campo, e carregaram-no com a cruz, para a levar atrás de Jesus. MEDITAÇÃO Ainda não brilham no céu as primeiras estrelas que anunciam o sábado, mas Simão já regressa a casa do trabalho nos campos. Soldados pagãos, que nada sabem do repouso do sábado, detêm-no. Colocam sobre os seus ombros robustos aquela cruz que outros tinham prometido levar dia após dia atrás de Jesus. Simão não escolhe: recebe uma ordem, sem saber ainda que acolhe um dom. É tÃpico dos pobres nada poderem escolher, nem sequer o peso dos próprios sofrimentos. Mas é caracterÃstico dos pobres ajudar outros pobres, e ali está um mais pobre que Simão: está para ser privado até mesmo da vida. Ajudar sem fazer perguntas, sem demandar porquê: demasiado pesado o peso para o outro, os meus ombros, porém, ainda o regem. E isto basta. Virá o dia em que o mais pobre dos pobres dirá ao companheiro: "Vem, bendito de meu Pai, entra na minha alegria: estava esmagado sob o peso da cruz e tu Me aliviaste". ORAÇÃO Jesus, tomastes resolutamente o caminho que conduz a Jerusalém (Lc 9, 51); os vossos sofrimentos tornaram-Vos o guia dos homens pelo caminho da salvação (Heb 2, 10). Sois o nosso precursor pela estrada da vossa Páscoa (Heb 6, 20). Vinde em ajuda de todos aqueles que, conscientemente ou constrangidos por factos obscuros, seguem os vossos passos, Vós que dissestes: "Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados" (Mt 5, 4), Jesus, aliviado do peso da cruz por Simão de Cirene, para que ele, ignaro companheiro no caminho do sofrimento, se tornasse vosso amigo e hóspede na morada da glória eterna. R/. A Vós o louvor e a glória para sempre. Todos: Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo. Tui Nati vulnerati, tam dignati pro me pati, poenas mecum divide. NONA ESTAÇÃO Jesus encontra as mulheres de Jerusalém V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi. R/. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum. Evangelho segundo São Lucas 23, 27-31 Seguiam-n'O uma grande massa de povo e umas mulheres que se lamentavam e choravam por Ele. Jesus voltou-Se para elas e disse-lhes: "Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim, chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos, pois virão dias em que se dirá: 'Felizes as estéreis, os ventres que não geraram e os peitos que não amamentaram'. Hão-de então dizer aos montes: 'Caà sobre nós!', e à s colinas: 'Cobri-nos'. Porque se tratam assim a madeira verde, o que acontecerá à seca?" MEDITAÇÃO O cortejo do condenado avança. Como escolta: soldados e um punhado de mulheres em lágrimas, mulheres que subiram da Galileia a Jerusalém com Ele e os discÃpulos. Conhecem aquele homem. Ouviram a sua palavra de vida, amam-n'O como mestre e profeta. Esperavam que fosse Ele quem havia de libertar Israel? (Lc 24, 21). Não o sabemos, mas agora choram por aquele homem como se chora por uma pessoa amada, como Ele tinha chorado pelo amigo Lázaro. Ele irmana-as no seu sofrimento, uma nova luz ilumina a dor que sentem. A voz de Jesus fala de juÃzo, mas chama à conversão; anuncia sofrimentos, mas como as dores de um parto. A madeira verde há-de reaver a vida e a madeira seca terá parte nela. ORAÇÃO Jesus, rei glorioso, coroado de espinhos, o rosto coberto de sangue e escarros, ensinai-nos a buscar incessantemente o vosso rosto (Sal 27/26, 8) para que a sua luz ilumine o nosso caminho (Sal 89/88, 16); ensinai-nos a discerni-lo sob os traços do homem ferido pela doença, prostrado pelo desânimo, envilecido pela injustiça. Fazei que estejam impressos nos nossos olhos os traços do vosso rosto amável, de que vossos "irmãos mais pequeninos" (Mt 25, 40) são um luminoso reflexo, sacramento da vossa presença no meio de nós. Jesus, acompanhado até à colina do Calvário por um cortejo de mulheres em lágrimas: elas conheceram o vosso rosto de luz, a vossa palavra de graça. R/. A Vós o louvor e a glória para sempre. Todos: Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo. Eia, mater, fons amoris, me sentire vim doloris fac, ut tecum lugeam. DÉCIMA ESTAÇÃO Jesus é crucificado V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi. R/. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum. Evangelho segundo São Lucas 23, 33.47b Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, crucificaram-n'O a Ele e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. (...) O centurião deu glória a Deus, dizendo: "Verdadeiramente, este homem era justo!" MEDITAÇÃO Uma colina fora da cidade, um abismo de dor e humilhação. Suspenso entre o céu e a terra está um homem: cravado na cruz, suplÃcio reservado aos amaldiçoados de Deus e dos homens. Junto d'Ele, outros condenados que já não são dignos do nome de homem. E no entanto Jesus, que sente o seu espÃrito a abandoná-Lo, não abandona os outros homens, estende os braços para acolher a todos, Ele que já ninguém quer acolher. Desfigurado pela dor, ferido pelos ultrajes, o rosto daquele homem fala ao homem de uma outra justiça. Derrotado, escarnecido, difamado aquele condenado restitui a dignidade a todo o homem: A quanta dor pode levar o amor! Por quanto amor, o resgate de toda a dor! "Verdadeiramente, aquele homem era justo" (Lc 23, 47b). ORAÇÃO Jesus, no seio do vosso povo, só um pequenino rebanho, ao qual aprouve ao Pai dar o seu Reino (Lc 12, 32), Vos reconheceu como Senhor e Salvador mas o vosso EspÃrito depressa fará deles testemunhas "em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria, e até aos confins do mundo " (Act 1, 8). Concedei à queles que pela terra inteira anunciam a vossa Palavra, ousadia (Fil 1, 14) e liberdade (Flm 8) gloriosas, pelas quais o vosso EspÃrito irrompe com a força da Páscoa e a linguagem da cruz, escândalo aos olhos do mundo, torna-se sabedoria para aqueles que acreditam (I Cor 1, 17ss). Jesus a vossa morte, oblação pura para que todos tenham a vida, revelou a vossa identidade de Filho de Deus e Filho do homem. R/. A Vós o louvor e a glória para sempre. Todos: Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo. Fac ut ardeat cor meum in amando Christum Deum, ut sibi complaceam. DÉCIMA PRIMEIRA ESTAÇÃO Jesus promete o seu Reino ao bom ladrão V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi. R/. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum. Evangelho segundo São Lucas 23, 33-34.39-43 Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, crucificaram-n'O a Ele e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. Jesus dizia: "Perdoa-lhes, ó Pai, porque não sabem o que fazem". (...)Um dos malfeitores, que tinham sido crucificados, insultava-O, dizendo: "Não és Tu o Messias? Salva-Te a Ti mesmo e a nós também". Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o: "Nem sequer temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplÃcio? Quanto a nós, fez-se justiça pois recebemos o castigo que as nossas acções mereciam, mas Ele nada praticou de condenável". E acrescentou: "Jesus, lembra-Te de mim quando estiveres no teu reino". Ele respondeu-lhe: "Em verdade te digo: Hoje estarás Comigo no ParaÃso". MEDITAÇÃO O lugar do Calvário, sepulcro de Adão, o primeiro homem, patÃbulo de Jesus, o homem novo. O madeiro da cruz, instrumento de morte exibida, arca de perdão concedido. Junto de Jesus, que passou por entre o povo fazendo o bem, dois homens condenados por terem feito o mal. Outros dois tinham pedido para estarem um à direita e outro à esquerda de / Jesus, declararam-se inclusive dispostos a sofrer o mesmo baptismo, a beber do mesmo cálice (Mc 10, 38-39). Mas, nesta hora, não estão aqui, outros os precederam no lugar do Calvário. Destes um invoca um Messias que Se salve a Si mesmo e a eles dois, ali e já, o outro recomenda-se a Jesus para que Se lembre dele quando entrar no seu Reino. Quem compartilha as zombarias da multidão não recebe resposta, quem reconhece a inocência de um condenado à morte obtém uma promessa imediata de vida. ORAÇÃO Jesus, amigo dos pecadores e dos publicanos (Mt 9, 11; 11, 19; Lc 15, 1-2), Vós viestes salvar, não os justos, mas os pecadores (Mt 9, 13) e quisestes dar-nos a prova do vosso "amor desmedido" (Ef 2, 4 Vulgata) e da abundância da vossa misericórdia, aceitando morrer por nós quando éramos ainda pecadores (Rom 5, 8). Pousai sobre nós o vosso olhar de bondade e, depois de termos saboreado a amargura purificadora da humilhação, acolhei-nos nos vossos braços, seguros da misericórdia paterna, e transformai com o vosso perdão a lama do pecado em veste de glória. Jesus, proclamado inocente por um malfeitor, companheiro de pena: para Vós e para o vosso companheiro chegou a hora de entrar no Reino. R/. A Vós o louvor e a glória para sempre. Todos: Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo. Sancta Mater, istud agas, Crucifixi fige plagas cordi meo valide. DÉCIMA SEGUNDA ESTAÇÃO Jesus na Cruz, a Mãe e o DiscÃpulo V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi. R/. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum. Evangelho segundo São João 19, 25-27 Junto da cruz de Jesus, estavam sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas e Maria de Magdala. Ao ver sua mãe e, junto dela, o discÃpulo que Ele amava, Jesus disse a sua mãe: "Mulher, eis aà o teu filho". Depois disse ao discÃpulo: "Eis aà a tua mãe". E, desde aquela hora, o discÃpulo recebeu-A em sua casa. MEDITAÇÃO Em redor da cruz, gritos de ódio, ao pé da cruz, presenças de amor. Está ali, firme, a mãe de Jesus. Com ela, outras mulheres, unidas no amor pelo moribundo. Junto dela, o discÃpulo amado, não outros. Só o amor soube superar todos os obstáculos, só o amor perseverou até ao fim, só o amor gera outro amor. E ali, aos pés da cruz, nasce uma nova comunidade, ali, no lugar da morte, surge um novo espaço de vida: Maria acolhe o discÃpulo como filho, o discÃpulo amado acolhe Maria como mãe. "Acolheu-a como um dos seus bens mais queridos" (Jo 19, 27), tesouro inalienável do qual se fez guardião. Só o amor pode guardar o amor, só o amor é mais forte do que a morte (Ct 8, 6). ORAÇÃO Jesus, Filho dilecto do Pai, aos tormentos sofridos na cruz junta-se o de ver junto de Vós a vossa Mãe abatida pela dor. Confiamo-Vos a desolação e a revolta dos pais desvairados diante dos sofrimentos ou da morte de um filho; confiamo-Vos o desalento de tantos órfãos, de filhos abandonados ou deixados sozinhos. Vós estais presente nos seus sofrimentos como o estáveis na cruz, junto da Virgem Maria. Venha o dia do encontro, quando toda a lágrima será enxugada e a alegria não terá fim. Jesus, moribundo na cruz confiais a Mãe ao Dilecto, o Apóstolo virgem, à Virgem pura que Vos trouxe no seio, R/. A Vós o louvor e a glória para sempre. Todos: Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo. Fac me vere tecum flere, Crucifixo condolere, donec ego vixero. DÉCIMA TERCEIRA ESTAÇÃO Jesus morre na Cruz V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi. R/. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum. Evangelho segundo São Lucas 23, 44-46 Por volta da hora sexta, as trevas cobriram toda a terra, até à hora nona, por o sol se haver eclipsado. O véu do Templo rasgou-se ao meio, e Jesus exclamou, dando um grande grito: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espÃrito". Dito isto, expirou. MEDITAÇÃO Depois da agonia do Getsémani, Jesus, na cruz, está de novo diante do Pai. No auge de um sofrimento indizÃvel, Jesus volta-Se para Ele, reza-Lhe. A sua oração é primeiramente uma imploração de misericórdia para os algozes. Depois, aplicação a Si mesmo da palavra profética dos Salmos: manifestação de um sentimento de abandono dilacerante, que chega no momento crucial, quando se experimenta com todo o ser o desespero a que conduz o pecado que separa de Deus. Jesus bebeu até à s borras o cálice da amargura. Mas daquele abismo de sofrimento eleva-se um grito que rompe a desolação: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espÃrito" (Lc 23, 46). E o sentimento de abandono muda-se em entrega nos braços do Pai; o último respiro do moribundo torna-se grito de vitória, a humanidade, que se afastara na vertigem da auto-suficiência, é de novo acolhida pelo Pai. ORAÇÃO Jesus, irmão nosso, com a vossa morte reabristes-nos a estrada que a culpa de Adão fechara. Precedestes-nos no caminho que conduz da morte à vida (Heb 6, 20). Tomastes sobre Vós o medo e os tormentos da morte, mudando radicalmente o seu sentido: invertestes o desespero que eles provocam, fazendo da morte um encontro de amor. Confortai aqueles que hoje estão para empreender o mesmo caminho que Vós. Tranquilizai aqueles que procuram evitar o pensamento da morte. E quando chegar para nós também a hora dramática e bendita, acolhei-nos na vossa alegria eterna, não por causa dos nossos méritos, mas em virtude das maravilhas que a vossa graça realiza em nós. Jesus, ao exalar o último respiro, entregais a vida nas mãos do Pai e derramais sobre a Esposa o dom vivificante do EspÃrito. R/. A Vós o louvor e a glória para sempre. Todos: Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo. Vidit suum dulcem Natum morientem, desolatum, cum emisit spiritum. DÉCIMA QUARTA ESTAÇÃO Jesus é depositado no sepulcro V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi. R/. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum. Evangelho segundo São Lucas 23, 50-54 Um membro do Conselho, chamado José, homem recto e justo, não tinha concordado com a decisão nem com o procedimento dos outros. Era natural de Arimateia, cidade da Judeia, e esperava o Reino de Deus. Foi ter com Pilatos, pediu-lhe o corpo de Jesus e, descendo-o da cruz, envolveu-O num lençol e depositou-O num sepulcro talhado na rocha, onde ainda ninguém tinha sido sepultado. Era o dia da Preparação e já brilhavam as luzes do sábado. MEDITAÇÃO Primeiras luzes do sábado. Aquele que era a luz do mundo desce ao reino das trevas. O corpo de Jesus é engolido pela terra, e com ele é engolida toda a esperança. Mas a sua descida à mansão dos mortos não é uma descida para a morte mas para a vida. É para reduzir à impotência aquele que detinha o poder da morte, o diabo / (Heb 2, 14), para destruir o último inimigo do homem, a própria morte (I Cor 15, 26), para fazer resplandecer a vida e a imortalidade (II Tim 1, 10), para anunciar a boa nova aos espÃritos prisioneiros (I Ped 3, 19). Jesus desce até alcançar o primeiro casal humano, Adão e Eva, curvados sob o fardo da sua culpa. Jesus estende-lhes a mão e o rosto deles ilumina-se com a glória da ressurreição. O primeiro Adão e o Último são parecidos e reconhecem-se; o primeiro reencontra a própria imagem n'Aquele que havia de vir um dia libertá-lo juntamente com todos os outros (Gen 1, 26). Aquele Dia finalmente chegou. Agora, em Jesus, cada morte pode, a partir daquele momento, desaguar na vida. ORAÇÃO Jesus, Senhor rico de misericórdia, fizestes-Vos homem para Vos tornar nosso irmão, e, com a vossa morte, vencer a morte. Descestes aos infernos para libertar a humanidade, para fazer-nos novamente viver convosco, ressuscitados chamados a sentar-se nos Céus junto de Vós (cf. Ef 2, 4-6). Bom Pastor, que nos guiais à s águas tranquilas, tomai-nos pela mão ao atravessarmos as sombras da morte (Sal 23/22, 2-4), para ficarmos convosco e contemplar eternamente a vossa glória (Jo 17, 24). Jesus, envolvido num lençol e depositado no sepulcro, esperai que, rolada a pedra, o silêncio da morte seja quebrado pelo júbilo do aleluia perene. R/. A Vós o louvor e a glória para sempre. Todos: Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo. Quando corpus morietur fac ut animae donetur paradisi gloria. Amen. O Santo Padre fala aos presentes. No final do discurso, o Santo Padre dá a Bênção Apostólica: V/. Dominus vobiscum. R/. Et cum spiritu tuo. V/. Sit nomen Domini benedictum. R/. Ex hoc nunc et usque in sæculum. V/. Adiutorium nostrum in nomine Domini. R/. Qui fecit cælum et terram. V/. Benedicat vos omnipotens Deus, Pater a et Filius a et Spiritus a Sanctus. R/. Amen. [Tradução distribuÃda pela Santa Sé] Semana Santa Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...