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Mensagem de D. Jorge Ortiga para o Dia Mundial de Luta Contra a Droga

D. Jorge Ortiga
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A história apresenta momentos dramáticos e repletos de perplexidade. São muitos os problemas com que a humanidade se deparou. Em épocas passadas reconhecemos períodos dum alto adormecimento. Parecia que tudo concorria para aceitar o inevitável das catástrofes. Muitos iam tecendo o elogio fúnebre e resignavam-se perante o peso das contingências. Acontece, porém, que sempre surgiram grupos que ousaram parar, reflectir, propor e reagir. Os Profetas multiplicaram-se como homens e mulheres que souberam ler e indicar um sentido diferente. Creio que está aqui a verdadeira resposta para o flagelo da Droga. Não basta resignar-se; urge reagir a partir de minorias conscientes e responsáveis que conhecem o verdadeiro estatuto da humanidade e investem na sua proposta. Poderá parecer um sistema lento e ineficaz. Acredito que seja a semente para uma humanidade nova na sua globalidade. Como semente é pequena e terá de passar pelo desencanto de desaparecer. Surgirá a hora do seu reconhecimento. Nesta perspectiva torna-se urgente regressar, com o testemunho e realização de iniciativas variadas, ao primado do ser. A sociedade moderna aponta para o ter, para o consumo, para o prazer imediato sem pensar nas consequências. Só uma “revolução†de interioridade alicerçada nos princípios de um humanismo sadio e íntegro pode proporcionar as condições necessárias e capazes de criar um dinamismo de forças que agem contra-corrente. Parece-me fácil gastar energias e dinheiro em equações de cosmética no âmbito social, individual ou familiar. Só entrando nas consciências se conseguirá alterar o rumo dos acontecimentos. O fascínio da publicidade deve ser substituído pelo caminhar silencioso de quem propõem princípios identificativos da nossa identidade. Aqui emerge a matriz cristã que fez a nossa história e a marcou com a tal força que resolveu calamidades e dramas. Podem não querer falar de Cristo e da Sua mensagem. É secundário. Importa que a sua existência com tudo quanto trouxe de novo à humanidade continue a ser assumido na vida pessoal e inter relacional. Todos reconhecem a crise de referências. Não estará aqui a proposta que estabelece verdadeira qualidade ao humano? Sei que a igreja deve ter a coragem de rever a sua linguagem sem trair o seu conteúdo. Poderemos precisar de palavras “novas†e ditas de um modo novo. Os princípios permanecerão inalteráveis como critério dum humanismo que reconhece os valores do passado e lhe concede uma modernidade sedutora. O cristianismo nunca poderá ser uma realidade meramente privada e subjectiva. Deve manifestar-se. Só que, por outro lado, deverá readquirir, para oferecer, uma grande carga de espiritualidade para possuir a capacidade de influenciar as pessoas. Situando-nos no campo da droga, direi que é imperioso este humanismo novo - que entre nós tem uma identificação cristã – para motivar por dentro de tal modo que ninguém se deixe entusiasmar por experiências propostas por amigos e oferecidas por exploradores que todos reconhecem como tal mas não são capazes de reagir. De dentro nasce a coragem de optar por um caminho de autenticidade com a respectiva força para reagir. Sejamos, por isso, capazes de – talvez sem falar de Cristo – propor este tipo de homem novo que foi de ontem, de hoje e de sempre. Poderá parecer utopia. A história continua a sugerir que se trata do único caminho. + Jorge Ortiga Arcebispo Primaz


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