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Mensagem de Natal de D. Ant贸nio Carrilho, Bispo do Funchal

D. Ant贸nio Jos茅 Cavaco Carrilho
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Homilia da Missa da Meia-Noite

鈥淥 Verbo fez-se carne e habitou entre n贸s鈥 (Jo 1, 14) Nesta santa noite de Natal, fazemos mem贸ria e celebramos, com indiz铆vel j煤bilo, o 鈥渉oje eterno鈥 de Deus e o seu admir谩vel amor pela humanidade, manifestado na Incarna莽茫o do Verbo. O rosto e o cora莽茫o do Verbo, a Palavra Eterna de Deus, s茫o de Menino, cheio de gra莽a e de verdade. 鈥溍 da sua plenitude que todos n贸s recebemos gra莽a sobre gra莽a鈥 (Jo 1, 16). Na primeira leitura, Isa铆as surpreende-nos com uma luz fulgurante, cumprimento das promessas do Deus forte, que vence todas as noites, medos, guerras e tristezas, e enche de renovada alegria o seu Povo. Na jubilosa narra莽茫o do maior Profeta messi芒nico, 鈥渙 Salvador de Israel tem o poder sobre os ombros e manifesta-se numa paz sem fim. 脡 o Conselheiro admir谩vel, Deus valoroso, Pr铆ncipe da Paz鈥 (Is 9, 5). Na segunda leitura, S. Paulo, o grande Ap贸stolo da Palavra, cujo jubileu estamos a celebrar em toda a Igreja, fala-nos da gra莽a de Deus, que traz 鈥渁 salva莽茫o a todos os homens鈥. Na plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho ao mundo para o salvar. Perante o testemunho irrecus谩vel da suprema caridade de Cristo, na doa莽茫o da pr贸pria vida, sinal do seu amor at茅 ao fim, urge renunciar aos desejos mundanos e a viver em comunh茫o com Ele. 鈥淎o ver o mundo oprimido pelo temor, Deus procura continuamente cham谩-lo com amor: convida-o com a sua gra莽a, atrai-o com a sua caridade, abra莽a-o com o seu afecto鈥 (S. Pedro Cris贸logo). A s谩bia pena de S茫o Lucas faz-nos uma narra莽茫o interessante sobre o nascimento de Cristo, rica em pormenores, como acabamos de escutar no Evangelho desta noite. 脡 a Boa Nova de Deus, que se integra na hist贸ria da Humanidade, assumindo eventos concretos, como o de um recenseamento romano. Na mais completa pobreza, naquela agitada noite de Bel茅m, nasce o filho de Deus, que Maria envolve em panos e coloca numa manjedoura. Admir谩vel mist茅rio do insond谩vel amor de Deus pela Humanidade! Jesus Cristo 鈥 O Rosto da Palavra Eterna do Pai Hoje, somos todos convidados a entrar na gruta, transformada em catedral de Luz, e a contemplar, nesta divina claridade, com os olhos de Maria, o Menino de Bel茅m, deitado sobre pobres palhas. 鈥淥 Verbo era a Luz verdadeira que a todo o homem ilumina鈥 (Jo 1,9). O sil锚ncio, m煤sica de fundo, no cora莽茫o da noite, 茅 a nova linguagem do Amor, sinal de acolhimento, respeito e adora莽茫o. Nesta escuta silenciosa, em comunh茫o eclesial, louvamos e adoramos, no Esp铆rito Santo, o inef谩vel amor do Pai, que nos d谩 como presente de Natal o maior bem do mundo: o Seu Filho Unig茅nito, cheio de bondade e miseric贸rdia. Os sinais da manifesta莽茫o de Deus, por vezes, desarmam-nos. Deus baixa-se at茅 ao homem, envolto em pobres panos, e revela-se em gestos de humildade, pequenez e pobreza. Dentro de alguns instantes, nos sinais humildes do p茫o e do vinho, o mesmo Esp铆rito Santo, que, em Maria, realizou o admir谩vel mist茅rio da Encarna莽茫o do Verbo, descer谩 sobre o altar, onde o P茫o da Vida se oferece totalmente a n贸s, como outrora na manjedoura de Bel茅m. Cristo, o Verbo eterno do Pai, quis habitar no meio de n贸s para podermos contemplar a sua gl贸ria. De permeio ao sil锚ncio adorador de Maria e de Jos茅, um movimento inusitado surpreende os c茅us e as campinas de Bel茅m. Os Anjos cantam as gl贸rias do Senhor e os pastores, vigilantes, acorrem apressados ao pres茅pio. Chegou o Emanuel 鈥 o Deus connosco. O dinamismo do Natal impele-nos a olhar os c茅us para discernir a vontade de Deus e a contemplar a terra para escutar os pedidos de socorro dos irm茫os, que precisam de n贸s. 鈥溍 imposs铆vel escutar a voz de Deus sem escutar os outros, em particular o grito dos oprimidos, dos marginalizados, dos pobres desprezados, dos doentes鈥 (Bernard H盲ring). A gl贸ria de Deus 茅 o homem vivo Santo Ireneu, bispo e m谩rtir do s茅c. II, diz que 鈥渁 gl贸ria de Deus 茅 o homem vivo e a gl贸ria do homem 茅 a vis茫o de Deus. Se a revela莽茫o de Deus pela cria莽茫o j谩 d谩 vida a todos os seres, que vivem na terra, quanto mais a manifesta莽茫o pelo Verbo, d谩 vida aos que v锚em a Deus鈥! Deus envia o Seu amado Filho, para nos libertar da escravid茫o do pecado, e oferece a cada homem e a cada mulher a possibilidade de viver a plenitude da Vida n鈥橢le. 鈥淒eus amou de tal maneira o mundo que enviou o Seu Filho Unig茅nito para o salvar鈥(Jo 3, 16)! A grandeza deste Amor sublime enche-nos de assombro e gratid茫o, porque Deus, para nos enriquecer e engrandecer, revestiu-Se da natureza humana e fez a Sua tenda entre n贸s. Um rico patrim贸nio espiritual e cultural Verifiquei, com muita alegria, no ano passado e neste ano tamb茅m, que o Natal do Senhor, nas Ilhas da Madeira e do Porto Santo, 茅 a festa religiosa por excel锚ncia deste povo, profundamente religioso, que celebra o nascimento de Cristo com extraordin谩ria alegria e entusiasmo. Admirei as vossas belas tradi莽玫es religiosas com ra铆zes franciscanas sobre 鈥渁 festa鈥, e que deveis conservar sempre cuidadosamente. O Natal 茅, de facto, a grande festa, porque 茅, na verdade, o in铆cio de todo o mist茅rio da Reden莽茫o! Esta grande riqueza tradicional perdura atrav茅s de gera莽玫es, inclusive nos nossos emigrantes, que, longe da sua terra, continuam a celebr谩-las no estrangeiro, suspirando ansiosamente por um dia voltar. Al茅m das luzes e ornamentos natal铆cios, que embelezam as nossas ruas e as nossas casas, a alegria, a saudade e o amor juntam as nossas fam铆lias, vizinhos e amigos, em saud谩vel conv铆vio fraterno. Continuai a manter, nas vossas casas, a secular tradi莽茫o de 鈥渇azer a lapinha鈥. Preparada com escadinhas e r茅plicas dos nossos socalcos, s茫o preenchidas com frutos e 鈥渟earinhas鈥, tendo ao cimo o Menino Jesus, de p茅, a presidir 脿 vida familiar. Todos estes gestos simples, de profundo significado, unem o passado e o presente. 脡 o tempo da 鈥渇esta鈥, que se prolonga durante a oitava do Natal, como se fosse um s贸 dia. O mist茅rio do Natal deve acontecer, todos os dias, na nossa vida! A explos茫o de consumismo, que se verifica nesta 茅poca natal铆cia, n茫o conseguiu demover os nossos crist茫os de participar nas 鈥淢issas do Parto鈥, o noven谩rio que, na rica tradi莽茫o madeirense, precede a prepara莽茫o para o Natal de Jesus. 脡 belo contemplar a viv锚ncia da f茅 do nosso povo, que, de manh茫zinha, desafiando o frio e ou a chuva, aflui, com grande entusiasmo e j煤bilo, 脿s nossas igrejas. Sauda莽茫o natal铆cia Caros diocesanos e amigos, apesar da crise global que se faz sentir por todo o lado, prosseguimos com esperan莽a, celebrando com alegria o Filho Unig茅nito de Deus e da Virgem Maria, que 茅 fiel 脿s suas promessas e jamais abandona o homem nos seus problemas ou infidelidades. 鈥淣茫o haja tristeza na noite em que nasce a Vida鈥 (S. Le茫o Magno) e n茫o tenham medo do Menino ao colo de sua M茫e, porque, vos anuncio uma grande alegria: 鈥渉oje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador鈥 (Lc 2, 11)! Neste Natal, sa煤do com profunda alegria e sincero afecto no Deus Menino o nosso povo da Madeira e Porto Santo, as nossas comunidades emigrantes e, ainda, todas as pessoas que nos visitam, atra铆das por este lindo pres茅pio, que 茅 a Ilha da Madeira, e apreciam as nossas tradi莽玫es. Recordamos, com profunda saudade e amor, os nossos queridos irm茫os, que j谩 partiram e contemplam, na Luz eterna, o Rosto de Jesus Menino. Lembro particularmente as fam铆lias, marcadas pelo sofrimento, os doentes, os pobres e desempregados, os que perderam o sentido da vida, as crian莽as, os jovens e os idosos. Que o Menino de Bel茅m a todos envolva na sua Luz e na sua Paz! Boas Festas! Alegria! Santo e Feliz Natal! S茅 do Funchal, 25 de Dezembro de 2008 鈥 Ant贸nio Carrilho, Bispo do Funchal


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