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Mensagem de Natal do Bispo de Angra

Diocese de Angra
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S. Paulo exprime assim o Mistério do Natal de Jesus: «Manifestou-se a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens, ensinando-nos (…) a viver neste mundo com sobriedade, justiça e piedade» (Tito 2, 11-12). Hoje, mais do que nunca, o mundo clama pelo Salvador, sente a necessidade de um caminho que garanta a convivência pacífica entre os homens. 1. Ora bem, no Natal de Jesus, celebramos a Encarnação de Deus, a vinda do Filho de Deus ao mundo, na fragilidade da condição humana, para reunir o que estava disperso e tornar possível a fraternidade universal. As circunstâncias do Natal de Jesus em Belém, os gestos e estilo de vida ao longo da Sua existência, culminando no drama da cruz, indicam-nos que o único caminho de realização humana e de convivência justa e pacífica entre os povos passa pela humildade, a expressão mais radical do amor. Sem o que não há verdadeira justiça. Escandaliza-nos de algum modo esta debilidade do Deus Incarnado, feito Menino na pobreza da gruta de Belém. Não é senão o caminho da humildade, a mais radical expressão do amor. Mas não há nada mais desarmado do que o amor. É a lição que nos vem do presépio de Belém, onde se põe em marcha a história nova da humanidade. 2. Neste mundo conturbado em que vivemos, com uma grande incerteza em relação ao futuro, precisamos de uma palavra de esperança certa. Ela vem-nos desta certeza de fé: o Senhor veio na pobreza de Belém e virá glorioso no final dos tempos; vem continuamente ao nosso encontro: «Ele está no meio de nós». Na singeleza dos sinais sacramentais e nos acontecimentos da vida. É Caminho, Verdade e Vida. Levantai as vossas cabeças, está perto a vossa libertação! Completou-se o tempo; o Reino de Deus já chegou! Preparai os seus caminhos, endireitai as veredas tortuosas da vida, abatei as colinas da soberba e preenchei os vales do desânimo. Quanto mais funda é a noite, tanto mais perto está a aurora. A humanidade não está num beco sem saída. Na noite de Natal, para o povo, que andava nas trevas, uma luz começou a brilhar. Eis a Boa Nova, que nos vem da gruta de Belém, expressa nas palavras do Anjo aos pastores: nasceu-vos hoje o Salvador. 3. Natal é hoje. Preparar os caminhos do Senhor é procurar viver as três atitudes, assinaladas por S. Paulo: sobriedade, justiça e piedade. Vêm aí tempos difíceis, que vão exigir mudanças de hábitos, uma verdadeira conversão, na maneira de ser e de agir. a) A crise financeira, que alastra pelo mundo, vem mostrar-nos que é preciso ultrapassar a cultura do mero consumismo, com estilos de vida mais sóbrios e austeros. É evidente que se exigem da parte dos responsáveis maior rigor e controlo, mais honestidade e competência, mas também da parte de todos uma cultura da solidariedade, para que haja lugar para todos no banquete da vida. É o que nos recomenda o Papa, na Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2009, em que exorta a comunidade cristã a «assegurar o seu apoio à família humana inteira, nos seus impulsos de solidariedade criativa, tendentes, não só a partilhar o supérfluo, mas sobretudo a alterar os estilos de vida, os modelos de produção e de consumo, as estruturas consolidadas de poder, que hoje regem as sociedades…» (Bento XVI, Mensagem para o Dia Mundial da Paz, 2009, nº15). b) Combater a pobreza é construir a paz - remata o Papa Bento. A crise vai penalizar, sobretudo, os mais pobres. Temos de abrir o nosso coração à caridade, que é o nome cristão do amor, baseado na justiça, o primeiro degrau do verdadeiro amor do próximo. Não podemos calar a nossa consciência, distribuindo as migalhas que caem das nossas mesas fartas, furtando-nos ao que é devido por justiça. Os pobres e excluídos clamam por justiça. O Deus Menino, nascido em Belém, está da parte deles. c) Ele veio ao mundo, para tornar possível, uma sociedade mais justa, solidária e fraterna. Por isso, S. Paulo exorta a viver com piedade. O que significa construir a vida com Deus, segundo a Sua vontade e o Seu desígnio de Amor, que é a vida com abundância para todos. Com o Natal de Jesus, Deus estabeleceu a Sua tenda no meio de nós. No Menino do presépio, Ele é o Emanuel, Deus connosco e por nós. Sem Ele, não há futuro para a humanidade. Quando não há lugar para Ele, inviabiliza-se o verdadeiro humanismo. Deus humaniza a nossa existência. Não se trata, pois, de buscar a Deus nas nuvens, mas na terra dos homens, vivendo com sobriedade, justiça e piedade. E será Natal. Também hoje. E apesar de tudo. Boas Festas de Natal, na alegria e esperança do Deus-Menino! + António, Bispo de Angra


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