Mensagem de Natal do Cardeal-Patriarca de Lisboa D. José Policarpo 25 de Dezembro de 2004, às 10:59 ... Senhores telespectadores ou radio-ouvintes, É com alegria e amizade que vos dirijo a palavra, em nome da Igreja, nesta noite de Natal. Gostaria de poder contribuir para que a paz e a esperança encham os vossos corações. A experiência de uma paz profunda, que desabrocha na alegria e na esperança, está ligada ao nascimento de Jesus, desde a Gruta de Belém: Glória a Deus nos Céus e paz na Terra para os homens que Deus visita. A alegria dos pastores tinha um antecedente: durante séculos os crentes de Israel desejaram e esperaram que Deus os visitasse e se manifestasse próximo, numa intimidade de amor. Tantas vezes, nos momentos de angústia ou de alegria, os crentes clamaram: “Vinde Senhorâ€; abra-se a terra e brote o Salvador. Naquela noite, em Belém, os pastores reconheceram, naquele Menino, o Messias esperado, o Emanuel, isto é, o Deus próximo, o Deus no meio do Seu Povo. Sempre que a esperança se concretiza, a alegria é o seu fruto. E naquele momento dos seus corações brotou uma outra prece: “fica connosco Senhorâ€. Esta é a oração da Igreja, sempre que sente o Senhor presente, a envolver-nos na Sua luz e no Seu amor. Foi a atitude espontânea de Pedro, Tiago e João, no monte Tabor, perante a glória de Jesus transfigurado: que bom é estarmos aqui; façamos três tendas. Depois da Páscoa, os discÃpulos de Emaús, perante o mistério d’Aquele companheiro desconhecido, pedem-lhe: faz-se noite, fica connosco. E João Paulo II, ao proclamar o Ano da Eucaristia, começa a Carta Apostólica com a mesma oração: “Fica connosco Senhorâ€. Duas preces, um mesmo desejo: o de ter Deus próximo, a conviver connosco, ajudando-nos, em cada momento, a descobrir a profundidade do caminho da vida. E Deus tornou-se próximo de todos os homens em Jesus Cristo. Jesus Cristo só é fonte de alegria e de esperança, para quem procura Deus, para aqueles que no mais Ãntimo do seu coração, desejam encontrar Deus. Isso é verdade para os que acreditam n’Ele, e desejam conhecê-Lo melhor, contemplar o Seu rosto. Esses, quando rezam, exprimem esse desejo, tanto quando imploram “Vinde Senhor Jesusâ€, como quando lhe pedem, a Ele, cuja presença consoladora já se vive, “fica connosco Senhorâ€. Mas também os que duvidam, que têm uma fé titubeante, procuram o rosto de Deus, que pode interpelá-los na busca da beleza, da justiça, de um amor que valha a pena; pode questioná-los nas perguntas sem resposta sobre o sentido da vida e da morte, ou quando a dramaticidade dos acontecimentos ultrapassa a nossa capacidade de intervenção e de solução. Aqueles que tiverem simplicidade para reconhecer e aceitar as mais profundas interrogações que a vida lhes põe, acabam por desejar, também eles, que Deus venha e fique connosco. E podem ter a alegria de O reconhecer em Jesus Cristo. No Menino da Gruta de Belém, diremos esta noite, mas sobretudo na Sua Igreja, onde se renova continuamente a Sua Páscoa. Não foram o nascimento de Jesus em Belém ou a Sua vida pública a origem da expansão do cristianismo, mas sim a ressurreição. Se os discÃpulos não tivessem sentido e experimentado o mistério do ressuscitado, o fenómeno Jesus Cristo teria, certamente, acabado com a Sua morte. É no ressuscitado que eles sentem a presença do Deus Vivo e a plenitude de vida que desejamos e esperamos. A fé cristã é uma fé pascal, supõe a presença perene do ressuscitado no meio de nós e enraÃza o desejo do encontro definitivo com Ele, quando se manifestar na Sua Glória. Dirigindo-se a Ele, o que triunfou da morte, a Igreja continua a rezar: “Fica connosco Senhorâ€; “Vinde Senhor Jesusâ€. Ao proclamar um “Ano da Eucaristia†o Santo Padre convida todos os crentes a fazerem essa experiência maravilhosa de comunhão com Cristo Vivo, na simplicidade discreta de um sinal sacramental, vivido por comunidades crentes que renovam a memória da Páscoa. Só esses podem, sinceramente, desejar e exclamar: “Fica connosco Senhorâ€. A Eucaristia é momento de encontro, lugar de convÃvio com o Senhor, verdadeira fonte do desejo de O encontrar sempre mais, para testemunharmos com a vida a novidade da Páscoa. Na Eucaristia cada um de nós pode fazer a experiência inaudita de encontro com o ressuscitado, em Quem contemplamos o rosto de Deus. Quando os Apóstolos partiram a anunciar o Evangelho em todo o mundo conhecido de então, o que eles anunciavam era Cristo ressuscitado. Era Ele o Deus Vivo, definitivamente presente no meio do Seu Povo, Povo esse que definiu a sua nova fronteira em todos aqueles que acolhendo esse anúncio, acreditaram no ressuscitado e se reuniam ao Domingo, para se encontrarem com Ele. Essa experiência era de tal maneira decisiva para consolidar todos os grandes ideais do coração humano, que comunicá-la era urgente; tratava-se de espalhar uma “boa notÃciaâ€, que é o significado da palavra Evangelho. Há dois mil anos que a evangelização é uma urgência da Igreja. E nessa inquietação ela obedece à vontade do Seu Senhor e exprime, no que de melhor tem, o seu amor pelos homens, por todos os homens e mulheres de cada tempo. No ano de 2005 realiza-se em Lisboa a terceira sessão do Congresso Internacional da Nova Evangelização, que integra uma “Missão na Cidadeâ€. Nesta nossa Europa do inÃcio do terceiro milénio, aqueles de nós para quem a ressurreição de Cristo é uma notÃcia decisiva, que muda realmente a nossa vida, queremos continuar a anunciá-la, nem que seja preciso recomeçar sempre de novo. Assumimo-nos como protagonistas, com todos os que buscam um mundo melhor, da construção da cidade, de uma comunidade humana mais justa, mais solidária e generosa, mais repassada de esperança e de alegria. Evangelizar é entrar em diálogo com a Cidade, num grande respeito por todos, através da cultura, da festa, da beleza, da reflexão sobre os problemas do homem. Queremos apenas ser testemunhas de uma visão do homem e da vida, que continua actual dois mil anos depois. Ficaremos contentes se nos escutarem, e com todos aqueles que aceitarem partilhar connosco a vida e partir connosco nesta busca contÃnua de uma Cidade mais digna do homem, faremos festa. O diálogo e a busca em comum da beleza e da paz decidirão do futura da humanidade. Nessa busca, nós poremos em comum o que de mais precioso guardamos nos nossos corações: a certeza de que encontramos Deus em Jesus Cristo. Por todos os que, na sua inquietação, procuram o rosto de Deus, talvez sem o saber, nós rezaremos neste Natal: “Vem Senhorâ€, sê para eles a luz por onde entrarão a alegria e a esperança. Com aqueles que, na intimidade de uma oração, na festa de uma celebração ou no calor do amor fraterno já sentiram o Senhor presente, nós rezaremos: “Fica connosco Senhorâ€. Queremos comungar na Tua plenitude de vida ao recordamos o Teu Nascimento. Bom Natal! †JOSÉ, Cardeal-Patriarca Natal Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...