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Mensagem de Natal do Patriarca de Lisboa

D. José Policarpo
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MENSAGEM DE NATAL 2005 DE SUA EMINÊNCIA REVERENDÃSSIMA D. JOSÉ DA CRUZ POLICARPO CARDEAL-PATRIARCA DE LISBOA Senhores telespectadores e rádio-ouvintes 1. Mais uma vez, é-me oferecida a possibilidade de dirigir a todos os portugueses, espalhados pelo mundo, uma mensagem de fraternidade e de paz. Faço-o pessoalmente e em nome da Igreja. Dirijo-me a todos, crentes e descrentes, porque acredito que aquele Menino, que nasceu em Belém, continua a ser um abraço do amor de Deus por todos os homens. O espírito do Natal é de paz e de alegria. É assim desde aquela noite em Belém, quando um mensageiro celeste anunciou aos pastores: “Não temais, porque vos anuncio uma grande alegria para todo o povo: nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador, que é Cristo Senhorâ€. Porque vos falo em nome da Igreja, tenho de vos dizer com simplicidade, que o motivo da nossa alegria é Jesus Cristo, continua a ser Jesus Cristo, Vivo na Sua Igreja, expressão sempre actual do amor de Deus por nós, única fonte verdadeira da paz entre os homens. Há apenas algumas semanas, a Igreja de Lisboa exprimiu a toda a cidade a alegria de termos permanentemente connosco Cristo Vivo, o Deus amoroso no meio do Seu Povo. Fizemo-lo com simplicidade e beleza, com a autenticidade de quem deseja conviver com todos, partilhando a verdade mais profunda do nosso coração; fizemo-lo em festa recolhida e serena, e convidámos todos a juntar-se a nós. E vieram muitos, centenas de milhares, e como naquela noite em Belém, Maria, a Mãe de Jesus, foi a Rainha da nossa festa. Ao contemplar a sua imagem entre a multidão, na beleza do seu rosto imaculado, expressão mesma da ternura de Deus, senti a actualidade da mensagem do Anjo aos Pastores de Belém: “Não temais; anuncio a todo o Povo uma grande alegria; nasceu-vos, na casa de David, um Salvadorâ€. 2. Não temais! A mensagem desta noite convida-nos a vencer os medos que tolhem a nossa vida. Hoje, há muita gente com medo, o que impede as pessoas de serem felizes. Para enfrentar com liberdade as realidades que nos atemorizam, é preciso vencer o medo, porque este é um sentimento que tolhe a liberdade e enfraquece a coragem de lutar. O anúncio libertador de Jesus Cristo começa frequentemente assim: não temais, Eu venci o mundo. A vitória sobre os medos é uma vitória espiritual, porque o é da liberdade. Paradoxalmente, as chamadas sociedades evoluídas, que optaram por modelos de desenvolvimento destinados a resolver, pela ciência e pela técnica, as principais ameaças que pesavam sobre o ser humano, não anularam o medo. O medo da violência, que gera insegurança; o medo de perder o trabalho ou de nem sequer conseguir o primeiro emprego; o receio de que falhe a relação de amor em que se depositou toda a confiança; a aflição das crianças perante a desavença dos pais; o medo da morte. É preciso enfrentar as realidades que nos atemorizam, mas isso só é possível, se vencermos o medo. Nossa Senhora prometeu aos Pastorinhos: “Não tenhais medo! O meu Imaculado Coração triunfaráâ€. Essa é a verdadeira vitória sobre o medo, a força de um coração renovado. Esse foi o segredo dos heróis, dos mártires e dos santos, em todos os tempos. Jesus, preparando os discípulos para as dificuldades que vão encontrar, diz-lhes: “Não tenhais medo daqueles que vos podem matar o corpo, mas nunca poderão matar-vos a alma. Temei esses que podem levar à perdição o vosso corpo e a vossa alma†(cf. Mt. 10,28). Este “não temaisâ€, dito pelo Anjo, é o grito, tantas vezes repetido pelos profetas, aos crentes de Israel. Quem confia no Senhor não terá medo, como canta o salmista: “O Senhor é a minha luz e salvação, de quem haveria de ter medo? O Senhor é a muralha da minha vida, perante quem tremerei?†(Ps. 27,1). 3. O Anjo acrescenta a seguir: “anuncio a todo o povo uma grande alegria: nasceu-vos um Salvadorâ€. A Igreja não pode esquecer isto: a alegria da Salvação é para ser anunciada a todo o povo. E esta exigência de anunciar a Salvação, só se torna inevitável para os crentes, que não podem deixar de evangelizar. Aqueles a quem anunciamos são livres de escolher, ou não, este anúncio libertador. Aceitar o Evangelho é sempre um acto de liberdade, e só os homens livres podem acolher a mensagem de Jesus, porque não estão estagnados no seu presente, mas dispostos a abrir-se a uma luz nova e a uma nova etapa da liberdade. Cada homem guarda no íntimo do coração a simplicidade de se deixar atrair e encantar pela beleza de Jesus Cristo, porque Ele penetra em portas que ninguém abriu. A luz do Natal aparece sempre como uma estrela que é preciso seguir, ultrapassando, corajosamente, a fronteira das nossas certezas. Nesta noite, toda a cidade, cada família, a vida de cada um de nós, estão envoltas em sinais que nos falam da alegria do Natal, porque na abordagem do mistério, os sinais significam mais do que os discursos. Convido cada um de vós, nesta noite, a referir ao nascimento de Jesus e à alegria que ele significou para a humanidade, os sinais que vos envolvem, porque constituem a linguagem simbólica desta festa. As estrelas luminosas sugerem-nos a estrela de Belém, cuja luz levou os Magos ao presépio. A luz é o elemento principal nesta festa: as ruas estão iluminadas, as árvores resplandecem, os edifícios e as lojas atraem pela intensidade da luz. Toda essa luz lembra-nos que Cristo é a luz do mundo, e que a Liturgia há-de celebrar gloriosamente essa luz, na Páscoa da Sua ressurreição. Não será de uma outra luz que andamos à procura, nos caminhos, tantas vezes sombrios, da nossa vida? No Natal trocam-se presentes. Pratica-se uma generosidade, como em nenhum outro dia do ano, para manifestarmos a amizade, fraternidade, alegria. Mas essa é a mensagem de Jesus: dai de graça, porque tudo recebeste de graça. Purifiquemos a nossa intenção em cada presente, façamo-lo por amor, e recordemos que o mais importante é que sejamos dons uns para os outros. Na intimidade dos vossos lares encenastes, talvez, o presépio de Belém. Belíssima tradição cristã de figurar os Mistérios, ele recorda-nos o momento mais intenso de uma família, a família de Jesus, a quem nem a pobreza e a dificuldade das circunstâncias impediram a alegria sublime da fé e do amor, expressos naquele “Meninoâ€, prometido e esperado, dom de Deus que nos é renovado pelos braços estendidos de Sua Mãe. Saúdo, neste momento, aquelas famílias para quem é Natal, porque celebram o sentido do seu amor numa criança que nasceu. Se, nesta noite, pensarmos no sentido de tudo o que nos rodeia, abriremos o nosso coração à beleza e poderemos celebrar, em festa, a Missa do Natal, onde a Liturgia nos convida a exultar, porque Jesus nasceu para nós e continua vivo, no meio de nós. 4. Mas o Anjo acrescenta: “nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador†e esse facto é mais um motivo da alegria anunciada: aquele Menino é um príncipe real. Que o Messias seria um descendente de David, era a mais sólida das promessas de Israel. Foi por isso que Maria e José desceram de Nazaré, na Galileia, até Belém, a cidade de David, porque José era da casa de David (cf. Lc. 2,4). No relato da Anunciação diz-se que o Anjo apareceu a uma Virgem, de nome Maria, noiva de José, que era da casa de David (cf. Lc. 1,27). E na Sua última vinda a Jerusalém, onde será condenado à morte, Jesus entra na cidade aclamado como Messias Rei e a multidão exclamava: “Hossana ao Filho de David! Bendito o que vem em nome do Senhor†(Mt. 21,10). É por isso que o Rei Herodes quer matar o Menino, pois teme que Ele ocupe o trono de Israel (cf. Mt. 2,1ss). O Messias que nasceu em Belém, na simplicidade de uma gruta, é um Príncipe Real. Jesus nunca rejeitou esta Sua condição real. Mesmo durante o seu processo, em que essa é uma das acusações que Lhe fazem, Pilatos pergunta-lhe directamente: “Tu és Rei†e Jesus responde: “Tu o dizes. Sou Rei, para isso vim ao mundo. Mas o meu reinado não é deste mundoâ€. (Jo. 18,34ss). O verdadeiro triunfo da realeza de Cristo, é a Sua vitória sobre a morte. Isso nenhum Senhor deste mundo jamais conseguiu. É uma realeza que se afirma pelo serviço e pelo dom, se exprime na proclamação da verdade, e triunfa na instauração do amor. O Espírito Santo, amor de Deus derramado nos nossos corações, é a manifestação definitiva da realeza de Jesus Cristo. A afirmação clara de que o Seu reinado não é deste mundo, pode tranquilizar todos quantos ainda hoje temem que a Igreja queira dominar a sociedade. Se ela tentasse fazê-lo, ou quando o fez, foi infiel ao Seu Senhor e Rei. Ela quer seguir Jesus Cristo no serviço gratuito e generoso, na proclamação da verdade, na generosidade do amor. A Igreja não quer dominar a Cidade, quer humanizá-la. Que ninguém queira expulsar a Igreja da cidade, porque ela é, na sua pobreza e simplicidade, portadora de um anúncio de libertação: é possível viver em paz, amarmo-nos uns aos outros como irmãos, defender quem é atacado ou esquecido, consolar quem está triste, porque um Salvador nasceu para nós, e continua Vivo, no triunfo da Sua realeza. Neste Natal deixai que a alegria e a bondade inundem os vossos corações. † JOSÉ, Cardeal-Patriarca


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