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Mensagem Final das Jornadas Missionárias Nacionais 2003

Obras Missionárias Pontifícias
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Os cerca de seiscentos participantes das Jornadas Missionárias Nacionais 2003, realizadas no Centro Paulo VI, em Fátima, de 19 a 21 de Setembro, reflectimos sobre o tema a “Europa e a Missão Ad Gentes” e partilhámos as nossas experiências sobre esta vertente da missão da igreja. Congratulamo-nos com a celebração dos 300 anos dos Espiritanos; a canonização de Daniel Comboni, fundador da Família Comboniana, de Arnaldo Janssen, fundador da Família do Verbo Divino e do Pe. José Freinademetz; e da beatificação da Madre Teresa de Calcutá. São acontecimentos que nos situam no horizonte da santidade como fonte da Missão. Da reflexão levada a cabo, destacamos algumas conclusões e interpelações. A) Conclusões 1. O tempo que vivemos é marcado por um conjunto de sinais de esperança e, ao mesmo tempo, por um forte clima de incertezas e por uma preocupante crise de valores. Dos motivos de esperança destacamos: uma maior sensibilidade aos direitos humanos; a censura pública contra atitudes que ofendem a dignidade de pessoas indefesas; a luta contra a corrupção de pessoas públicas; o aumento crescente do voluntariado; o respeito pela natureza, etc. Motivos de preocupação constituem, entre outros, os seguintes factos: o desrespeito pela ordem internacional; o escândalo da pedofilia; a corrupção de alguns políticos; a instabilidade familiar; o desrespeito pela vida, sobretudo na estrada; o agravamento do fosso entre pobres e ricos; a excessiva concentração da riqueza nas mãos de uns poucos; uma economia cada vez menos ao serviço das necessidades do povo; a corrida vertiginosa das tecnologias, sem consequente apuramento das responsabilidades éticas; o consumismo e a perda das referências de base, em que assentava a cultura cristã. São preocupações que os nossos bispos nos recordam na última mensagem sobre “A responsabilidade solidária sobre o bem comum”. 2. A nova configuração da União Europeia (UE), com a adesão dos novos membros e a sua abertura a novas culturas e novas religiões, apresenta-se para os cristãos como acontecimento particularmente enriquecedor e interpelador, a exigir uma reflexão urgente e profunda, não só das comunidades cristãs, mas de toda a sociedade. 3. A geografia religiosa do primeiro mundo, nomeadamente a sua expressão paroquial, foi particularmente afectada pela erosão cultural das últimas décadas. As novas formas de expressão cultural das populações, a sua mobilidade e a perda da dimensão social e religiosa, que a caracterizavam, obrigam a Igreja a uma revisão profunda dos seus espaços e processos de intervenção. 4. O encontro de culturas e o diálogo entre as religiões são hoje um espaço importante da missão, que é imprescindível aprofundar e desenvolver. 5. A Europa apresenta, com o seu novo alargamento, um enriquecimento cultural e religioso, mas com uma grande disparidade económica e social, que levanta grandes desafios, sobretudo aos países mais ricos. B) Interpelações Destas conclusões deduzimos algumas interpelações que nos parecem particularmente pertinentes. 1. A crise de valores e de referências de base são um desafio à cidadania activa dos cristãos e à sua intervenção profética nos meios e ambientes onde esses valores sejam ignorados ou negados, nomeadamente na televisão e outros meios de comunicação social. 2. A Europa apresenta-se com um défice de democracia, de participação e de profetismo cristão. Compete-lhe manter as suas fronteiras abertas como vínculo de valores que constituem a sua herança, sobretudo na fronteira da justiça e da solidariedade. 3. Um dos mais urgentes imperativos que se impõem à sociedade civil e, em particular aos cristãos, é a mudança das estruturas de poder para as tornar mais justas e mais humanas. 4. A nova realidade da cultura urbana exige, por parte da igreja, novas formas de resposta ao modo como a missão se deve situar no território. 5. Os testemunhos apresentados nestas Jornadas sobre a geminação de paróquias e dioceses revelam um caminho para a animação missionária das nossas dioceses. 6. A visão teológica actual da missão, como diálogo inter-religioso, desafia-nos a uma busca humilde e perseverante do rosto de Jesus Cristo presente nas outras culturas e religiões. 7. O alargamento da Europa desafia-nos a uma grande abertura às outras confissões cristãs e a outros credos religiosos que se situem dentro do território europeu. 8. Dentro da Europa, Portugal tem obrigação moral e histórica de ser uma porta aberta para os imigrantes, procurando integrá-los com dignidade no nosso tecido social. 9. A transmissão da fé na nova cultura que caracteriza o nosso tempo passa necessariamente pelo Anúncio de Jesus Cristo, por meio de um testemunho de vida pessoal e comunitário. Fátima, 21 de Setembro de 2003


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