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Missão na Cidade - Congresso Internacional da Nova Evangelização

D. José Policarpo
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Carta Pastoral do Cardeal-Patriarca de Lisboa

Introdução 1. Como é do conhecimento público, a Diocese de Lisboa é co-organizadora de um “Congresso Internacional da Nova Evangelização”, em conjunto com as Dioceses de Viena de Áustria, de Paris e de Bruxelas. A estas quatro dioceses vai juntar-se, desde já, a Diocese de Eztergom-Budapeste, na Hungria. O anúncio do Evangelho no contexto urbano das grandes metrópoles do nosso tempo é o desafio que aceitámos. Está quase tudo dito sobre a “nova evangelização”. Agora é preciso sair à rua, ir para o centro das cidades, onde as pessoas se cruzam na azáfama do dia a dia, onde lutam, sofrem, esperam, alimentam utopias e anunciar a esperança que tem a sua fonte em Jesus Cristo. “Jesus Cristo é a nossa esperança, porque Ele, o Verbo eterno de Deus (…) nos amou”. “Fundamentada nesta confissão de fé, brota do nosso coração e dos nossos lábios uma jubilosa confissão de esperança” . O Congresso terá a sua realização, em Lisboa, no Outono de 2005. Isto significa que durante o Ano Pastoral que agora se inicia temos de intensificar a sua preparação, que não consta, apenas, de acções e estruturas, também necessárias; temos, sobretudo, de nos prepararmos, pessoas, Movimentos e Comunidades, para esta acção evangelizadora. É meu desejo que toda a nossa Diocese, mas sobretudo a Cidade de Lisboa, se ponha em ambiente de Congresso, o que quer dizer em estado de missão. A missão de evangelizar. 2. O Congresso é a concretização da primordial missão da Igreja: evangelizar. E esta é o anúncio jubiloso da esperança que brota dos corações daqueles que acreditam em Jesus Cristo e encontram n’Ele a fonte da esperança e o sentido da vida. A mensagem deste anúncio é a mesma desde há dois mil anos; mas a forma de anunciar pode ser renovada em cada tempo e em cada contexto cultural, pela razão simples de que se trata de um anúncio a pessoas concretas e situadas, feito por outras pessoas que partilham com elas o mesmo quadro de vida. A natureza da evangelização põe-nos a todos, neste contexto do Congresso, perante um duplo desafio: aprofundar e interiorizar em nós este anúncio da esperança e encontrar os meios e os modos adaptados para anunciarmos essa esperança a todos os homens e mulheres com quem partilhamos a vida da nossa Cidade. A Igreja vive de Jesus Cristo e só essa procura contínua da radicalidade do Evangelho, a tornará capaz de anunciar, encontrando a maneira simples e sincera de o fazer. Esta é a perspectiva fundamental de uma Igreja que se quer pôr em “estado de missão”: só quem vive do Evangelho aceita ser enviado a anunciá-lo. Evangelizar a nossa Cidade. 3. A urgência da evangelização brota de um duplo dinamismo: a vontade do Senhor, que envia a Igreja de todos os tempos a anunciar a boa nova da salvação, e o apelo da Cidade, dos homens e mulheres nossos irmãos que partilham connosco o drama da vida, nesta Cidade que nós amamos. Quando falamos de Lisboa como urgência de evangelização, não nos referimos, apenas, à velha Cidade de Lisboa, circunscrita pelas fronteiras do seu Município; o nosso olhar alarga-se, necessariamente para a chamada “grande Lisboa”, que de Almada a Cascais, de Sintra a Loures, de Sacavém a Vila Franca de Xira, é o cenário desse vai e vem contínuo que constitui a principal característica da população das cidades modernas: a mobilidade. Falamos de cerca de cento e cinquenta mil jovens universitários que para Lisboa convergem, para frequentar as Universidades da capital; não esquecemos a Lisboa administrativa, centro do poder, porque capital da Nação, o que a torna cruzamento necessário de pessoas vindas de todo o país; olhamos com uma solicitude particular para cerca de duzentos mil emigrantes, vindos de várias partes do mundo à procura de uma vida melhor e que se situam entre o grupo dos mais pobres e desfavorecidos. E ao olharmos esta Cidade, buliçosa e agitada, não podemos esquecer aqueles que habitualmente não se vêem: os doentes, os idosos, os presos. Muitos deles poderão participar activamente na “missão na Cidade”, oferecendo a sua oração e o seu sofrimento. Ao olharmos a nossa Cidade como espaço de evangelização, uma questão inevitável se nos apresenta: o que é hoje Lisboa do ponto de vista cristão? Ela que foi alfobre de missionários, de santos e mesmo mártires? Ela que esteve na origem da expansão do cristianismo nas cinco partes do mundo? Disso continuam testemunhos eloquentes os belos templos erigidos ao longo dos tempos, padrões vivos da fé de uma Cidade: a Sé Catedral, Santa Maria de Belém, Nossa Senhora dos Mártires, São Domingos, São Vicente de Fora, a Madre de Deus, a Basílica da Estrela, Nossa Senhora de Fátima, o Sagrado Coração de Jesus. Eles aí continuam, eloquentes na sua beleza, proclamando cada um na linguagem artística da sua época, a mesma mensagem de uma cidade cristã. Como todas as grandes cidades do nosso tempo, Lisboa alterou a sua fisionomia cultural e religiosa, tornando-se uma cidade plural. Não foi alheia aos ventos do laicismo e à erosão cultural de uma época marcada pela grande comunicação. A sua população declara-se cristã na sua maioria, 86% no último senso. Segundo o último estudo sobre a prática dominical, cerca de 10% da sua população ainda pratica dominicalmente a sua fé. Dos outros, a maior parte guarda referências à Igreja nos grandes momentos da vida: nascimento, casamento e morte. Os grandes valores que inspiram a vida comunitária têm origem cristã: o respeito pela pessoa humana, a solidariedade e o gosto de partilhar, o culto da liberdade. Há já um grupo que se declara sem religião, agnóstico ou mesmo ateu, embora os grandes valores de referência sejam os mesmos de toda a comunidade. Entre essa maioria que se declara católica, podemos considerar vários grupos cuja diferença é significativa em termos de evangelização: os praticantes, que constituem o rosto visível das comunidades cristãs e que têm de ser o ponto de partida da acção evangelizadora; o grupo dos não praticantes, mas que guardam referências visíveis à Igreja, a quem é preciso ajudar a descobrir a beleza do seu baptismo e da sua qualidade de Católicos; o grupo dos “descrentes”, a quem é preciso testemunhar a beleza da fé. Às outras Igrejas e Confissões Cristãs, manifestamos o nosso respeito fraterno e convidamo-las a participar na missão com um anúncio vivo de Jesus Cristo. A verdade da evangelização. 4. O Congresso não é uma estratégia para reforçar o poder da Igreja na sociedade. Fazemo-lo por fidelidade a uma convicção muito profunda de que a fé é uma manifestação do amor com que Deus ama todos os homens. Jesus Cristo continua a ser a expressão absoluta do amor de Deus por nós. É desejo de Deus que os homens se encontrem com o seu Filho Jesus Cristo. Esta é a verdade profunda da evangelização, que a inspira, motiva e sugere os modos. Podemos concretizar uma tríplice dimensão desta verdade da evangelização: a verdade dos homens a quem anunciamos o Evangelho; a verdade da fé de quem anuncia; a verdade da Palavra de Deus que anunciamos. Ao prepararmo-nos para a “missão na Cidade” temos de aprofundar e meditar nesta tríplice dimensão da verdade da evangelização. A dignidade dos homens e mulheres, nossos irmãos. 5. O nosso anúncio do Evangelho tem de ser humilde e dialogante, atitude de quem vai ao encontro dos outros em espírito de serviço. Tem de brotar do nosso amor e do nosso desejo de comunhão. Uma das características da fé na nossa Cidade é que ela é, cada vez mais, uma opção pessoal de liberdade, uma vez que se foram mitigando os condicionalismos sociológicos da religião. Ela tem, por isso, toda a beleza, mas também a exigência da liberdade. O facto de anunciarmos a nossa fé, não pode diminuir o profundo respeito que temos pelos outros e pelas suas opções. A fé não se impõe a ninguém. Esse respeito sugere-nos uma atenção às buscas, problemas e sofrimentos dos nossos irmãos, pois eles poderão, como nós, encontrar na fé a resposta que procuram. O sentido da vida e da morte, o mistério do sofrimento, a solidão invencível, a ânsia de felicidade, sempre procurada e nunca alcançada, a desilusão do amor, a dificuldade de captar a dimensão de eternidade semeada no coração de cada um. Porque é uma manifestação do amor de Deus, o Evangelho tem de lhes aparecer como uma resposta e uma proposta de vida. Só quem cultivou esta atenção solícita e amorosa para com os outros, no profundo respeito pela sua dignidade, poderá ser um evangelizador. É que o concreto da vida dos nossos irmãos, perscrutada com amor, pode revelar-nos a abertura do seu coração ao Evangelho de Jesus e à sua própria Pessoa. É preciso captar e compreender as manifestações actuais da busca da salvação. Mesmo naqueles para quem esta palavra já pouco significa, há buscas existenciais que podem significar a procura de Deus. Isto é particularmente importante no nosso diálogo com os jovens, para quem a busca da vida pode ser algo de decisivo. É preciso ouvi-los com compreensão e ternura e fazer deles um destinatário privilegiado da “missão na Cidade”. A verdade da fé de quem anuncia. 6. A evangelização é um testemunho, o que significa que a fé anunciada é uma experiência vivida. Cristo que anunciamos é o Cristo que amamos e procuramos. A principal exigência da preparação do Congresso e da “missão na Cidade” situa-se, precisamente, aí. As pessoas, as Comunidade e os Movimentos devem procurar, durante este ano de preparação, uma autenticidade de fé. A Igreja que evangeliza precisa de ser, continuamente, evangelizada, de viver do Evangelho. A fecundidade do Congresso começa aí: as pessoas, as Paróquias e os Movimentos que vão empenhar-se na missão, devem prepará-la na oração, sobretudo através da meditação da Palavra e da vivência da Eucaristia, celebrada e adorada. É preciso, é certo, imaginar e preparar as acções evangelizadoras. Mas tudo isso deve assentar na renovação espiritual das Comunidades. Desta verdade de quem anuncia faz parte a humildade do evangelizador. O seu testemunho é, tantas vezes, apenas a manifestação da sua esperança e do seu desejo, de quem sabe que Deus pode agir através da nossa pobreza e que o Reino de Deus brota da Páscoa de Jesus e é obra do Espírito Santo. O ano de preparação do Congresso tem de ser um ano de profunda renovação espiritual de todos, pessoas e grupos, os que querem participar nesta acção evangelizadora. A verdade da Palavra de Deus que anunciamos. 7. O anúncio do Evangelho, embora seja um testemunho pessoal da nossa fé, é sempre a proclamação da “fé da Igreja”, a única que tem a garantia da objectividade da verdade de Deus, ou seja, da mensagem da Revelação. É por isso que a Evangelização é sempre um serviço da Palavra e missão da Igreja. Dois fenómenos da cultura contemporânea podem comprometer a autenticidade deste anúncio da “fé da Igreja”: a importância dada à subjectividade, à própria visão pessoal da verdade e o facto de a sociedade, na complexidade dos seus problemas e na rápida mutação dos valores culturais, fazer uma pressão contínua sobre a Igreja para que adapte a sua doutrina a essa mutação da sociedade, entrando no ritmo da mudança e ensine aquilo que alguns gostariam de ouvir. O evangelizador, porque anuncia a “fé da Igreja”, que é o único espaço legítimo da mutação, guiada pelo Espírito e, ao longo dos séculos, se mantém fiel ao Evangelho dos Apóstolos, tem de estar vigilante para evitar esses dois perigos: o de não confundir testemunho com visão subjectiva da verdade e de não cair na tentação, para ser bem acolhido, de anunciar aquilo que os homens gostam de ouvir. A nossa percepção da verdade tem de ser continuamente confrontada com a verdade de Deus, mantida fielmente na “fé da Igreja”. Só a verdade de Deus salva, e não a minha própria verdade. Esta fidelidade à verdade da “fé da Igreja” tem a ver com a mensagem, com os conteúdos da evangelização. Eles diferenciam-se conforme as etapas da evangelização: o primeiro anúncio, a catequese, a formação permanente. Mas a mensagem é sempre a mesma; as diversas etapas são apenas momentos do seu aprofundamento. O Santo Padre João Paulo II, na Novo Millenio Ineunte, afirmou que o programa pastoral da Igreja é Jesus Cristo, o mesmo ontem, hoje e sempre (cf. NMI, n. 28). É Ele que encerra todo o mistério de Deus e do homem e que, depois de O conhecermos, gastaremos toda a nossa vida, em Igreja, para O conhecermos e amarmos. A “missão na Cidade”, embora suponha nas Comunidades um processo sério de catequese, de aprofundamento do mistério de Jesus Cristo para assim se prepararem para serem testemunhas, é, em si mesma, uma acção evangelizadora marcada pelo dinamismo do primeiro anúncio de Jesus Cristo. Por isso refiro aqui apenas os tópicos principais dos conteúdos desse primeiro anúncio, ou seja, os conteúdos do “kerigma” cristão. Um “Kerigma” para a nossa Cidade. 8. Trata-se de anunciar, com a força de um testemunho, que Jesus Cristo é o Vivo, é o Deus vivo, perto de nós, a desafiar-nos para uma relação de amor. Deus não é uma ideia, um ser longínquo e inalcançável, uma criação cultural das religiões. Em Jesus Cristo Ele torna-se acontecimento na nossa vida, transformando-a e dando-lhe um sentido radicalmente novo. * Ao proclamar que Jesus é o Vivo, afirmo a sua divindade. Ele é importante para nós, porque é a presença do Deus vivo na nossa vida. N’Ele, Deus torna-se próximo, acessível, Deus de aliança, a desafiar-nos para a aventura do amor. Todos os anseios de amor, que palpitam no coração humano, são portas abertas ao anúncio de Jesus Cristo enquanto caminho para a plenitude do amor. * Anunciar Jesus Cristo o Vivo, é proclamar a Sua ressurreição, pois a sua morte na Cruz é um facto confirmado pela História. Ele é um vivo que venceu a morte e por isso a Sua vida é definitiva e plena. A proclamação da ressurreição de Jesus é incompreensível sem o anúncio do sentido da Sua morte, oferecida por amor, manifestação radical e dramática do amor de Deus por nós. Só se pode comunicar o sentido pleno da Vida do ressuscitado, se a Sua morte e ressurreição nos aparecem como redenção. E esta é acto criador do amor de Deus, que salva a grandeza da vocação humana, apesar do pecado. À luz de Jesus Cristo, o pecado é um drama de amor: drama na infidelidade do homem, drama na recuperação que Deus faz do homem, em Jesus Cristo. Não devemos fugir ao peso que tem sobre as pessoas o drama da morte. É certo que hoje os homens e mulheres tendem a ignorá-lo tanto quanto puderem. Mas ninguém lhe escapa. O sentido da vida do homem está irremediavelmente ligado ao sentido da vida e da morte. Participar na vitória de Cristo sobre a morte, é começar a resolver o problema da morte na nossa vida. * Encontrarmo-nos com Cristo, o Vivo, é ouvir o Seu convite a que O sigamos como discípulos. Ele quer ser nosso companheiro de viagem; segui-Lo é querer percorrer o caminho da nossa vida sempre com Ele, ouvindo-O, aprendendo a amá-Lo e aprendendo a amar, reconduzindo tudo na nossa vida a esse amor novo. É impossível entrar no dinamismo desta caminhada como discípulos, sem o anúncio do Espírito Santo, a força criadora do amor de Deus, Ele que ressuscitou Jesus dos mortos, e nos transforma nesse “homem novo”, tornando-nos semelhantes a Cristo. É preciso anunciar o Espírito Santo como a força transformadora do amor de Deus que nos é dado a partir da nossa relação de amor com Jesus Cristo. Este anúncio denuncia a auto-suficiência da cultura contemporânea, segundo a qual o homem só será aquilo que ele próprio for capaz de construir. Não! Seguir Jesus Cristo é aceitar que o homem, com a força do Espírito de Jesus, é capaz de atingir níveis de vida, de beleza e de profundidade, que lhe seriam inacessíveis, se ficasse limitado às suas próprias forças. Acho que o drama da humanidade contemporânea mostra à saciedade esta evidência. * Este “Kerigma” tem de incluir o primeiro anúncio do mistério da Igreja. Não devemos ter a preocupação de explicar tudo, de fazer uma eclesiologia completa. Basta apresentar a Igreja como “comunhão de crentes em Cristo”, como Povo de discípulos que caminham em conjunto, seguindo o seu Senhor. E abrir desde o início para a riqueza sacramental da Igreja, onde ela realiza a própria obra de Deus em Jesus Cristo, com uma eficácia garantida pelo próprio Deus e não apenas pelos homens. Os três sacramentos da iniciação cristã devem constituir o núcleo central deste anúncio. A sua vivência contínua garantem a caminhada, seguindo Jesus Cristo, o Vivo, identificando-nos com Ele, e seguindo-O até à Casa do Pai. * Este primeiro anúncio completar-se-á com o convite à oração. A possibilidade de rezar, é a primeira manifestação da novidade cristã. Rezar com Jesus, rezar como Cristo rezou, oferecer como Cristo se oferece. A primeira aceitação de Jesus Cristo deve desabrochar, espontaneamente, na primeira expressão de oração cristã, manifestação de confiança e de união de amor a Cristo e, por Cristo, ao Deus vivo, que no Seu Filho se torna nosso íntimo e nosso próximo. Uma pedagogia da evangelização. 9. Tendo em conta quanto acaba de afirmar-se sobre a natureza dinâmica da evangelização, a “missão na Cidade” supõe o delinear de uma pedagogia: a selecção dos sectores da população a quem se destina a acção evangelizadora, a preparação das acções a desencadear, a formação dos evangelizadores, a garantia da qualidade em todas as acções desencadeadas. É preciso desencadear um dinamismo que ponha a Cidade em estado de missão de tal modo que ninguém estranhe, nesses dias, se alguém lhe falar de Deus e de Jesus Cristo. Para atingir esse objectivo muito contribuirá a dinamização das Comunidades Paroquiais e dos Movimentos e Associações de fiéis. Mas não deixaremos de recorrer ao contributo dos modernos meios de comunicação com as multidões. Estaremos particularmente atentos ao mundo juvenil, particularmente à juventude universitária, aos espaços da Cidade onde se cruzam multidões; uma atenção especial nos merecerão os idosos e os doentes. Os espaços culturais, de modo particular o nosso riquíssimo património artístico, deverão ser valorizados na missão. Esta será, aliás, um espaço para a criatividade de pessoas e Comunidades, que poderão propor as suas acções evangelizadoras, garantida que esteja a unidade da missão. 10. Procuraremos que todas as acções desencadeadas tenham em comum algumas características ou qualidades: * A qualidade. Devemos fazer bem feito o que nos propusermos fazer. Esta qualidade aliará a dimensão cultural com a sinceridade da convicção e a ousadia do testemunho. Simplicidade e qualidade não se opõem. * A beleza. Deus é belo e a beleza é hoje uma abordagem de Deus mais simples e atraente do que o discurso do convencimento racional. Que tudo seja belo, e que se organizem acções específicas que partam da beleza para o anúncio do Evangelho. * A eclesialidade. A Igreja de Lisboa tem de se rever em cada uma das acções desencadeadas, que têm de se inserir no dinamismo da missão evangelizadora da Igreja. O Congresso e a “missão na Cidade” não podem ser acções efémeras que se esgotam quando acabam. Devem deixar dinamismos que perdurem na linha da realização da missão da Igreja prolongada no tempo. A Cidade um único espaço de missão. 11. Este é, certamente, um dos aspectos mais exigentes da “missão na Cidade”: a unidade da missão. Não podemos aparecer perante a Cidade, uns a anunciar a fé de Paulo, outros de Pedro, outros de Apolo (cf. 1Cor. 1,12). Toda a dinamização e realização desta acção evangelizadora tem de ser marcada pela unidade, considerando a Cidade como um único espaço pastoral. O papel das Paróquias é decisivo no bom andamento da missão, enquanto espaço de realização e entidade promotora de acções. As diversas Igrejas que se erguem na nossa Cidade devem ser sinais de uma mesma fé e de um mesmo anúncio de Jesus Cristo. É importante que, salvaguardando embora a justa especificidade, a Cidade toda seja como um painel em que as diversas Paróquias são afirmações, mais da unidade do que da diferença. A “missão na Cidade” levar-nos-á, porventura, a uma reflexão aprofundada sobre a Paróquia urbana, cada vez menos definida pela territorialidade. Não devemos permitir que os particularismos comprometam a unidade da missão, condição necessária da sua eclesialidade. Para esta unidade da missão muito poderão contribuir os Movimentos, convidados a pôr a especificidade dos seus próprios carismas ao serviço de uma única missão, desencadeada pela mesma Igreja Diocesana. Sintamo-nos enviados. 12. É o Senhor que nos envia. Partamos, dinamizados pelo Espírito, e levemos connosco Nossa Senhora. Ela repetir-nos-á incansavelmente: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo. 2,5). Aprendamos com ela a dar Jesus Cristo aos homens do nosso tempo. E invoquemos a protecção de Paulo, o grande Apóstolo do anúncio. Termino esta Carta Pastoral, com um texto da 1.ª Carta de Paulo aos Tessalonicenses: “Como vós próprios sabeis, irmãos, a visita que vos fizemos não foi inútil. Apesar dos sofrimentos e insultos que suportámos em Filipos, como sabeis, no nosso Deus encontrámos coragem para vos anunciar o seu Evangelho no meio de grandes lutas. A nossa pregação não nasce do erro, nem da impureza ou da fraude. Mas, como Deus nos encontrou dignos de nos confiar o Evangelho, assim o pregamos, não para agradar aos homens, mas a Deus que põe à prova os nossos corações. Bem sabeis que nunca usámos palavras de lisonja nem recursos de ganância; Deus é testemunha. Também não procurámos as honras humanas, quer da vossa parte, quer da parte dos outros, embora pudéssemos fazer valer a nossa autoridade como Apóstolos de Cristo. Ao contrário, apresentámo-nos no meio de vós com bondade, como a mãe que acalenta os filhos que anda a criar. Pela viva afeição que vos dedicámos, desejávamos partilhar convosco não só o Evangelho de Deus, mas ainda a própria vida, tão caros vos tínheis tornado para nós.” Lisboa, 26 de Setembro de 2003 † JOSÉ, Cardeal-Patriarca


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