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Muros em escada num mar de morte e deserto de suplício

FORCIM
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Organizações Católicas para a Imigração manifestam repulsa pela continuada e vergonhosa situação de «crise humanitária« nas fronteiras europeias de Ceuta e Melilla.

Unimo-nos aos apelos, denúncias e propostas de Organizações Não Governamentais espanholas e internacionais, dos Secretariados Diocesanos da Pastoral de Migrações de Cádiz, Ceuta e Málaga, das Organizações Cristãs (CARITAS, JRS, ICMC, COMECE, CCME, ...) que romperam, mais uma vez o silêncio “cúmplice” da dramática e inaceitável situação que vivem milhares de imigrantes irregulares. Queremos expressar a nossa consternação e pesar pelos mutilados e mortos as fronteiras, na ânsia desesperada de “entrar” por mar e terra na Europa. Comprometemo-nos não só a lembrá-los a Deus nos encontros de oração, como também a sensibilizar as paróquias e organizações cristãs para que sejam parte da solução através da solidariedade e actuação cívica pela dignidade humana. As fronteiras do mundo, tal como no seio da União Europeia, devem ser lugares de vida e de encontro, e não de morte e desespero! Solidarizamo-nos com todos os que, em nome da defesa da vida, da sua fé e dos direitos humanos, são sinal de esperança num mundo mais justo e fraterno. Fazemos nossas as recentes declarações de Koffi Annam, António Guterres, Durão Barroso, bispos de Málaga, Cádiz e Ceuta, entre outros. Recordamos que a Europa através das suas políticas migratórias securitárias e socialmente minimalistas tem vindo a tornar, desde há anos, o Mediterrâneo num “mar de morte” e “deserto de suplício” para os imigrantes e refugiados da vizinha África. A Europa deve comprometer-se de forma arrojada e cooperante na resolução das causas que forçam o migrar esses irmãos e envidar esforços com vista ao respeito intransigente dos direitos humanos, do Direito Internacional consagrado em Convenções ratificadas. Mais do que reforçar fronteiras tornando-as “muros em escada” onde morrem imigrantes, há que reforçar a cooperação afro-europeia para erradicar a fome, pobreza, corrupção, comércio de armas e combater eficazmente as redes de traficantes de pessoas. Reafirmamos o valor supremo da vida e da dignidade humana, independentemente da sua situação administrativa; perante a confirmada violação dos direitos humanos, uso desproporcionado da violência policial, aumento de mutilados e mortes de imigrantes subsaarianos, “deportações em massa” forçadas e desumanas para locais inóspitos, desrespeito pela vulnerabilidade dos requerentes de asilo que, desde há vários meses acontecem na fronteira externa europeia, de Ceuta e Melilla e que ultimamente, têm merecido a atenção privilegiada e profética dos media. Os africanos subsaarianos também são gente! Nenhum país europeu, incluindo Portugal, se poderá considerar imune à tragédia humana que se vive em Ceuta e Melilla. Não basta apontar o dedo a Marrocos ao usar, mais uma vez, um país terceiro como “bode expiatório”. Situações destas continuarão a acontecer nos próximos meses, se a Europa, em contexto global e de acelerada mundialização das migrações, não se responsabilizar concreta e “comunitariamente” pelo combate às raízes subjacentes à crescente irregularidade dos fluxos migratórios, através de uma urgente gestão da imigração legal, de forma ordenada, humana e participada bilateral e multilateralmente. Lisboa, 14 de Outubro de 2005 Fórum de Organizações Católicas para a Imigração (FORCIM)


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