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Não podemos ficar insensíveis

D. António de Sousa Braga
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Nota Pastoral do bispo de Angra sobre os incêndios no continente

Às Comunidade Paroquiais Neste Verão, temos sido continuamente sobressaltados com a tragédia dos incêndios no Continente. Embora longe, não podemos ficar insensíveis ao drama vivido por tantas famílias portuguesas. Há muito a dizer e a reflectir sobre esta situação, que não é uma fatalidade, mas o somatório de muitos factores, em que entram não só a responsabilidade governativa, mas também a consciência cívica de um povo. Sem deixar de se fazer, na devida altura, um discernimento ponderado sobre isso, agora é o momento de dar as mãos e socorrer quem precisa. Isso não pode ser deixado só às entidades oficiais, aos diversos níveis da governação. As comunidades cristãs devem sentir-se interpeladas pela situação de tantos irmãos que, neste momento, precisam de ajuda. 1. Por isso, determino que os ofertórios das Missas Dominicais de um fim-de-semana do mês de Setembro se destinem aos sinistrados dos incêndios. Os donativos devem ser remetidos para a Caritas dos Açores, que os fará chegar aos destinatários, através da Caritas Nacional. A vantagem destes canais é a possibilidade de ajudar imediatamente as pessoas “no terreno”. Esta é a segunda vez que, no Ano Pastoral 2004/05, a Caritas dos Açores lança uma campanha de solidariedade, para responder a uma situação de emergência. A primeira foi por ocasião do Natal, para socorrer os sinistrados do “tsunami” asiático. Agora é para ir ao encontro de uma emergência a nível nacional. Tem sido notória a generosidade dos açorianos, nestas circunstâncias, conhecendo como conhecem as consequências das catástrofes naturais e o lenitivo dos gestos de solidariedade, vinda também do exterior. Espero que também desta vez as comunidades cristãs saibam responder ao apelo, partilhando do pouco que têm, para auxiliar os que tudo perderam. Estamos perante uma situação de emergência, que exige uma resposta concreta e imediata. 2. A atitude tem de ser a do Bom Samaritano, que não teorizou sobre a situação, mas fez-se próximo “daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores”. Diz-nos a narração evangélica: “vendo-o, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele… Vai e faz tu também o mesmo”- recomendou Jesus ao doutor da Lei, que Lhe perguntara: “E quem é o meu próximo” (Lc 10, 29-37)? Próximo não é só o familiar ou o vizinho. É todo aquele que precisa de mim, de perto ou de longe, independentemente do sangue ou da raça, da ideologia partidária ou do credo religioso. Neste Ano Eucarístico, o Papa João Paulo II incitava-nos a vivermos a Eucaristia como expressão de comunhão, não apenas na vida da igreja, mas também como compromisso de solidariedade. Com efeito, “o cristão, que participa na Eucaristia, dela aprende a tornar-se a promotor de comunhão, de paz, de solidariedade, em todas as circunstâncias da vida” (Mane Nobiscum Domine, nº 27). Neste sentido, o santo Padre exortava que, neste Ano da Eucaristia, procurássemos ir ao encontro dos irmãos necessitados. “Não podemos iludir-nos: do amor mútuo e, em particular, da solicitude, por quem passa necessidade, seremos reconhecidos como verdadeiros discípulos de Cristo (cf Jo 13, 35; Mt 25,31-46). Com base neste critério, será comprovada a autenticidade das nossas Celebrações Eucarísticas” (Ib. 28). + António, Bispo de Angra Angra, 23 de Agosto de 2005


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