Natal na FamÃlia D. Joaquim Gonçalves 19 de Dezembro de 2005, às 10:58 ... Mensagem do Bispo de Vila Real 1 - Sempre que se fala do Natal de Jesus, vem ao pensamento o Menino do presépio com José e Maria, a famÃlia visitada por anjos e pastores e saudada, quarenta dias depois, por dois idosos, Simeão e Ana. Sabemos que o Natal é mais que uma festa da famÃlia, mas inclui a famÃlia. De facto, o Filho de Deus quis vir ao mundo no interior de uma famÃlia, nela viveu a maior parte da sua vida, num casamento realizou o primeiro milagre e das casas de famÃlia fez o cenário de muitas das suas intervenções apostólicas. A nossa diocese está neste ano empenhada em ajudar as famÃlias cristãs a viverem a sua vocação especÃfica de «igrejas domésticas». Por isso, quero dedicar a mensagem de Natal deste ano à s famÃlias, tanto à s que celebram 25 ou 50 anos de matrimónio, como aos casais mais novos. 2 - A famÃlia não é um acaso da história, mas uma realidade que obedece a um plano e tem uma missão. A famÃlia foi criada por Deus como berço da vida e do amor humanos e base da sociedade civil. Ao vir ao mundo, o Filho de Deus incutiu no amor humano um fermento de purificação e de elevação, libertando a famÃlia do cÃrculo vicioso da poligamia, do divórcio, do aborto e do abandono das crianças e velhos. Tão alto elevou o matrimónio que o casal cristão, unido e estável, pelo diálogo amoroso e ajuda diária, partilhando sonhos e fracassos, sempre ancorado na vitória pascal, torna-se para o mundo uma imagem do amor de Jesus Cristo pela Igreja, um amor único, permanente e pascal. Por sua vez, a famÃlia cristã, pela oração familiar, pelo baptismo e educação religiosa dos filhos, pela abertura aos vizinhos e aos pobres, pela integração na vida da paróquia e da diocese, pela vivência do Domingo e frequência da Missa, pelo amparo da vocação pessoal de cada filho, é uma «igreja doméstica, de modo que os filhos aà criados passam facilmente do ambiente da casa à compreensão da Igreja e seu dinamismo. É dessas famÃlias que normalmente surgem alguns filhos para o sacerdócio e para a vida religiosa. S.to Agostinho chega mesmo a dizer que o pai de uma famÃlia cristã, pelo espÃrito criado em sua casa e pelos horizontes que abre aos filhos, tem qualquer coisa do ministério do bispo. Realmente, das grandes alegrias de um bispo faz parte a paz e a comunhão de sentimentos que ele encontra no contacto com pais cristãos e piedosos. São dois mares que se aproximam. 3 - Nos últimos anos, o clima laico e a cultura individualista têm minado as raÃzes que sustentavam a árvore da famÃlia: difunde-se entre os jovens a ideia do amor e da liberdade como algo espontâneo e promove-se a vida sexual tendo como preocupação maior evitar as doenças e os filhos; retirou-se a oração da vida das famÃlias; nas escolas e mesmo nos jardins de infância desde há anos que tudo o que se relaciona com o Natal de Jesus vem a ser substituÃdo pela poesia de animais e árvores, canções da natureza e brinquedos; nas catequeses é grande o número de crianças sem Missa dos Domingos; os próprios Estados parecem não ter um projecto sobre a famÃlia, dando prioridade ao relacionamento individual dos cidadãos e tratando as famÃlias como grupos sociais entre outros. Com princÃpios tão frágeis, alguns jovens sentem dificuldade em viver um amor duradouro; outros, porque viram fracassar o seu casamento, vivem agora uma segunda tentativa, numa situação dolorosa para eles e para os filhos; cresce o número dos que se contentam com uma famÃlia civil, sem encantos espirituais, sem oração, sem paróquia, sem diocese, sem Eucaristia. Este esvaziamento espiritual da famÃlia e desorientação doutrinária revelam por factos quanto a Humanidade precisa de Jesus Cristo. Esvaziaram-se as palavras e os gestos familiares porque a cultura e o coração se esvaziaram primeiro. E os casais mais velhos interrogam-se sobre qual a atitude a tomar. 4 - Na festa do Natal, quando por vezes se encontram na mesma casa famÃlias em situações tão diversas, é indispensável uma atitude de humildade para acolher as famÃlias afectadas pela desorientação cultural. Gostaria também de confirmar as famÃlias cristãs na solidez da doutrina que aprenderam e de lembrar que o projecto cristão sobre o amor e a famÃlia não é um peso inventado pela Igreja, mas que ele corresponde aos anseios mais profundos do coração humano Nesta hora de ruptura das tradições, os casais adultos e piedosos assumam-se humildemente como testemunhas do amor, mantenham com fervor o presépio e os hábitos da oração cristã, mostrem que o amor não está nas coisas , ainda que elas possam ajudar a exprimir o amor, lembrem que as situações de matrimónios irregulares não excluem as pessoas da Igreja, ainda que obriguem ao gesto humilde de não participar na Comunhão nem exercer tarefas de catequistas e outras, mas essa posição é, paradoxalmente, uma homenagem à dignidade da famÃlia. A celebração do Natal faz-se neste ano ao Domingo, o que permite reunir a evocação do Nascimento e da Páscoa de Jesus e sublinhar um gesto que sempre me impressionou - ver pais e mães idosos a beijarem a imagem de Jesus Menino, como se fossem crianças, ao lado dos filhos e netos. São os mesmos adultos que, no dia de Páscoa, se ajoelham para beijar a Cruz de Jesus Ressuscitado. O seu amor conjugal tem ali as suas raÃzes, na ternura do Natal e no espÃrito de sacrifÃcio, e por isso durou tanto. É esse tesouro de sentimentos que desejo a todos os casais em jubileu e aos casais novos, a todos os avós, aos filhos e aos netos. Para todos os leitores, um Santo Natal e Feliz Ano Novo. Natal de 2005 Joaquim Gonçalves, Bispo de Vila Real Natal Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...