Nota Pastoral da CEP por ocasião do 100.º aniversário da fundação da FamÃlia Paulista
1. Com esta Nota Pastoral a Conferência Episcopal Portuguesa quer associar-se às celebrações do 100.º aniversário da fundação, pelo Beato Tiago Alberione, da Família Paulista, que teve o seu início com a criação da Sociedade São Paulo (Paulistas).
A experiência de encontro com Cristo que teve em 1900 na Sé de Alba, por ocasião do encerramento do Ano Santo de 1900, é um ponto de referência essencial na inspiração do carisma paulista: «Sentiu-se profundamente obrigado a preparar-se para fazer alguma coisa para Deus e para os homens do novo século com quem iria viver».
2. Tiago Alberione nasceu a 4 de abril de 1884 em São Lourenço de Fossano, na Itália. Frequentou os seminários de Brá e Alba, sendo ordenado sacerdote em 1907. Após a formação teológica, assume funções de atividade paroquial e de docência no seminário de Alba, além de confessor e diretor espiritual.
A partir de 1913 assume o encargo do semanário diocesano Gazzetta d’Alba, que vê como sinal para concretizar as suas intuições iniciais: «O Bispo, quando se tratou de começar, fez soar a hora de Deus encarregando-me de me dedicar à imprensa diocesana, a qual abriu caminho ao apostolado».
No dia 20 agosto de 1914, com um pequeno grupo de pessoas inteiramente dedicadas à boa imprensa, abre a Escola Tipográfica Pequeno Operário. É deste núcleo que o Padre Alberione dá início à Congregação religiosa Pia Sociedade de São Paulo, que recebe o beneplácito diocesano em 1927 e a aprovação pontifícia em 1949.
3. A partir de 1915, o Padre Alberione pensa envolver também as mulheres na missão da boa imprensa. Daí vão surgir diversas congregações femininas: a Pia Sociedade Filhas de S. Paulo (Paulinas), fundada no dia 15 de junho de 1915, dedicada à imprensa; as Pias Discípulas do Divino Mestre, fundadas no dia 10 de fevereiro de 1924, com o apostolado da adoração eucarística, assistência aos sacerdotes e serviço litúrgico; as Irmãs de Jesus Bom Pastor (Pastorinhas), fundadas no dia 7 de outubro de 1938, com o objetivo de ajudar os párocos na educação cristã dos fiéis, na catequese e na liturgia; as Irmãs da Rainha dos Apóstolos (Apostolinhas), fundadas no dia 8 de setembro de 1959, para a procura vocacional a favor de todas as instituições eclesiásticas.
Já a partir de 1917 funda uma associação chamada União dos Cooperadores da Boa Imprensa, com o desejo de reunir à volta das Congregações por ele fundadas sacerdotes, religiosos e leigos que, com a oração, as ofertas e as mais diversas colaborações incrementem as iniciativas do apostolado da imprensa.
Em 1960, a Congregação para os Religiosos aprova globalmente quatro Institutos seculares agregados à Sociedade de S. Paulo: Jesus Sacerdote, para o clero diocesano; S. Gabriel Arcanjo, para jovens leigos; Nossa Senhora da Anunciação, para jovens leigas; Instituto da Santa Família, este em 1971, para casais cristãos.
4. As cinco Congregações religiosas, os quatro Institutos seculares e a União dos Cooperadores formam, por vontade explícita do Padre Alberione, a Família Paulista: «Todos os Institutos têm origens comuns, espírito comum e fins convergentes». Entre os fins convergentes da Família Paulista está incluído o empenho apostólico através da comunicação.
Quando o Padre Alberione morre, em 1971, o pequeno grupo inicial de dois jovens era então um conjunto de alguns milhares de homens e mulheres que partilharam os mesmos anseios missionários, empenhando-se numa vocação religiosa para serem testemunhas de Cristo como escritores e jornalistas, colocando ao serviço da evangelização tipografias, coleções de livros, jornais e revistas, estações de rádio, emissoras de televisão, produtoras cinematográficas e discográficas, livrarias, centros de difusão e venda porta a porta. Hoje, a Família Paulista, em fidelidade criativa ao seu Fundador, adota para o serviço do Evangelho também a comunicação digital.
5. O Beato Tiago Alberione compreendeu que, para servir a Igreja e os homens do novo século, era necessário usar os “novos meios” do progresso e «trabalhar numa organização com outros». A atividade desenvolvida pelas suas Congregações a favor da comunicação para o Evangelho é definida pelo Beato Alberione como “apostolado” e verdadeira pregação.
Sob o impulso do Concílio Vaticano II, fala também de apostolado da comunicação social, apostolado dos meios modernos e apostolado das comunicações. Para ele, o apostolado paulista não é uma nova contribuição para a evangelização, mas uma nova forma que completa a existente até então. O Beato Alberione define, de modo original, este apostolado pelo uso dos meios de comunicação para realizar de uma outra forma o que o sacerdote faz com a pregação oral.
6. Os membros da Família Paulista são os continuadores da iluminação e do carisma que Deus deu à Igreja e ao mundo por meio do Beato Alberione. São convidados a olhar para o futuro, para os homens e as mulheres deste novo século, preparando-se para fazer melhor, para que também no novo “continente digital” em que vivemos brilhe a luz do Evangelho, se possa reconhecer o rosto de Cristo, seja possível ouvir a sua voz e acolhê-I'O como o Caminho, a Verdade e a Vida.
O Beato Alberione entregou São Paulo aos seus continuadores como pai, modelo e inspirador, pedindo que imitássemos «a sua personalidade, a santidade, o coração, a intimidade com Jesus, a sua obra na dogmática e na moral, a marca que ele deixou na organização da Igreja, o zelo por todos os povos».
Paulo VI, na audiência concedida a toda a Família Paulista a 28 de Junho de 1969, na presença do Padre Tiago Alberione, afirmou: «O nosso Padre Alberione, sempre atento a perscrutar “os sinais dos tempos”, isto é, as mais geniais formas de chegar às almas, deu à Igreja novos instrumentos para se exprimir, novos meios para dar vigor e amplitude ao seu apostolado, nova capacidade e nova consciência da validade e da possibilidade da sua missão no mundo moderno e com os meios modernos. Em nome de Cristo, nós lhe agradecemos e o abençoamos».
7. Cem anos depois de a Sociedade de São Paulo ter sido fundada, seguindo as pegadas de São Paulo, todos os membros da Família Paulista são convidados a empenharem-se em reavivar o dom recebido de Deus através do Beato Tiago Alberione com um renovado impulso apostólico, com entusiasmo e generosidade, numa fé criativa, com o mesmo espírito de unidade que caracterizou as primeiras gerações, para que se realize uma nova “primavera paulista”.
Ser apóstolos da comunicação, em comunhão de vida, exige pessoas autênticas. O Beato Alberione viu claramente desde o princípio, na sua iluminação carismática, que «é necessário desenvolver toda a personalidade humana para a própria salvação e para um apostolado mais fecundo: mente, coração, vontade».
Apelamos à fidelidade ao carisma da Família Paulista, enriquecendo assim a Igreja na sua missão de levar a Boa Nova até aos confins da terra.
8. O mundo da comunicação hoje, que maioritariamente se encontra na mão de grupos económicos e políticos, e tantas vezes cheio de vozes que seduzem e enganam, é um desafio constante a um renovado apostolado da comunicação social.
Queremos encorajar a todos os que trabalham no vasto mundo da comunicação social, enquanto tarefa de toda a Igreja, para que sejam profetas da justiça e da paz, do diálogo e da solidariedade. O exemplo de Tiago Alberione desafia nos a ser criativos e audazes para melhorar a comunicação da Igreja com o mundo contemporâneo, segundo os recentes pronunciamentos pontifícios.
Não devemos ter medo de nos lançarmos ao largo neste “mar digital”, confiando plenamente em Deus providente, em comunhão com Ele e com todos, impulsionados pelo amor de Cristo a amar os homens e as mulheres de hoje, fixando o horizonte do novo século com o coração cheio de esperança. Que neste renovado impulso missionário sejamos guiados pelo apóstolo São Paulo e assistidos pela materna proteção da Virgem Maria, Rainha dos Apóstolos.
Fátima, 1 de maio de 2014
Conferência Episcopal Portuguesa