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Nota Pastoral da CEP sobre «Bartolomeu dos Mártires, Modelo para a renovação da Igreja»

Conferência Episcopal Portuguesa
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1. Celebramos, já no próximo dia 3 de maio, os 500 anos do nascimento do Bem- aventurado Bartolomeu dos Mártires, um dos mais insignes promotores da renovação da Igreja nos tempos modernos. Mergulhado em Deus e conduzido pelo Espírito, ele soube, num período particularmente conturbado da vida da Igreja, intercetar caminhos de grande degradação de costumes e encetar vias de rejuvenescida evangelização.

Dom Frei Bartolomeu nasceu em Lisboa, em 1514, na freguesia de Nossa Senhora dos Mártires, e entrou na Ordem Dominicana em 1528. Foi professor nos Conventos de S. Domingos de Benfica, Batalha e Évora. Foi depois também Prior do Convento de Benfica e finalmente Arcebispo de Braga (1559 1582). Encontra-se sepultado em Viana do Castelo no Convento de S. Domingos que ele próprio mandou construir e onde se recolheu até à sua morte em 16 de julho de 1590.

Foi decisiva a sua contribuição, na última sessão do Concílio de Trento (1561 1563), para reformas na Igreja que, no seu dizer, «estava para cair». Entre as Petições que apresentou neste Concílio, destacam-se duas, pela sua atualidade: a obrigação dos Pastores permanecerem próximos dos fiéis que lhes estão confiados, um dever para o qual o Papa Francisco repetidamente tem chamado a atenção; a criação de seminários, como obrigatórios para a formação humana e espiritual, teológica e pastoral dos sacerdotes, tão urgente naquela época e necessária nos dias de hoje.

O próprio Papa Pio IV, que ele visitou pessoalmente em Roma durante uma interrupção da sessão conciliar, qualificou assim, em carta enviada ao Cardeal Dom Henrique, a sua participação no Concílio: «Tal satisfação nos deu, no tempo em que participou, com a sua bondade, religião e devoção, que o ficámos tendo em grande conta, com tamanho conceito da sua honra e virtude que não poderão alterá-lo queixumes de ninguém».

 2. Regressado à sua Arquidiocese, prosseguiu com reformas já antes iniciadas e, pelo menos algumas delas, confirmadas e oficializadas por decisões conciliares:

– Fundou o Seminário, o primeiro em toda a cristandade, para a formação dos presbíteros, uma novidade que o Papa S. João Paulo II fez questão de mencionar na celebração da sua beatificação.

– Para formação e uso dos sacerdotes, designadamente no seu ministério de instruir os fiéis e os consolidar na fé e prática de vida, escreveu o «Catecismo ou Doutrina Cristã e Práticas Espirituais», dois anos antes de ter sido publicado o Catecismo do Concílio de Trento pelo Papa S. Pio V.

– Promoveu e impôs uma rigorosa administração dos bens eclesiásticos, para os repartir equitativamente, «sem entesourar nada», como ele escreveu, fomentando e pondo em prática uma especial solicitude para com os mais pobres e desprotegidos. Costumava dizer que «em sua casa só ele era o estranho e os pobres eram os verdadeiros e naturais senhores dela».

– A sua proximidade ao povo que lhe estava confiado levou-o a calcorrear repetidamente toda a Arquidiocese de Braga, em periódicas visitas pastorais, percorrendo, com os limitados meios de então, um território cuja extensão compreendia também a atual Diocese de Viana do Castelo e partes das atuais Dioceses de Vila Real e Bragança-Miranda.

– Primariamente para sua própria orientação espiritual e pastoral, escreveu o famoso «Estímulo dos Pastores» que viria a ser editado por S. Carlos Borromeu, seu discípulo e apreciado amigo, e que, séculos mais tarde, iria ser oferecido pelo Papa Paulo VI a cada um dos bispos no encerramento do II Concílio do Vaticano.

 

3. Em todas estas e outras iniciativas e atividades mostrou a audácia, o ardor apostólico, a generosidade, a simplicidade e a santidade que fizeram dele um pastor exemplar para todos os tempos, incluindo os nossos. Assim o reconheceu explicitamente o Papa S. João Paulo II, ao beatificá-lo, a 4 de novembro de 2001, isto é, poucos dias depois de terminar o Sínodo dos Bispos que se dedicou à reflexão sobre a vivência do ministério episcopal, e ao referir-se às visitas pastorais do Beato Bartolomeu na Exortação Apostólica Pós-sinodal Pastores Gregis (n.º 46).

A sua vida e obra transpiram aquele dinamismo missionário sem fronteiras, aquela profunda convicção cristã que nascem da «Alegria do Evangelho» e são muito acentuadas pelo Papa Francisco: «O entusiasmo na Evangelização funda-se nesta convicção. Temos à disposição um tesouro de vida e de amor que não pode enganar, a mensagem que não pode manipular nem desiludir. É uma resposta que desce ao mais fundo do ser humano e pode sustentá-lo e elevá-lo. É a verdade que não passa de moda, porque é capaz de penetrar onde nada mais pode chegar. A nossa tristeza infinita só se cura com um amor infinito» (Evangelii Gaudium, n.º 265).

 

4. Que os 500 anos que decorrem sobre o nascimento desta grande figura da Igreja e do nosso País, que foi o Bem-aventurado Bartolomeu dos Mártires, sejam uma oportunidade para mais o conhecermos e darmos a conhecer. Há pessoas que, pelos princípios e valores que pautaram as suas vidas, são permanentes modelos de referência de todos os tempos. O Beato Bartolomeu, tendo vivido em tempos de uma enorme crise epocal, dentro e fora da Igreja, pode e deve ser visto como testemunha para acreditarmos que a evangelização e as reformas na Igreja não só são necessárias como possíveis.

Conhecendo-o e imitando-o cada vez mais, invoquemos também a sua proteção para a Igreja e para o nosso País. E peçamos a Deus, de um modo especial, a graça da sua canonização, que o pode projetar, para além das nossas fronteiras nacionais, para aquela dimensão eclesial que, afinal, mais corresponde ao bem que Deus, por seu intermédio, fez e quer fazer pela sua Igreja.

Fátima, 1 de maio de 2014

 



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