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Nota pastoral de D. Augusto César aos diocesanos de Portalegre - Castelo Branco

D. Augusto César
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Queridos diocesanos: Diante da calamidade indiscritível que vem assolando o país e de modo particular a área geográfica da nossa Diocese, venho partilhar do vosso sofrimento e gritar convosco que não pode mais acontecer assim. As chamas devoraram gratuita e ferozmente hectares sem conta de mata, deixando tudo queimado e coberto de fumo. Em seguida, irromperam pelos quintais e lamberam as casas, consumindo algumas e espalhando o terror, sobretudo entre os idosos. Isto para além das mortes que provocaram. Mesmo que as altas temperaturas expliquem muita coisa e o que provocaram expliquem muita coisa e o descuido também, parece adivinhar-se uma intenção maléfica de reduzir a cinzas tudo o que o território ostentava de verdura e riqueza natural da nossa gente. Em todo o caso, a dado momento o fogo gerava fogo e o vento atiçava as chamas, ao ponto de caçoarem dos meios humanos que lhes faziam frente e dos aéreos também. Em conclusão, queimou-se literalmente tudo e as consequências são desastrosas para o equilíbrio ecológico e para a economia dos pequenos e médios proprietários, além de algumas empresas florestadoras. Agora é preciso reflectir o futuro e abrir as mentalidades a uma actuação consertada que permita renovar com menos riscos e com maior segurança, pois a razão do clima e a espontaneidade da floresta não podem justificar incúrias prolongadas na limpeza dos terrenos e a falta de acessos programados, bem assim como de reservas estratégicas de água. Bem sei que a sensação de impotência sentida por toda a parte e o caos instalado geraram um desânimo contagioso, que pode ser mau conselheiro, mas a confiança não vem apenas da nossa força ou capacidade de resistir. Vem, antes, da Graça de Deus que se reza em família e em comunidade, uma vez que é ela que inspira gestos de solidariedade em cadeia e uma comunhão de bens verdadeiramente fraterna. O facto de se acolherem os velhinhos com afecto e fé, de se privar de repouso e férias para ajudar a defender o próprio e o alheio, de socorrer as necessidades mais à vista e com generosidade magnânima... mostra o que o homem é, por dentro, quando a fé inspira e humaniza as relações. Tenho mantido contactos pessoais e telefónicos com os párocos, para viver de perto as vossas incertezas e angústias. E com eles partilho da vossa sorte, rezando e encorajando a vossa confiança. As comunidades religiosas também se dedicam generosamente ao acolhimento, à caridade e à oração, mas não basta. Abrimos a Caritas diocesana a uma acção imediata, consertada com as paróquias, para socorrer os casos mais urgentes e em colaboração com a Caritas nacional esperamos chegar mais longe. Não percamos a confiança nem deixemos cair os braços de desalento. Seria a segunda e pior calamidade! Aceitando, agora, as novas regras e as ajudas possíveis, esperemos que as burocracias não sirvam para demorar os processos e que alguns poucos não venham a enriquecer à custa dos flagelos alheios. Que Deus vos proteja! Portalegre, 5 de Agosto de 2003-08-06 D. Augusto César


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