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«O Sacramento da Reconciliação Penitencial»

Diocese do Porto
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Jornadas Pastorais para o Clero do Porto

Uma centena de sacerdotes da Diocese do Porto estiveram reunidos, em Jornadas Pastorais, a reflectir sobre a acção reconciliadora da Igreja, na Casa Diocesana de Vilar, sob a orientação do Padre Dioniso Borobio, Professor da Universidade de Salamanca, de 23 a 27 de Janeiro. Perante as permanentes e rápidas mudanças culturais do nosso tempo e perante da propalada crise do Sacramento da Reconciliação, urge, como afirmava o Servo de Deus, o saudoso Papa João Paulo II, «uma renovada coragem pastoral para, na pedagogia quotidiana das comunidades cristãs, se propor de forma persuasiva e eficaz a (sua) prática». Foi com este espírito de coragem, e sentindo a necessidade de renovação da pastoral penitencial, que estes padres viveram esta semana de estudo e chegaram às seguintes conclusões, que colocam nas mãos do Seu Bispo: 1. O mistério da reconciliação é acção de Deus misericordioso, na história da salvação, por Cristo, no Espírito, pela mediação da Igreja. A acção reconciliadora da Igreja, no mundo e no seio das comunidades cristãs, vive-se e concretiza-se no itinerário penitencial de toda a Igreja, nomeadamente nas diversas iniciativas que ela vem tomando em ordem à construção da justiça e da paz. 2. O itinerário penitencial tem o seu centro na conversão, e no perdão que Deus misericordioso nos dá, através da Igreja. Por isso, na catequese e na celebração do Sacramento devem acentuar-se todos os seguintes elementos fundamentais: consciência do pecado e vontade de conversão (contrição), manifestação da conversão por sinais e palavras (confissão), manifestação da conversão através de gestos de caridade e justiça (satisfação), celebração da reconciliação e do perdão de Deus (absolvição). 3. É urgente a educação penitencial do povo de Deus. Por isso, os sacerdotes e toda a comunidade devem empenhar-se na proclamação da conversão através de palavras e de sinais, de tal forma que a celebração do sacramento expresse o seu verdadeiro sentido. Isto exige uma séria catequização mistagógica da comunidade sobre a penitência e uma preparação esmerada das várias celebrações do sacramento que o Ritual nos apresenta. 4. A necessidade de celebrar o Sacramento da Reconciliação nasce da consciência recta do pecado. Por isso, na educação do Povo de Deus tem que haver um esforço por renovar o sentido e a consciência de pecado. Isto pode fazer-se através de toda a acção evangelizadora da Igreja, e também através da distribuição de «modelos» adequados de exame de consciência àqueles que se aproximam do Sacramento. 5. A penitência implica uma dupla dimensão: pessoal e comunitária. Por isso, na pastoral da reconciliação há que procurar um equilíbrio entre a responsabilização pessoal e a expressão da solidariedade comunitária. 6. A penitência não se reduz à celebração do Sacramento da Reconciliação. Convém insistir, também, na importância que devemos dar à atitude penitencial na vida (= virtude da penitência) e na necessidade de valorizar devidamente as diversas formas de viver e celebrar a conversão permanente: penitências quotidianas, leitura e meditação da Palavra de Deus, celebrações da penitência sem absolvição, vivência da Quaresma como especial tempo de penitência, celebração e descoberta do carácter penitencial da Eucaristia. 7. A reconciliação sacramental supõe e implica a reconciliação real. Quem celebra o Sacramento deve sentir-se comprometido a viver e realizar a reconciliação na sua vida pessoal e social, pois a penitência implica a justiça. Urge recuperar e recriar o acto da satisfação, para que este represente uma verdadeira mudança de vida. 8. É muito importante que o Povo de Deus descubra o sentido da Penitência como um processo que exige espaço e tempo, não só para expressar a sua estrutura fundamental, mas também para possibilitar a autenticidade da conversão. Por isso, em algumas circunstâncias pode propor-se uma celebração da penitência espaçada no tempo (= processo penitencial), onde a satisfação poderá suceder antes da reconciliação sacramental ou absolvição: reconhecimento do pecado à luz da Palavra de Deus; regresso à vida para cumprir a satisfação ou verificar a autenticidade da conversão durante um tempo razoável; vinda para a reconciliação e absolvição. 9. As celebrações comunitárias da penitência com confissão e absolvição individual devem ter um lugar privilegiado na comunidade cristã, porque nelas não só se manifesta melhor a solidariedade dos membros da Igreja e o sentido comunitário da penitência, mas também porque supõe que estes membros se responsabilizam pessoalmente pelo pecado e pelas exigências da conversão cristã 10. A celebração da Reconciliação com um só penitente insere-se também na estrutura própria de toda a celebração litúrgica, tal como é proposto pelo Ritual da Reconciliação e pelo Catecismo da Igreja Católica n.1480 (= Acolhimento, leitura da Palavra de Deus, exortação, confissão, imposição e aceitação da penitência, absolvição, acção de graças), de tal forma que os sacerdotes terão a preocupação de oferecer uma adequada realização do sacramento. 11. O lugar da penitência, o confessionário, deve distinguir-se pela sua beleza, remeter para uma dimensão simbólica do sacramento e proporcionar uma abertura ao transcendente, um clima de recolhimento, confidencialidade e serenidade. 12. As comunidades paroquiais deverão ter um calendário penitencial no qual se proponham os momentos, lugares e formas de reconciliação e celebração do Sacramento que se oferecem durante todo o ano litúrgico. Seria conveniente que, em circunstâncias normais, em todas as comunidades houvesse algumas celebrações comunitárias da Penitência ao longo do ano. A absolvição sacramental geral só é permitida em circunstâncias especiais exigidas pelo Ritual mas que presentemente não se verificam. 13. A Igreja inteira deve esforçar-se em todos os momentos e circunstâncias por viver reconciliada e ser reconciliadora. O ministério da reconciliação diz respeito a todo o cristão, ainda que sob formas diferentes, pelo facto de todos serem responsáveis e continuadores da missão reconciliadora de Cristo no seio do mundo. Por isso, urge propor aos leigos, que na sua especificidade laical e secular, promovam a reconciliação através da correcção fraterna, da promoção do diálogo, da resolução de conflitos, do perdão das ofensas, da promoção da paz, seja a nível familiar, social ou político. Seria de desejar a criação de centros de acolhimento e de reconciliação onde se pratique a escuta, o diálogo e o aconselhamento: serviço que poderá ser feito por sacerdotes, mas também por leigos devidamente reconhecidos para tal. 14. Se nos é lícito formular um voto, muito desejaríamos que estas jornadas pastorais e suas conclusões fossem um ponto de partida para a renovação da celebração do Sacramento da Reconciliação e de toda a vida cristã, bem com da presença da Igreja na sociedade. Gabinete de Informação da Diocese do Porto


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