A Comissão Justiça e Paz da Diocese de Setúbal, atenta à maneira como tem decorrido a campanha para o próximo acto eleitoral, não pode deixar de manifestar alguma apreensão mas também a esperança que sempre a anima.
O clima de descrença, de pessimismo e de desconfiança que atinge muitos cidadãos, talvez fruto da crise económica, social e de valores em que vive o nosso país, ( de forma muito particular na região de Setúbal) não está a ser combatido, como seria desejável, nas acções de campanha promovida pelos partidos e divulgada nos meios de comunicação social.
Talvez por isso, a Comissão deva lembrar aos Cristãos da Diocese que estes caminham sempre na procura e na construção do Reino, caracterizado pela Liberdade, pela Justiça e pela Paz. Os cristãos são homens de Esperança e Confiança e têm a obrigação, por mandato da sua Fé, de participar, juntamente com todos os outros homens, na criação dum ambiente social e político que diga não ao conformismo, a todos os tipos de corrupção, de clientelismo e interesses meramente de grupo.
“Ninguém se respeita a si próprio se nega o seu labor diário por uma sociedade mais justa e mais fraterna » recordava a Comissão Nacional Justiça e Paz em recente comunicado.
Como lembravam também os bispos portugueses, no final do ano, todos teremos de ir mais além e enfrentar os problemas de fundo do nosso país criando uma onda de entusiasmo que permita que se dê vida a um mundo melhor, um “mundo outro” em que se corrijam os vícios do “sistema” em que vivemos presentemente.
Denunciar, não colaborar e lutar contra tudo o que conduza á exclusão e ao aumento da pobreza, é imperativo de todo o cidadão e, em particular dos cristãos. Para tal há que ter presente a Doutrina Social da Igreja, cujo fundamento base é o “mandamento do Amor” e que tem por pilares principais a Dignidade da Pessoa Humana, o Bem Comum, a Solidariedade e a Liberdade. No acto eleitoral que se aproxima “votar é escolher caminhos e escolher é comprometer-se generosamente na sua concretização”, disseram os bispos portugueses a esse respeito.
Devem assim os cristãos da Diocese de Setúbal, conscientes destas suas responsabilidades e dos problemas locais sempre mais intensos do que as médias nacionais (mais desemprego, mais pobreza, mais falências, etc.), estudar interessadamente os programas dos partidos em presença, ouvindo atentamente e criticamente as promessas dos políticos regionais. A Fé exige e impõe ao cristão o melhor conhecimento possível sobre as realidades locais, e os projectos dos vários agentes para as melhorar. Abster-se significa uma atitude de indiferença pelos problemas dos outros seus irmãos, e será pecado contra o mandamento do Amor que a todos nos obriga.
É necessário votar para mudar o que está errado, é necessário participar para caminhar para o Reino de Paz e Justiça ! Para uma verdadeira Páscoa !
Setúbal, Quaresma de 2005
Comissão Justiça e Paz da Diocese de Setúbal
(Mário Moura – Presidente)