Portugueses devem ajudar a integrar os imigrantes D. António Vitalino 16 de Agosto de 2005, às 10:58 ... Homilia de D. António Vitalino, Bispo de Beja, na Missa pelos Refugiados e Migrantes Amados Peregrinos, 1.Vindos de perto e de longe, juntamo-nos aqui em Fátima, lugar que Nossa Senhora escolheu para recordar a um mundo dividido e em guerra aquilo que Jesus disse e fez na plenitude dos tempos, há dois mil anos, na cidade santa de Jerusalém. Foi por nós e nossa salvação que Ele se fez um de nós, viveu e entregou a vida, para que todos tenhamos a vida e em abundância. Todos queremos a vida e uma vida feliz. Para conseguir isso não hesitamos deixar o meio em que nascemos. Mas defrontamo-nos com muitos limites, obstáculos, sendo a morte o inimigo radical. E muitos são forçados a deixar o seu povo e o seu paÃs por motivos de perseguição polÃtica, religiosa, racial e outros. Nesta celebração queremos lembrar sobretudo estes emigrantes forçados e recomendá-los à Mãe do Céu e à nossa atenção e oração. Há 88 anos, neste mês de Agosto, também os pastorinhos de Fátima foram presos e levados para Ourém, impedidos de estar aqui na Cova da Iria no dia 13, para receber a visita e mensagem da Senhora que, em Maio de 1917, lhes dissera para vir a este lugar nos dias 13 dos meses seguintes. A intercessão dos bem-aventurados Francisco e Jacinta e também da recentemente falecida irmã Lúcia recomendamos todos estes nossos irmãos forçados a abandonar a sua pátria. O número de refugiados ultrapassa neste momento os vinte milhões, o dobro da população portuguesa, sem contar os milhões de deslocados das suas terras, em muitos paÃses da Ãsia e da Ãfrica, por motivo de guerra. É uma vergonha para o género humano, depois de tantos séculos de história, ainda não ter aprendido a viver em paz com os seus semelhantes. 2. Irmãos peregrinos, aqui reunidos em vigÃlia de oração, num santuário que acolhe gente de todo o mundo, decerto estais conscientes do significado de sermos uma assembleia unida à volta de Nossa Senhora, que nos quer pôr em comunhão profunda com seu Filho, Jesus, nosso Salvador, sem discriminação de raças, de cores, de ideologias polÃticas ou de proveniência. Aqui antecipamos simbolicamente a realidade do Céu: participantes da glória de Deus, que passou a ser tudo em todos, a plenitude da vida de cada um de nós. A Igreja tem de ser testemunho, sinal e realização da união do género humano em Deus. Mas também estamos conscientes do longo caminho que temos a percorrer até à realização total desse desÃgnio de Deus. Podemos dizer que Fátima antecipa essa vontade de Deus. Por isso nós vimos até aqui, percorrendo longas distâncias e e sentimo-nos bem. O coração humano repousa quando se sente realizado. A maioria dos emigrantes sente a necessidade de vir a Fátima no tempo das suas férias. Aqui sente aquilo que muitas vezes falta lá fora: a comunhão com Deus e uns com os outros, sem acepção de pessoas. Levemos também daqui, sabendo que Maria nos acompanha, a forte vontade de realizar essa comunhão nos locais onde vivemos e trabalhamos. 3. Irmãos peregrinos, temos necessidade de caminhar juntos, acolher no nosso caminho os nossos semelhantes, escutá-los e dialogar com eles sobre as razões dos nossos e dos seus desânimos, mas também da nossa esperança, convidá-los a entrar nas nossas casas, partilhar com eles as nossas vidas, para recobrarmos ânimo, descobrimos o sentido da vida e trilharmos o caminho da comunhão fraterna, na certeza de que onde há amor aà está Deus. 4. Os textos da Liturgia que estamos a celebrar convidam-nos a nos tornarmos próximos de todos os que precisam da nossa ajuda, da nossa atenção e acolhimento. Na nossa sensibilidade cristã achamos natural amar o próximo como a nós mesmos. Mas nem sempre é claro para todos quem é o nosso próximo em cada momento e o que implica dedicar-lhe o nosso amor. A parábola do bom samaritano inspira-nos na resposta: é aquele que muitos consideram inimigo, porque membro de outro paÃs, raça ou religião e carece de auxÃlio. Já no Antigo Testamento Deus advertia o povo eleito, para acolher bem no seu meio o estrangeiro, lembrando-se de que também foi estrangeiro em terras do Egipto e que, além disso, não devia tratá-lo como escravo, mas como irmão. Foi nesta tradição bÃblica que começou a ganhar força o princÃpio de que não devemos fazer aos outros aquilo que não gostamos que nos façam a nós ou nos fizeram, pois nunca se deve pagar o mal com mal igual ou pior, mas com perdão e misericórdia. Também muitos de nós se podem lembrar do que lhes aconteceu em terras estrangeiras, muitas vezes fugidos de cá e mal acolhidos em terras de destino, por vezes até por membros do próprio paÃs, que aproveitaram a situação de dependência dos seus compatriotas, para os explorar e fazer riqueza. Agora lembremo-nos daqueles que vêm até nós e ajudemo-los a libertar-se dos seus medos e opressores, para que se tornem cidadãos integrados no nosso paÃs e possam reconstruir a sua vida e promover as suas famÃlias. Como nos adverte S. Pedro, na leitura feita em lÃngua estrangeira, cultivemos uma intensa caridade entre nós, sendo hospitaleiros e pondo ao serviço dos outros os dons que recebemos, para que Deus seja glorificado em todas as coisas, pois a Ele todos nós pertencemos. 5. Aqui estamos, irmãos peregrinos, neste local bendito, para reavivar a nossa comunhão com o Senhor e uns com os outros, para nos apoiarmos mutuamente nos caminhos da nossa vida, contando sempre com Jesus, que encontrou esta maneira maravilhosa de ficar connosco, na Eucaristia, mistério de amor e de doação da vida por todos nós. Alimentando-nos do Pão descido do céu, temos parte na sua vida e na sua glória. Aprendemos a viver numa atitude de doação, de gratidão, de misericórdia, de transformação da nossa vida em oferta agradável a Deus. Neste caminho de santidade contamos com a intercessão daquela que Jesus nos deu como nossa mãe, precisamente quando na cruz entregava a sua vida por nós, e que aqui em Fátima mostrou verdadeiramente ser mãe atenta aos filhos em dificuldade. A Ela nos confiamos, assim como todos aqueles que foram forçados a deixar a sua terra natal. Também a ela queremos recomendar as vÃtimas dos incêndios e os nossos bombeiros, que abnegadamente lutam contra os numerosos fogos. Também lhe pedimos que desvie as mãos criminosas de atentar contra os seus irmãos ou contra a natureza. Não matarás, assim prescreve o 5° mandamento da lei de Deus, que este santuário tomou como inspiração de todo o ano de peregrinações. Há muitas maneiras de atentar contra a vida humana. Os crimes contra a ecologia também afectam a vida do homem e podem ser transgressões do mesmo 5° mandamento. Nestes dias muitos jovens estão a caminho de Colónia, para aà se encontrarem com o Papa Bento XVI. Pedimos a Nossa Senhora para que este encontro ajude os jovens ao encontro fundamental da sua vida: descobrir Cristo como Senhor e Salvador e adorá-l'O. Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe, Senhora de Fátima e de tantos outros tÃtulos com que sois invocada pelo mundo fora, confiamos em Vós, velai por todos os que vivem e trabalham longe da sua terra natal, amparai as suas famÃlias, uni-as no amor, rogai por nós, agora e na hora da nossa morte. Ãmen. D. António Vitalino, presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana da Conferência Episcopal Portuguesa Migrações Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...