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Quaresma tempo de Graça

D. Manuel Pelino
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Mensagem da Quaresma do Bispo de Santarém

Todos os anos no início da Quaresma vos escrevo uma carta para vos convidar a viver empenhadamente esta quadra litúrgica. Dou muita importância ao período quaresmal porque é um tempo oportuno para compreender e viver o coração da fé - o mistério da Páscoa. A forma como entendemos e vivemos este tempo santo influencia, em grande parte, a qualidade da nossa vida cristã. Algumas décadas atrás, a vivência da Quaresma era apoiada por muitas tradições religiosas e culturais. Actualmente, porém, o ambiente social não ajuda, antes dispersa e distrai do que é fundamental. Se não houver da nossa parte reflexão e vontade de estabelecer algum programa para este tempo litúrgico, deixamo-nos distrair e desperdiçamos esta oportunidade favorável de crescimento espiritual. Ser cristão é participar da luz, da santidade e do amor de Deus. É uma graça que dá beleza e encanto à vida humana. A Quaresma ajuda-nos a descobrir a graça de sermos filhos amados de Deus, participantes da vida nova da Ressurreição de Cristo, santificados pelo Espírito Santo. Desde o Baptismo começamos a viver esta comunhão com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo e, ao longo da existência, devemos cultivar a vida espiritual em ordem a crescer na santidade de filhos de Deus. Este é o objectivo do período quaresmal que tem o seu momento culminante na renovação das promessas do Baptismo na Vigília Pascal. A Quaresma apresenta-se como um itinerário para renovar a nossa vida. Inicia na Quarta Feira de Cinzas com o apelo à conversão: “Convertei-vos e acreditai no Evangelho”. Esta exortação, acompanhada do rito das cinzas, lembra-nos a nossa condição de pecadores. É o ponto de partida do itinerário. Se não reconhecemos os nossos pecados também não nos livramos deles. O retiro quaresmal ajuda-nos a reconhecer e a confessar as nossas faltas e fraquezas e a alcançar o perdão para seguir mais fielmente os caminhos de Deus. A meta deste itinerário é também constantemente posta à nossa consideração: participar da vida nova do Senhor Ressuscitado na Páscoa. A Quaresma apresenta-se, deste modo, como um caminho para a liberdade, para a luz e para a santidade. O fruto é a alegria da Páscoa. Somos, portanto, uma comunidade de pecadores chamados à santidade como nos lembra este período litúrgico. Para fazer a passagem do pecado à beleza da graça, Deus chama-nos à conversão, à mudança interior do coração e dá-nos a sua ajuda para nos guiarmos pelo Evangelho e não pelas nossas conveniências e interesses ocultos. A conversão é, aliás, a atitude fundamental que Jesus nos pede: “Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditai no Evangelho” (MC 1,15). São-nos propostos vários exercícios espirituais para fazer a conversão: Oração mais intensa; escuta mais assídua da Palavra de Deus; renuncia a nós mesmos (sentido do jejum); caridade mais generosa e partilha fraterna. Procuremos colocar no nosso programa a prática destes exercícios quaresmais. A grande escola para compreendermos e vivermos a Quaresma é a liturgia de cada Domingo e algumas devoções quaresmais (como a Via Sacra). A liturgia não só nos ensina mas leva-nos a viver a fé. A linguagem litúrgica, feita de ritos, símbolos, cânticos e palavras, é de uma grande beleza e significado. Na Quaresma, a Liturgia é ainda mais rica e cuidada. A Diocese, através do Secretariado Diocesano de Acção Pastoral (SCAP), publicou alguns subsídios oportunos e adequados para enriquecer as celebrações dominicais deste tempo santo. Procuremos pô-los em prática. Também o Secretariado Diocesano da Pastoral Familiar enviou aos párocos propostas interessantes e acessíveis para a oração em família. São ajudas apreciáveis e enriquecedoras que não devemos desperdiçar. O fruto da renúncia quaresmal, no ano passado, totalizou 31.709, 55 Euros. Como tinha sido anunciado, metade foi entregue à Caritas Diocesana de Setúbal para apoio a famílias com problemas sociais causados pela vaga de desemprego. Outra metade foi destinada a obras urgentes num orfanato em Nampula (Moçambique) a cuidado das Irmãs de Nossa Senhora da Apresentação de Maria. Para o próximo ano proponho também dois destinos: apoio ao projecto “A vida nasce” da Diocese de Portalegre- Castelo Branco para ajudar as mães adolescentes desprovidas de meios. Outra iniciativa que precisa do nosso apoio é a “Escolinha de Nossa Senhora de Fátima”, perto de Luanda, para crianças deslocadas da guerra, ao cuidado das Servas de Nossa Senhora de Fátima. Que o Senhor nos guie nos caminhos da conversão para alcançarmos a luz e a alegria da Páscoa. Manuel Pelino Domingues, Bispo de Santarém. 5 de Fevereiro de 2005.


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