Nota de D. António Vitalino, Bispo de Beja, para a Semana dos Seminários
Durante o mês de Novembro comemora-se a Semana dos Seminários. Este mês tem características diferentes dos restantes onze. Na natureza do hemisfério norte acentua-se o Outono. As árvores de folha caduca vão ficando cada vez mais despidas, as chuvas aumentam, a temperatura desce e obriga-nos a procurar agasalhos ou ambientes mais protegidos, torna-nos mais “caseiros”, isto é, mais recolhidos com os amigos e a família. Na tradição cristã lembramos os nossos antepassados, que já partiram da nossa convivência, mas de um modo muito especial celebramos todos os santos, aqueles que já se encontram definitivamente na casa de Deus, criando em nós a nostalgia da sua companhia e o desejo de também sermos santos, para um dia desfrutarmos novamente da sua companhia.
Todo este ambiente natural inspirou-me no sentido de abordar o Seminário, a casa de formação dos futuros padres, como casa e escola de santidade, alterando na última palavra a mesma expressão usada pelo Papa João Paulo II, na Carta escrita no Início deste Novo Milénio (NMI, nº 43). Precisamente nessa mesma Carta, no n.º 30, o Santo Padre afirma sem hesitar que o horizonte de todo o caminho pastoral, ou seja, de toda a acção da Igreja é a santidade. Assim sendo, também os seminários devem inserir-se dentro deste programa, a fim de ajudar os futuros padres a enveredar e crescer neste caminho de santidade, para que, mais tarde, desenvolvam a sua acção na Igreja com os mesmos objectivos. A santidade, isto é, a união plena com Deus e o cumprimento da Sua vontade, que se resume na nossa santificação (1 Tes 4, 3), na perfeição da caridade, é a meta de todo o trabalho e de todos os ofícios na Igreja.
Nos últimos anos foram publicados muitos documentos sobre a Igreja, a formação e o ministério dos presbíteros. Mas ao falar da santidade, estamos a tocar no fundamento e na finalidade de tudo na Igreja. Num mundo tecnologicamente evoluído, com uma economia e um sistema de comunicação global, deparamos com pessoas cada vez mais isoladas no seu individualismo e subjectividade, com dificuldade de enveredar por um caminho de comunhão na caridade. Também os percursos da santidade são pessoais e exigem uma verdadeira e própria pedagogia da santidade, capaz de se adaptar ao ritmo dos indivíduos (NMI, nº 31). Encontrar e aplicar métodos educativos, pedagogias, é função da Escola. Por isso, no momento actual, mais que no passado, os Seminários terão de ser cada vez mais casas e escolas de santidade. Todas as afirmações da nossa fé e as acções salvíficas, mesmo os sacramentos, exigem de nós uma aceitação e prática conscientes, a fim de sermos capazes de testemunhar as razões da nossa esperança.
De modo muito breve aqui deixo estes pensamentos soltos, para ajudar a nossa Diocese a estimar o nosso Seminário, a colaborar com muito carinho com os seus formadores e alunos, para que o Povo de Deus tenha sempre os ministros que precisa: pessoas santas, que apostaram num caminho de santidade e atraem, pelo testemunho da sua vida e pela acção apostólica, para a Casa de Deus, para Cristo, o exemplo vivo do homem verdadeiro. Que este tempo aumente em nós a nostalgia da casa de família, a comunhão dos santos!
D. António Vitalino Dantas, Bispo de Beja