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Tempo de renovação e de santificação

D. António Marto
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Mensagem da Quaresma do Bispo de Viseu

1. Quaresma de graça e de santidade “Eis agora o tempo favorável; eis o tempo da salvação” (2 Cor 6, 1-2). A liturgia cristã propõe estas palavras do apóstolo Paulo para nos introduzir no caminho da Quaresma que leva à Páscoa da Ressurreição. Para muitos a Quaresma evoca um tempo de sacrifícios, jejuns e penitências, com uma certa nota de tristeza ou melancolia. No entanto, à luz das palavras do apóstolo, somos convidados a olhá-la, sobretudo, como um tempo especial de graça salvífica. É o próprio Deus que convida a sua Igreja a fazer um “retiro no deserto” com Ele, durante quarenta dias. É Ele mesmo que cuida da sua Igreja e a submete a uma cura de rejuvenescimento e de beleza. Oferece-lhe uma terapia espiritual de purificação, renovação e santificação. Nesta linha, a Quaresma é um tempo forte, tempo oportuno para cada um se reencontrar consigo mesmo, reencontrar o sentido da própria vida, pôr a vida em ordem, sair da mediocridade e responder ao chamamento de Deus à santidade, quer dizer a uma vida espiritual de qualidade de filho de Deus. Neste contexto, quero evocar aqui o acontecimento da próxima beatificação de Madre Rita de Jesus, filha da nossa Igreja viseense. Ela, mulher do povo, é um exemplo de santidade popular e quotidiana. Por isso, a santidade não nos deve meter medo, como se fosse um heroísmo extraordinário, só acessível a poucos. Ela não é obra nossa, mas participação gratuita da santidade de Deus. É graça, é dom, antes ainda de ser fruto do nosso esforço. 2. Quaresma eucarística Para nos abrirmos à acção de Deus e do seu Espírito em nós e nos nossos corações, o caminho da quaresma, à maneira de um retiro espiritual é feito de tempos particulares de escuta da Palavra, oração, reflexão, busca de reconciliação e perdão de Deus pelas nossas negligências. É a pedagogia da santidade. A própria liturgia da celebração eucarística, ao longo destes quarenta dias, está toda ela programada neste sentido e com este objectivo. Como não dar pois um lugar privilegiado à participação na Eucaristia, neste ano que lhe especialmente dedicado? A Eucaristia dominical constitui o momento forte deste retiro para iluminar e animar todos os dias da semana. É o próprio Cristo que aí nos faz o retiro: convoca-nos, reúne-nos como família no seu amor, ilumina a nossa vida com a sua Palavra, aquece o nosso coração com o calor da sua presença e sua comunhão, e, assim, vai renovando a nossa vida. A Eucaristia é, pois, o coração da Igreja e a pupila dos seus olhos. Deve tornar-se por isso o coração da vida de cada fiel e de cada comunidade, como fonte e energia de renovação e santificação. A Quaresma deste ano é também tempo propício para a descoberta e o aprofundamento da riqueza e da beleza do mistério da Eucaristia. Faço um apelo neste sentido às comunidades e aos párocos que aproveitem esta ocasião para realizar as catequeses eucarísticas que oferecemos à Diocese. 3.Quaresma de partilha Na pedagogia da santidade, o caminho de conversão quaresmal inclui também um estilo sóbrio de vida (jejum) e a partilha solicita com as necessidades do mundo e da Igreja, como expressão do amor fraterno e solidário. Neste ano, podemos concretizar esta dimensão em três aspectos que se revestem de actualidade. O primeiro, é o respeito e a estima pelos idoso e o acompanhamento e apoio na sua fragilidade ou solidão, a que convida o Santo Padres na sua mensagem quaresmal: “ Como é importante redescobrir este recíproco enriquecimento entre diversas gerações. O que sucederia se o povo de Deus se rendesse a uma certa mentalidade corrente que considera quase inúteis estes nossos irmãos e irmãs quando estão limitados nas suas capacidades pela fragilidade própria da idade ou da doença? Como, pelo contrário, será diferente a comunidade, a partir da família, se procurar manter-se sempre acolhedora em relação a eles! “ (n.3). O segundo aspecto, refere-se ao exercício do dever de cidadania responsável através do voto consciente e livre nas próximas eleições legislativas. Frente à tentação do desencanto e do alheamento, o exercício deste dever cívico reveste a forma de testemunho de participação interessada no bem comum da sociedade. E, por fim, o terceiro aspecto diz respeito à chamada “renúncia quaresmal” que cada fiel é chamado a fazer para partilhar os bens materiais com os mais necessitados. O produto desta renúncia, na nossa diocese, será destinado à paróquia da Calheta de S. Miguel, na ilha de Santiago, em Cabo Verde, para a realização de um projecto de apoio às mães solteiras, de alfabetização de adultos e formação juvenil. A todos abençoo no Senhor e desejo uma santa Quaresma! + António Marto, Bispo de Viseu


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