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Uma conferência em Roma com desafios pastorais

D. Jorge Ortiga
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Assembleia Extraordinária da C.E.P.,

Esta Assembleia Plenária, reduzida na duração e na agenda, não deixa de se revestir de importância particular, em Roma e em contexto de visita Ad Limina. Esta, como encontro com o sucessor de Pedro que preside à comunhão universal da caridade, é estímulo para que intensifiquemos a colegialidade entre nós; como peregrinação ao sepulcro de Pedro e Paulo e encontro com os responsáveis de dicastérios da Cúria Romana pode ajudar-nos na difícil tarefa do anúncio evangélico em contextos e contornos diversificados. 1 – Na comunhão cum Petro e sub Petro poderemos reavivar esta ligação pessoal mas, por outro lado, procurar mais profundamente a comunhão entre nós e as nossas dioceses que a Conferência Episcopal simboliza e exprime. Nesta área podemos dar graças a Deus pela realidade de sincera convivência e fraternidade que experimentamos em momentos de trabalho e de partilha das dores ou alegrias, pessoais ou eclesiais. No campo da operacionalidade pode ser oportuno reconhecer a necessidade duma presença mais activa e participativa no delinear de projectos de índole nacional que não só não diminuem a individualidade de cada diocese mas que a potenciam. Não sei se sou justo referindo que seria de esperar maior colaboração na proposta de temáticas a abordar, mais reflexão pessoal para maior profundidade e variedade na abordagem dos temas propostos. Daqui resultaria uma incidência mais abrangente e uma unidade no essencial como testemunho duma Igreja situada num país de dimensão reduzida embora com uma caracterização sociológica e religiosa diferente. 2 – Na comum responsabilidade de anúncio de Cristo, teremos de nos consciencializar, ainda mais, da nossa integração na União Europeia. O chamado Tratado Reformador parece ser portador de alguma esperança que nos deve comprometer. O artigo 15 ao reconhecer que «a União respeite e não prejudique, em virtude do direito nacional, as Igrejas e as associações, nem as comunidades religiosas nos membros de Estado» e chamando a atenção para as heranças culturais, religiosas e humanistas, torna-se uma responsabilidade não só para que as raízes cristãs da Europa sejam reconhecidas mas, sobretudo, para que a evangelização continue a permear todas as realidades humanas no respeito e tolerância por experiências religiosas. Numa laicidade justa toca-nos o dever de mostrar que Cristo une e aproxima culturas. Nunca poderemos renunciar ao anúncio duma Boa Nova para o nosso povo na certeza de trabalhar para uma sociedade mais humana. Nesta dimensão «positiva» não podemos ignorar outras realidades que serão uma interpelação para a nossa pastoral. 3 - Situadas num presente de características de mudança epocal não ignoramos a nossa história e com ela construímos o futuro. Aproxima-se a celebração do centenário da implantação da República. Existe um programa nacional a elaborar. Parece-me que devemos estar presentes para que a interpretação dos acontecimentos seja exacta. Penso, porém, que nos compete a responsabilidade dum estudo feito pela Igreja e a partir da experiência que a Igreja realizou naquele momento. Os Bispos da época redigiram uma Pastoral Colectiva com a data de 24 de Dezembro de 1910. Aí se afirmava, categoricamente, que aceitavam e respeitavam os poderes constituídos num regime novo. Não era este que estava em questão mas a falta de liberdade de consciência e de pensamento acompanhada de medidas de feição a-católica e anti-católica que encontraram e se tornaram mais evidentes na Lei da Separação de 20 de Abril de 1911, com execução a partir de 1 de Julho do mesmo ano. São duas realidades distintas que importa realçar assim como apresentar uma visão histórica verdadeira de todos os acontecimentos que se seguiram. Penso que esta data não pode passar despercebida e necessitamos de, serena e desapaixonadamente, sintonizar com a heroicidade dos pastores e cristãos daquela época para crescermos no amor à Igreja na actualidade. No início desta pequena Assembleia pensei ser oportuno lançar estes três pensamentos. São ideias que poderão ter um desenvolvimento no futuro das nossas reflexões assim como permanecer no âmbito duma partilha fraterna. Teremos tempo, talvez não agora, para continuar o diálogo. Roma fala-nos duma história envolta em glória e mistério, com muitas luzes e não menos sombras. Importa um regresso às fontes. Aí encontramos um paradigma repleto de actualidade: um anúncio persistente e consistente, precariedade de meios, adesão a Cristo dum modo fiel, força da comunidade e testemunho de vida e pela vida. S. Pedro, S. Paulo,S. João nos inspirem e Santa Maria nos acompanhe na arte de servir a causa de Cristo na terra que chamamos «Sua» e num país que quis crescer como «Nação Fidelíssima». D. Jorge Ortiga, Presidente da C.E.P. e Arcebispo Primaz


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