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Violência não é só física

Paróquia de Amorim
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Conclusões da XV Semana de Estudos

Encerramento da XV Semana de Estudos Teológicos Escola Superior de Teologia e Ciências Humanas de Viana do Castelo «Sempre que o homem se deixa iluminar pelo esplendor da verdade, empreende quase naturalmente o caminho da paz», diz Bento XVI (Paz 2006, n.º 3). Ao longo de quatro dias aqui estivemos em busca da verdade que vence a violência e nos alcança a paz. Sim, a paz é também ela uma luta…, uma conquista: a paz não é uma simples ausência de guerra, mas sim um estado operante, transformador da realidade. Para isso, não podemos ignorar aqueles que sofrem à nossa volta. A violência não é apenas uma acção física – explicou na noite de segunda-feira Frei Bento Domingues -, ela é também psicológica. Aquele que pratica a violência não é um ser abstracto, pode ser qualquer um de nós: a natureza humana é ambivalente, complexa: o mesmo homem capaz de amar é também capaz de matar. Hoje a violência exerce-se na família, promove-se na escola e divulga-se nos meios de comunicação social. Por isso, é urgente ensaiar formas de convivência pacífica, instaurar modelos ao estilo «vio-nunca»: «paz sempre, violência nunca»! A história da Igreja não é imaculada. O Padre António Ramos demonstrou brilhantemente que, enquanto nos primórdios da Igreja os cristãos eram acusados de ateus e anti-sociais; quando o cristianismo se tornou religião oficial do Império, foram estes que assumiram formas violentas de expressar e defender a fé. Ao longo de séculos, muitos perseguiram e condenaram à morte humanistas, judeus, protestantes e católicos. Felizmente, os séculos XIX e XX assistiram ao renascimento de uma consciência ecuménica até ouvir o grito de João Paulo II, no jubileu 2000, «nunca mais uns contra os outros em nome de Deus!». «Só a Sagrada Escritura abre uma porta de saída para o problema da violência», afirmou a Irmã Luísa Almendra. A antiguidade da violência humana está patente no relato fratricida de Caim e Abel. Já nesse momento, o autor sagrado exprimiu a pedagogia de Deus que protegeu Caim da morte e poupou-o à lei do talião, quebrando assim uma espiral de violência. Até o grande rei David, que não ousou levantar a mão contra Saúl, foi capaz de mandar matar um dos seus homens, para possuir a sua mulher. No Evangelho, a maior palavra e acção de Jesus contra a violência acontece durante a sua morte cruenta…: «Pai, perdoa-lhes»… No nosso fim, ou na nossa origem, somos naturalmente pacíficos, mas a verdade histórica e a nossa experiência individual ensinam-nos que somos violentos. E somos violentos por causa da nossa grandeza (a liberdade) e da nossa miséria (o pecado) – disse esta noite o Padre Jorge Cunha. Porém, Jesus pronunciou-se por e trilhou sempre o caminho da não-violência. «Cristo, ao desarmar Pedro, desarmou todos os cristãos» - dizia Tertuliano. Mais ainda, Jesus é a resposta pessoal de Deus à violência: o espírito das bem-aventuranças proposto por Jesus é abertamente a favor duma acção construtora de paz: «felizes os pacificadores (os obreiros da paz), serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 9). Quando Jesus usava a sua força…, punha as pessoas em paz! Os meios não-violentos são sempre os meios a preferir segundo o espírito de Jesus e da Igreja. Pacificar uma sociedade é usar meios não violentos. «É preciso arranja novas armas para a paz» - dizia Bernard Haering. O perdão, mesmo não sendo do âmbito ético, é o mais importante: ele é o que de melhor os cristãos temos para dar à nossa sociedade. A última palavra é a do perdão. A regra da vida é… o amor aos inimigos. Bento XVI afirma que «é dever de todos os católicos intensificar, em todas as partes do mundo, o anúncio e o testemunho do ‘Evangelho da paz’» (n.º 11). Foi esta a nossa aposta ao longo destas noites; daqui para a frente, continua na nossa vida, onde o Verbo se faz carne, ainda hoje, em cada um de nós.


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