Dossier

25 anos de Pontificado: Uma novidade permanente

Agência Ecclesia
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António Matos Ferreira, especialista em História da Igreja

Um Papa que deu prioridade à acção pastoral, mas que só aparentemente secundariza a política. Assim define António Matos Ferreira, especialista em história da igreja, a acção de João Paulo II ao longo destes últimos 25 anos. “João Paulo II tem sensibilidade para as implicações na sociedade da acção da Igreja, mas aquilo que mobiliza o seu Pontificado é a recentragem da mensagem cristã em Jesus – como aquele que revela ao homem a sua destinação e dignidadeâ€, referiu. A enorme produção doutrinal do Papa é também lida à luz da necessidade de dar respostas pastorais a um mundo em mudança, oferecendo uma reflexão e não uma unicidade dogmática. “A novidade para João Paulo II era a actualidade e pertinência do anúncio de Jesus cristo. Tratava-se de perceber, perante as mudanças no mundo, o que vale a experiência cristã e este Papa ajudou a verbalizar os dinamismos existentes em toda a Igrejaâ€, afirmou. A intervenção do historiador ocorreu no âmbito das comemorações do aniversário de Pontificado promovidas pela UCP, em conjunto com a RR, numa emissão especial do programa “com sal e pimentaâ€. Comentando o momento da eleição do Papa, Matos Ferreira recorda o ambiente difícil depois da morte de João Paulo I, num ambiente de grande expectativa e perplexidade, assegurando que a eleição do cardeal Wojtyla foi “uma novidade mobilizadora, por ser novo e polaco, que se tem mantido como talâ€. “Este homem sempre deu uma imagem de proximidade, de relação com os jornalistas, e este Pontificado sempre foi capaz de definir etapas mobilizadoras da Igreja e do mundoâ€, acrescentou. Essa mobilização nasceu do confronto com outras culturas, na busca de uma identidade forte – “devoção mariana, formulação de um todo doutrinal†– e na necessidade urgente do diálogo entre confissões religiões. “Esta urgência não é ideológica, mas de sensibilidade pastoral, que está em muitos lugares e vive muitas experiências de corpo inteiro e não simbolicamente, o que é uma mudança muito importante porque humanizou a sua funçãoâ€, assegura. Contrariando a noção de Papa como topo de uma pirâmide, Matos Ferreira destaca que João Paulo II soube ser a “expressão do momento da Igrejaâ€, que é rico e paradoxal. “Para o Papa o destino do homem contemporâneo é a santidade, através da consciência do pecado – e pediu perdão pelas faltas graves que a Igreja cometeu – que permite a libertação para a santidadeâ€, explica. A nível da acção dita política, o ponto fundamental deste pontificado para o historiador é que “João Paulo II percebeu que o catolicismo não voltará a hegemonizar a sociedadeâ€. Isto significa, na prática, uma consciência muito apurada de que a experiência católica tem de conviver com outras, e é pela qualidade desse convívio que ela pode evangelizar.


João Paulo II - 25 Anos