Dossier

50 anos ao serviço da Palavra de Deus - DIFUSORA BÍBLICA e Revista BÍBLICA

Frei Acílio Mendes
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Francisco de Assis mergulhou profundamente no espírito da Sagrada Escritura. Nela procurou haurir resposta para as suas inquietações. Na Bíblia, sobretudo nos textos litúrgicos do Ofício Divino e da Eucaristia, Francisco encontrou-se com Cristo Jesus, a suprema aspiração de toda a sua vida. Logo no princípio da Carta a todos os Fiéis (2 CtF 2-3), Francisco manifesta as múltiplas vertentes da Palavra de Deus que plasmaram a sua existência: “Como servo de todos, a todos tenho obrigação de servir e ministrar as palavras do meu Senhor, cheias de suave perfume. E considerando comigo que (…) me é impossível visitar pessoalmente a cada um de vós, resolvi comunicar-vos, por meio desta carta e de mensageiros, as palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, que é o Verbo do Pai, e as palavras do Espírito Santo, que são espírito e vida” (Jo 6, 64). No seu Testamento, o Poverello constata que, quando o Senhor lhe deu irmãos, o mesmo Altíssimo lhe revelou que deviam viver segundo o Santo Evangelho. Não foi fácil conseguir da Igreja a aprovação para esta intuição carismática de fazer do Evangelho a Regra e a Vida, tanto para si, como para quantos, ao longo dos séculos, quisessem seguir os passos de Cristo Jesus. Oitocentos anos depois, um outro homem carismático soube captar na Palavra de Deus o perfume, o espírito e a vida que o iriam seduzir durante todos os dias e todas as noites, ao longo dos seus quase 98 anos de vida. Trata-se de frei Inácio de Vegas, um franciscano capuchinho, nascido nas proximidades de León (Espanha) e membro da Província Capu-chinha de Castela. Em 1936 veio para Portugal. Depois de várias iniciativas no campo da pastoral bíblica, frei Inácio – “o profeta de olhar penetrante” – viu finalmente aprovada pela autoridade competente da Ordem a Difusora Bíblica e a Revista “BÍBLICA”. Um documento datado de 25 de Fevereiro de 1955. Estamos ainda longe do acontecimento que foi considerado um verdadeiro “terramoto” na Igreja: o Concílio Ecuménico Vaticano II (1962-1965). Desde início, a Difusora Bíblica procurou responder a uma dupla necessidade: a difusão e a compreensão da Palavra de Deus. Em primeiro lugar, difundir, por todos os meios ao seu alcance, a Palavra de Deus, sobretudo através de edições de livros bíblicos, a preços muito acessíveis. Um marco fundamental, neste sector, foi a edição da “Bíblia Sagrada”, em 1965. Uma edição que poderá ter atingido um milhão e trezentos mil exemplares. Em 1998, a Difusora Bíblica brindou o povo de Deus com uma nova edição da Bíblia que, na primeira edição, levava como título “Nova BÍBLIA dos Capuchinhos” – secundando assim uma designação que há muito se tinha generalizado. Nestes sete anos de existência, este novo texto poderá ter atingido os 600 mil exemplares – números verdadeiramente reveladores da fome da Palavra de Deus. Um outro vector decisivo: não basta que a Bíblia seja colocada na mão das pessoas ou que entre em todos os lares. É urgente que as pessoas aprendam a descobrir na Bíblia a Palavra de Deus. Para além das palavras, está ali uma Pessoa – Jesus Cristo – que quer entrar em contacto pessoal, íntimo, transformador com cada crente, família ou grupo eclesial. Também logo de início, frei Inácio de Vegas enveredou por esta pedagogia nos “Colóquios Bíblicos”. Mais tarde, no Capítulo Provincial de 1975, os Franciscanos Capuchinhos fizeram uma corajosa opção pela pastoral bíblica. Um caso único numa Ordem que se encontra presente em cerca de 100 países. Nascia o “Movimento Nacional de Dinamização Bíblica”. Fruto desta opção preferencial, muitas foram as iniciativas lançadas. A destacar: os “Cursos de Dinamização Bíblica”, com a finalidade de promover a criação de “Grupos Bíblicos”. Assim aconteceu em Portugal e em muitos outros países onde comunidades de emigrantes portuguesas ou comunidades lusófonas descobriram a força da Palavra de Deus (Alemanha, França, Luxemburgo, Suiça, América, Canadá, Cabo Verde, Angola, Moçambique, Timor Leste…) Marco decisivo nesta vertente, foi o lançamento da II Semana Bíblica Nacional, em 1979 (a primeira tinha sido promovida por frei Inácio de Vegas em 1956). Pouco a pouco, a Semana Bíblica Nacional foi irrompendo como o início catalizador do Ano Bíblico, desdobrando-se posteriormente nas Semanas Bíblicas Regionais (Madeira, Barcelos, Porto, Açores, Caxinas), sendo a sua temática aprofun-dada em Encontros e Retiros Bíblicos e concluindo na Festa da Palavra de Deus, com o Encontro Nacional de Grupos Bíblicos. Outras iniciativas na pastoral bíblica: Cursos para Agentes da Pastoral Bíblica, Cursos de Animadores de Grupos Bíblicos, Peregrinação Bíblica à Terra Santa e a outros lugares de referência na História da Salvação. Coordenador de toda esta actividade é o Secretariado Nacional de Dinamização Bíblica. Um lugar de destaque na formação permanente nos estudos bíblicos é ocupado, há 50 anos, pela Revista “BÍBLICA” – que permanece única no género em Portugal. Os seus treze mil assinantes aí estão a testemunhar uma opção pela exigência na pastoral profética e pela seriedade na catequese do Povo de Deus. Celebrar o jubileu das Bodas de Ouro da “Difusora Bíblica” e da Revista “BÍBLICA” significa fazer um memorial agradecido destes 50 anos ao serviço da dinamização bíblica do Povo de Deus. Mas representa também um apelo a auscultar os novos desafios a que o Espírito nos quer atirar nos alvores do Terceiro Milénio da Encarnação. Como Francisco de Assis, quase ao terminar os seus dias, também a nós nos compete reconhecer: “Irmãos, comecemos a servir o Senhor Deus, porque até agora pouco ou nada fizemos”. É necessário encontrar novas linguagens e pedagogias para, de Bíblia na mão, acolher o Deus da Bíblia no coração, respondendo a novas questões lançadas pelas pessoas do nosso tempo! É preciso inventar novos caminhos para que “os cegos vejam, os coxos andem, os surdos ouçam e aos pobres seja anunciada a Boa-Nova de Jesus Cristo” (cf. Mt 11,5)! É urgente unir esforços para que “todos tenham vida e a tenham em abundância”, segundo o projecto de Cristo Jesus (cf. Jo 10,10)! É imperioso sonhar novos métodos para que o pão da Palavra e o pão da Dignidade humana seja distribuído por todos os excluídos da Sociedade! É premente oferecer a Palavra a quantos sobrevivem privados de palavra, de voz e de vez no concerto da Humanidade! frei Acílio Mendes, ofmcap. (Superior Provincial dos Franciscanos Capuchinhos)


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