Dossier

50 anos de apostolado bíblico

Lopes Morgado
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25 de Fevereiro, 1955

Fiz o Curso de Teologia entre 1958 e 1961. Na aula diária de Sagrada Escritura, com 30 alunos, a única Bíblia existente era a do professor, que por ela nos ditava o texto a interpretar. Hoje, os adolescentes da catequese têm a sua Bíblia pessoal. E eu próprio tenho várias, que sublinho e anoto para usos diferentes. Em 1962, quando fui ordenado sacerdote, o padre ainda lia sozinho, em latim, em voz baixa e de costas voltadas para a assembleia, a Palavra de Deus que se destinava ao Povo; este, mais ou menos calado, rezava o terço, lia cartilhas e devocionários ou, caso raro, acompanhava por um Missal bilingue, normalmente em latim e francês. Hoje, a Palavra é mais abundante e variada em todas as celebrações, é proclamada em vernáculo, do ambão, por várias pessoas, de frente para a assembleia; e há Missais para reflectir e preparar a celebração em casa ou em grupo, e folhas paroquiais que transcrevem as Leituras. Entre nós, esta mudança radical não se deve apenas, nem sobretudo, ao Concílio ecuménico Vaticano II. Pois este encerrou em Dezembro de 1965; e em 25 de Fevereiro de 1955 nasciam a Difusora Bíblica e a revista Bíblica. Ou seja: antes de o Concílio exortar à “participação plena, consciente e activa dos fiéis na celebração litúrgica” (SC 14), o povo já tinha descoberto o Missal Dominical e Festivo e, por meio dele, o sentido da Missa, graças à Difusora Bíblica; dez anos antes de o Concílio falar do valor da Bíblia, recomendar a sua edição vernácula e a sua leitura orante (DV 21-25), já elas preparavam o terreno, criando consciência da necessidade da Bíblia para a solidez da fé, editando e divulgando entre o povo, a preços módicos, os vários livros em separado e depois a Bíblia Sagrada completa. Eis a sequência dessas edições: 1955, Feitos dos Apóstolos; 1956, Os Quatro Evangelhos; 1958, as Cartas de São Paulo, as Cartas Católicas e Apocalipse, o conjunto Evangelhos e Actos, e o MISSAL Bíblico Dominical e Festivo, com notas e reflexões sobre os textos bíblicos; 1960, Novo Testamento de bolso; 1961, Antigo Testamento abreviado; 1962, o Missal Diário; 1965, a BÍBLIA Sagrada; e em 1967 o Missal Bíblico Dominical, em 1969 o Missal Bíblico Diário e em 1971 o Missal da Semana Santa, todos segundo a nova reforma litúrgica. A alma desta verdadeira revolução foi o frei Inácio de Vegas (1904-2002), um profeta do nosso tempo e certamente o maior apóstolo da Bíblia na segunda metade do séc. XX. Era espanhol e tinha vindo para Portugal em 1936. Encontrava-se na cidade de Beja, no convento anexo à igreja paroquial do Salvador, então, confiada à nossa Ordem. Foi lá que este Movimento Bíblico nasceu. Ao voltar para Espanha, fundou a Difusora Bíblica em Madrid (19 de Fevereiro de 1965); e depois de percorrer a América Latina, e visitar o Brasil, o Canadá e os Estados Unidos, entre 1967 e 1994, deixou no México a Difusora Bíblica (1976) e a revista Orien-tación Bíblica (1987). O seu objectivo era criar o “gosto bíblico”, a que chamava “oitavo dom do Espírito Santo”; por ele, os leitores chegariam ao miolo da Bíblia: Jesus Cristo, nosso Caminho, Verdade e Vida. Desconfiava, por isso, dos catecismos que apenas ensinavam “fórmulas esqueléticas” e das pregações com mais oratória que Evangelho: «Menos palavras dos homens e mais Palavra de Deus» – foi o lema que repetiu em 98 anos de vida. Por isso, não lhe bastou devolver a Bíblia ao povo: preocupou-se com ensinar a lê-la. Daí os Colóquios Bíblicos, nos quais, ao longo de uma semana, durante uma ou duas horas diárias, um grupo de Bíblia na mão aprende a encontrar nela os temas mais importantes; lê e sublinha versículos, interpreta o seu sentido e aplica-os à vida; reza e dialoga; compromete-se a viver e transmitir a mensagem. Concluindo com um Domingo Bíblico na paróquia, para falar da Bíblia nas missas, facilitar a sua aquisição no local, ir porta a porta e à tarde fazer uma Festa da Palavra. Tendo herdado este aposto-lado bíblico do frei Inácio, os Capuchinhos de Portugal fizemos dele a nossa prioridade pastoral em Maio de 1975. Num contexto novo, com nova dinâmica e conteúdos actualizados, nasceu o Movimento Nacional de Dinamiza-ção Bíblica, que se move em três frentes: edição e difusão do Texto sagrado (Difusora Bíblica); iniciação na sua leitura vivencial (Equipa Bíblica: cursos, semanas nacionais e regionais, retiros, encontros) e formação permanente (revista Bíblica popular e científica, Livraria Bíblica, etc.). Depois de se ter mudado para Lisboa em 1956, o Movimento Bíblico tem hoje a sua sede e centro de irradiação em Fátima, para onde foi sendo transferido progressivamente desde 1993. É nosso lema: A Bíblia nasceu da Vida; a Vida nasce da Bíblia. E dinâmica: Com a Bíblia na mão e o Deus da Bíblia no coração. frei Lopes Morgado Historiador do Movimento Bíblico


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