D. Teodoro de Faria, pela beatificação de Carlos de Áustria, dirigiu aos seus diocesanos a seguinte Nota Pastoral.
Caros diocesanos:
1 — A 10 de Maio deste ano, a Secretaria de Estado do Vaticano comunicou ao Postulador da Causa da Beatificação do Venerável Carlos de Áustria que o Sumo Pontífice tinha disposto que a Cerimónia de Beatificação do Servo de Deus teria lugar no domingo 3 de Outubro de 2004, na Praça de São Pedro. Juntamente com ele serão beatificados os Servos de Deus, José Maria Cassaut, sacerdote e monge professo da Ordem Cesterciense Reformada (+1903), Anna Caterina Emmerich, monja Professa da Ordem das Canónicas Regulares de Santo Agostinho (+1824), Ludovica de Angelis, Religiosa Professa da Congregação de Nossa Senhora da Misericórdia (+1962), e Pedro Vigne, sacerdote diocesano Fundador da Congregação das Irmãs do Santíssimo Sacramento (+1740).
No dia em que o Postulador me comunicou a notícia, há tanto esperada, encontrava-me em visita pastoral em Johannesburg, na África do Sul. Toda a diocese foi por mim informada pela Imprensa e Rádio, do acontecimento que tanto alegrava a nossa Igreja particular e nos leva a venerar e propor à imitação dos nossos fiéis o Servo de Deus que, desde há 82 anos, repousa entre nós na Igreja de Nossa Senhora do Monte.
2 — Devido a este facto, o Maestro das Celebrações Pontifícias, o bispo Piero Marini, que esteve entre nós por ocasião da visita do Santo Padre, comunicou-me que devia concelebrar com o Papa nessa liturgia, ler um breve resumo da vida do respectivo beato após o pedido de beatificação, agradecer ao Santo Padre a elevação aos altares de Carlos de Áustria, e trocar com ele o abraço da paz.
Por causa da presença dos restos mortais do Servo de Deus na diocese, escrevi, através da «Liga de Oração», a diversos bispos das cidades que estiveram em relação com o Império austrohúngaro, comunicando a data da beatificação. Recebi felicitações e manifestação de contentamento pelo facto de, no ano do alargamento da União Europeia, a Igreja apresentar um chefe de Estado que serve de modelo para o homem europeu. Recebi mais de 60 cartas de cardeais e bispos da Europa, fora de Portugal, a agradecer a minha comunicação.
3 — Como é do vosso conhecimento a Diocese está a organizar uma peregrinação a Roma, que encontrou larga aceitação dos nossos fiéis. Os peregrinos tomarão parte no programa que consiste: numa oração de Vésperas na Basílica de São Paulo extra-muros, no sábado, 2 de Outubro; na beatificação na Praça de São Pedro no domingo, 3 de Outubro; na missa de acção de graças, na Basílica de Santa Maria Maior, na segunda feira, 4; na audiência particular do Santo Padre, no mesmo dia, caso a saúde o permita. Os que nunca participaram numa audiência da quarta-feira, se o quiserem, têm ainda a possibilidade de o fazer no dia 6, na Praça de São Pedro. Outras visitas estão previstas aos monumentos de Roma, Catacumbas e cidade de São Francisco e Santa Clara, Assis.
4 — No mesmo dia da beatificação está prevista uma homenagem ao Servo de Deus na Igreja do Monte. Sendo possível gostaríamos que fossem transmitidas as cerimónias de Roma pela rádio ou televisão aos fiéis reunidos na mesma Igreja, os quais após a beatificação colocariam círios e flores no seu túmulo, seguindo-se depois a Santa Missa. Convidamos os paroquianos do Monte, assim como outros diocesanos a participarem nesta acção de graças, pedindo a protecção do Servo de Deus para aquele povo que sempre o venerou e considerou Santo. Na liturgia da beatificação o Santo Padre indicará o dia da sua festa que, segundo um meu pedido, será no dia 21 de Outubro, data do seu matrimónio. Conhecida a data teremos a alegria de reunir o povo cristão para a Eucaristia que espero celebrar na Igreja do Monte. Desta forma o santuário diocesano é enriquecido com a presença dos restos mortais de um beato que, assim o esperamos, será um dia canonizado.
5 — A beatificação do Servo de Deus permite à pastoral diocesana estudar e propor as grandes qualidades e virtudes do Venerável Carlos de Áustria. Para nós, interessa menos o título de Imperador e Rei. Nós conhecemos o servo de Deus na Madeira como um cristão humilde, desprovido de poder, riqueza e glória, mas ornado de uma grandeza moral que impressionou tanto os cristãos como os descrentes. Foi modelo de esposo e de pai de 8 filhos, homem de oração e adoração eucarística, devoto filial da Mãe de Deus, exemplo do ofendido que perdoou mesmo aos piores inimigos, alegre na desgraça confiou sempre em Deus, privado de bens ajudou os outros mais pobres; foi construtor de Paz num mundo enlouquecido pelos horrores da guerra. Segundo o texto da beatificação, «foi o único entre os Chefes de Estado das potências beligerantes a acolher plenamente as iniciativas de Paz do papa Bento XV».
A maturidade da fé promana do conhecimento sério e profundo das raízes cristãs e de uma corajosa imersão no tempo em que vive cada um. Em nossos dias não faltam santos de grandeza fora do normal, bem reconhecidos no seu testemunho do evangelho, até por muitos descrentes.
É a partir da vida ordinária da Igreja, que tem a sua fonte e cume na eucaristia, que nasce a missão cristã, de alimentar evangelicamente toda a sociedade. Não se trata de construir uma sociedade alternativa em relação ao mundo em que vivemos, nem de retirar as pessoas do próprio ambiente, mas de inserir os cristãos no seu agir quotidiano para discernir, purificar e potenciar a construção do Reino de Deus.
Com a beatificação do Servo de Deus, Carlos de Áustria, a Igreja apresenta-nos um leigo santo, que mostrou, no poder, na humilhação e na pobreza, a Páscoa do Filho de Deus feito homem – sofrimento, morte e ressurreição. Só uma fé adulta, alimentada pela contemplação do rosto de Cristo, será capaz de levar os cristãos a viver o quotidiano, na família, trabalho, estudo, tempo livre, seguindo o Senhor como o Cireneu, dando «conta da esperança que habita em nós» (S. Pedro 2, 15).
Funchal, 5 de Setembro de 2004
D. Teodoro de Faria,
Bispo do Funchal.