A atenção continuada e persistente que João Paulo II, no decurso do seu pontificado, vem dispensando aos meios de comunicação social, ganhou, recentemente, nova expressão, ao dirigir aos seus responsáveis uma Carta Apostólica, “O rápido progresso”, que compendia, de forma solene e oficial, o pensamento do Papa e a visão da Igreja acerca dos media na sociedade contemporânea.
Quem acompanhou, nos anos mais próximos, as mensagens pontifícias, celebrativas, em cada ano, do Dia Mundial das Comunicações Sociais, terá encontrado já nelas muitas das reflexões e orientações constantes da presente Carta Apostólica.
Uma tal constatação prova que a palavra de João Paulo II, transmitida no quadro da “cultura mediática” que informa a sociedade actual, tem acompanhado a evolução dos meios de comunicação social para, nesta hora, referir, com particular acuidade, o carácter acelerado do seu progresso técnico, que acha dever subordinar-se à finalidade última e mais nobre da comunicação entre os homens e entre os povos, e naturalmente entre a Igreja e a Sociedade.
A referência à comunicação é certamente a parte mais substantiva e quiçá mais inovadora do conteúdo da Carta “O rápido progresso”, a que não é alheia a preocupação de iluminar a análise e o pensamento com pressupostos teológicos que se inspiram no sentido comunitário da vida cristã.
A tónica da comunicação que atravessa praticamente toda a Carta, alerta logicamente para o aprofundamento da prática pastoral da Igreja na sua relação com os media, na medida em que estes são na sociedade uma realidade incontornável. Comunicação que supõe o diálogo, antes de mais, com aqueles que são os agentes do conteúdo e das imagens de que os meios de comunicação social são portadores. Por detrás das notícias, dos comentários, do som e da imagem, das técnicas e dos equipamentos utilizados, há pessoas: pessoas que espelham a opinião pública corrente, mas também a determinam e influenciam; pessoas que exercem as suas funções segundo as convicções de toda a ordem que as animam, a formação que receberam e a visão da sociedade que entretanto foram ganhando e definindo.
É sintomático que tendo a Carta Apostólica chamado a atenção, no início, para a rapidez dum progresso que se supõe ser sobretudo técnico, acabe por vincar e sublinhar como central, o valor e a importância da comunicação. Traduzido isto em termos pastorais, quer pela mensagem quer pelo relacionamento, devem sentir-se reconfortados os esforços de quantos, na Igreja, estabeleceram ou procuram estabelecer pontes com os jornalistas, técnicos e directores dos media, na intenção primeira de os conhecer e os ouvir, para então, numa base de partilha gratuita, discutir análises, levantar interrogações, sugerir alternativas, e oferecer também o vasto património doutrinário, de que neste campo, a Igreja é detentora.
Trata-se dum exercício exigente mas indispensável e prioritário. Se a Igreja não o fizer, os meios de comunicação social, incluindo os seus, serão meios talvez de influência, nalguns casos, de conflito, quiçá de cumplicidade, mas não serão nunca meios de comunicação entre a Igreja e os media, menos ainda de comunhão.
Pe. Agostinho Jardim Gonçalves
Director Gabinete Patriarca de Lisboa