Dossier

A Cultura da solidariedade em Portugal

Pe. Francisco Pereira Crespo
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Pe. Francisco Pereira Crespo, Presidente da CNIS

Ao desfolhar um jornal diário deparei-me com uma afirmação de um conceituado Economista (Dr. Ernâni Lopes) sobre o futuro da Europa: “A Europa está rica, gorda e impotente... está velha na estrutura demográfica; rica devido ao nível de vida e à abundância de stocks; gorda, porque não consegue consumir mais e impotente porque é incapaz de projectar poder, como se viu no Kosovo e na Bósniaâ€... Se isto é verdade, o que infelizmente parece ser, contrasta radicalmente com a Mensagem do Santo Padre para a Quaresma deste ano, inspirando-se na frase dos Actos dos Apóstolos: “A felicidade está mais em dar do que em receber†(20,35). Contrasta ainda mais com os resultados de várias campanhas a favor dos mais carenciados. A última para a Angola, organizada pela Caritas Portuguesa e divulgada pelos meios de comunicação social, particularmente a Rádio Renascença, rendeu mais de 1.250.000 Euros. Mas este pode ser um perigo de que o nosso Portugal não está isento, infelizmente influenciável pelos maus exemplos dos seus parceiros comunitários, devido à influência dos mass-media em que a pessoa, como diz o Papa, é frequentemente solicitada por mensagens que insistentemente, de modo aberto ou dissimulado, exaltam a cultura do efémero e do hedonismo. As mais de quatro mil Instituições Particulares de Solidariedade Social, ligadas ou não à Igreja, são bem o exemplo claro e inequívoco da solidariedade bem enraizada no nosso povo. Por toda a parte nos mais pobres recantos do país existe uma pequena, mas significativa IPSS que brotou da generosidade, espírito altruísta de um grupo de pessoas ou do testemunho fraterno e caritativo de uma Paróquia, como grande sinal de solidariedade. É uma característica que nos é peculiar e que não está invadida pelos vícios egoístas da União Europeia de que falava o Economista, mas não estamos livres de nos deixarmos influenciar. O contacto pessoal com muitos dirigentes das nossas Instituições que, por motivo do cargo assumido, leva-me a admirá-los e a respeitá-los pelo seu zelo desinteressado a favor dos mais carenciados nas suas mais diversas acções sociais. Mas hoje não chegam a boa vontade e a generosidade. Estas têm que estar casadas com a técnica e a perspicácia para que o serviço seja cada vez mais de maior qualidade. Assim nos compreendam e apoiem os nossos governantes, para que a nossa característica de povo solidário e altruísta seja cada vez mais o nosso distintivo. Faço votos que as palavras do Papa para a Quaresma 2003, ecoando o discurso de Paulo, se tornem vida nas nossas vidas.


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