Pe. Querubim José - Dir. Sec. Nacional Educação Cristã
A Educação Cristã e a Pessoa Deficiente
É indiscutível o cuidado que a Igreja tem tido, da parte de alguns sectores, com as pessoas portadoras de deficiência. Desde S. João de Deus, que iniciou um cuidado ainda hoje muito apreciado, com os dementes, até às inúmeras Instituições da mesma Igreja que, no nosso tempo, se dedicam a esta causa - por exemplo, o Lar para Deficientes profundos João Paulo II - muitas são as provas deste cuidado, deste carinho.
O Directório Geral da Catequese dedica a sua parte quarta aos destinatários da Catequese, dizendo, na introdução: “Todo o baptizado, porque é chamado por Deus à maturidade da fé, necessita e tem o direito a receber uma catequese adequada. (...) Neste sentido, recorda-se que o destinatário do Evangelho é, antes de mais e acima de tudo, um homem concreto e histórico”. (1657, Cf RH 13 e EN 31).
Depois, ao distinguir a diversidade de destinatários, inicia o capítulo III desta parte com a referência aos deficientes e inadaptados. “A educação da fé, que envolve em primeiro lugar a família, requer itinerários adequados e personalizados; tem em consideração as informações da pesquisa pedagógica e exerce-se com proveito no contexto de uma educação global da pessoa. Por outro lado, deve evitar-se o risco de que uma catequese necessariamente especializada acabe por permanecer à margem da pastoral de conjunto de toda a comunidade”. (189)
O que se diz da Catequese pode dizer-se também da Educação Moral e Religiosa Católica. E são três as questões fundamentais que se nos colocam a este respeito.
Em primeiro lugar, o problema dos agentes educativos: quer para uma, quer para outra área, deles se requer uma competência específica. E estamos bem longe de ter em consideração este aspecto, seja quanto a catequistas, seja quanto a professores de moral. Se bem que, neste segundo caso, possa haver alguma interacção com os professores de apoios específicos.
A segunda questão é a dos materiais didácticos e vai desde a necessidade do braile, para os invisuais, até expressões plásticas, de cor, de som... adequadas. Não podemos dizer que, entre nós, neste aspecto, está tudo por fazer. Mas é tão pouco o que há - só conheço os actuais manuais de EMRC e os quatro primeiros catecismos em braile - que temos de nos interrogar seriamente. E o mais grave é, em meu entender, o alheamento deste problema, a falta de empenho efectivo em saber quantos os deficientes e de que deficiência são portadores, a mentalidade de verdadeiro cuidado pastoral por esta multidão de pessoas. Não basta cuidá-los bem; embora isso seja muito bom! É preciso dar-lhes o alimento adequado, sob o ponto de vista da fé.
A terceira questão, com a qual se enfrentam também outras instâncias educativas, à qual se refere a citação do n.º 189 do DGC, é a tensão entre uma educação da fé específica e uma educação da fé inclusiva. Insistindo sobre a necessidade de um cuidado particular com estas pessoas, o DGC chama a atenção para o perigo de uma especificidade que marginaliza. E adverte: “Para que isso não ocorra, é preciso que a comunidade seja constantemente advertida e envolvida.” Nesse aspecto as coisas são menos fáceis: estamos longe de uma cultura de apreço pelos deficientes, de envolvência na procura de soluções, de serviço às famílias que têm estes problemas. Começam a surgir sinais positivos; há responsáveis eclesiais, começando por alguns bispos, que põem esta questão nas decisões pastorais. Por exemplo, na Quaresma passada, algumas comunidades empenharam-se numa renúncia que favorecesse as famílias com redobrados encargos com os seus filhos deficientes.
É esta a esperança: que o Espírito suscite em todos nós a convicção da dignidade igual que lhes cabe e a coragem de defender e promover a vida em todas as circunstâncias, sobretudo nestas, que são peculiares e difíceis.
Pe. Querubim José
Dir. Sec. Nacional Educação Cristã