Dossier

A forma de João Paulo II amar a Igreja

D. Carlos A. Moreira Azevedo
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A lição primeira do último sucessor de Pedro foi de um amor à Igreja na realidade plural da sua realização nos povos e culturas. No seguimento da eclesiologia conciliar, João Paulo II sublinhou algumas dimensões da Igreja. Nesta breve reflexão apenas aponto duas. Antes de mais: ser mistério de comunhão, realidade humana e divina, pecadora e santa, que além da observação e estudo merece a contemplação, porque existe por Cristo, sua cabeça, e para Cristo como seu corpo em construção. A comunhão é com a Santíssima Trindade, única fonte da sua vitalidade e acontece uns com os outros, em relação concreta de conhecimento e amor. Outra perspectiva que atravessou todo o serviço petrino foi a identificação da missão de cada membro do Povo de Deus na edificação da Igreja. O papel dos leigos, e concretamente das famílias e da mulher, o lugar dos padres, dos religiosos, e mesmo dos bispos foi objecto de Sínodos e de exortações apostólicas. O esclarecimento e a vivência específica de cada membro da Igreja permitiu a proposta de uma nova evangelização, como tarefa urgente a pedir a cada um o melhor de si, na fidelidade exigente à sua condição de baptizado, com identidade própria. Dentro da missão da Igreja deixa orientações concretas sobre o papel dos teólogos e do Magistério, sobre o serviço da catequese a todos os níveis, consciente de que “os cristãos devem ser formados para viver num mundo que ignora grandemente Deus ou que enterra, com excessiva frequência, num indiferentismo nivelador, em matéria religiosa, em vez de encetar um diálogo exigente e fraternal, estimulante para todos” (Reflexões para o ano 2000, p. 55). Apontou caminhos de uma Igreja ao serviço da dignidade da pessoa humana, da verdade e da justiça, na construção da paz e na luta pela liberdade. Dentro da defesa de um humanismo integral situou a reflexão sobre a cultura e a arte, lançando desafios inovadores para o mundo da cultura contemporânea. Nas relações Igreja e Estado seguiu as perspectivas da Gaudium et Spes, ao defender que a igreja não se pode confundir com uma comunidade política ou com sistemas politicos. Ambas as realidades, ao serviço do ser humano, têm autonomia, mas dialogam e cooperam no respeito pela identidade de cada uma. Por estar ao serviço do bem comum da humanidade a Igreja é fiel à sua missão quando faz interpelações morais sobre a coisa pública. D.Carlos. A. Moreira Azevedo Bispo Auxiliar de Lisboa


João Paulo II