Os 25 anos de Pontificado de João Paulo II ficaram marcados por duas lutas fundamentais, contra o comunismo e contra o capitalismo. Este é um olhar socio-político sobre os últimos anos da liderança católica partilhado por Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Santo Egídio e historiador da Igreja.
“Não enfrentou os problemas numa chave política, mas teve em conta as diversas culturas, religiões e as políticas de cada país”, afirma em entrevista à “Famiglia Cristiana”.
Uma perspectiva semelhante, vinda de uma figura muito respeitada na Igreja e na sociedade, leva-nos ao ponto de partida para a compreensão do que Riccardi define como “geopolítica do Espírito” de João Paulo II.
O Papa que veio do Leste recebeu uma Igreja cujo governo atravessava uma certa crise, presa na tensão entre os avanços do Concílio e a perda de identidade perante a modernidade. Desde o início Karol Wojtyla pediu “não tenhais medo” e fala na primeira pessoa do singular em vez do plural: esta afirmação de identidade vem acompanhada de uma experiência histórica notável, atravessando guerras mundiais e a vivência sob um regime comunista.
“O seu principal objectivo foi o da vitalidade da Igreja, a sua presença no mundo como aquela que serve”, assegura Riccardi.
Fica por saber então se o Papa é ou não um “Papa político”, alguém que lutou abertamente contra os regimes comunistas de Leste desde a sua primeira viagem à Polónia em 1979 e contra o capitalismo reinante na sociedade ocidental.
“Para o Papa não há um sistema justo, é claro. A Igreja nunca deve abdicar da sua luta em resistir, anunciar e mudar”, explica o historiador.
Os apelos do Papa em favor do Terceiro Mundo percebem melhor à luz destas premissas. Mesmo se a sua voz está cada vez mais isolada: “a opinião pública apenas tem oferecido um grande apoio a João Paulo II nos temas da guerra e da paz”, refere Riccardi.
Com o final da guerra fria, os medos da humanidade viram-se agora para um confronto de civilizações, com motivações religiosas que podem voltar o mundo árabe contra o Ocidente.
O papel de João Paulo II, mesmo aos 83 anos, volta a ser fundamental, sobretudo na atenção que a Igreja coloca na promoção do diálogo inter-religioso. Basta pensar no que significaram as intervenções sobre a última guerra no Iraque.