A vida em debate: vale, ou nem por isso?!
Cón. José Paulo Leite de Abreu, Vigário-geral, Instituto de História e Arte Cristãs da Arquidiocese de Braga
As cidades de Guimarães e Braga vivem – neste 2012 – um momento peculiar da sua história. A primeira, por ter sido guindada à qualidade de capital europeia da Cultura; a segunda, por merecer o epíteto de capital europeia da Juventude.
Atenta ao mundo, inculturada nele, a Igreja não quis ficar à margem de tão honrosas celebrações. Quis encontrar um modo seu de marcar presença. De dizer ao mundo que está viva.
Colheu inspiração num evento que o Pontifício Conselho da Cultura tem vindo a dinamizar em diversos países: o Átrio dos Gentios, espaço aberto ao diálogo, ponto de encontro entre crentes e não crentes, fronteira abatida para a reunião dos de cá e dos de lá, dos conhecidos e desconhecidos, dos concordantes e dos discordantes, dos das certezas ou dos que simplesmente se penduram numa qualquer pergunta.
O Átrio, espaço geográfico ou imaginário, é isso mesmo: sociabilidade, partilha, hipótese de abertura e diálogo, sala de todos e para todos, sem preconceitos, para além de raças, de credos, de idades, de filiações.
É assim que a Arquidiocese de Braga (através do Instituto de História e Arte Cristãs), mãos dadas com Roma, braço estendido para todos, tem pensado o próximo Átrio dos Gentios, a decorrer, entre Guimarães e Braga, nos próximos dias 16 e 17 de novembro.
O evento teve já similares realizações nas cidades de Paris, Barcelona, Florença, Assis, Bucareste, Tirana, Palermo e Estocolmo.
Em cada cidade, um tema. Nas nossas, de Guimarães e Braga, falaremos sobre o valor (ou não) da vida.
O tema será abordado nas mais diversas perspetivas: da humanística à religiosa, da literária à espiritual, da psicológica à histórica, da filosófica à ecológica, da teológica à desportista…
As mesas de onde irradiarão os debates juntarão pensadores dos mais variados quadrantes e proveniências: do Vaticano, das universidades, do mundo da arte, do desporto, da música, da filosofia, da literatura…
O Átrio é isto mesmo: uma sadia com-vivência, um fórum multidisciplinar, um pensamento plural, uma abertura de espírito na liberdade das emanações do pensamento de cada um.
Serão de mencionar-se os momentos musicais (que disso também a vida se faz), com interpretações da Orquestra Estúdio de Guimarães e do coro de licenciatura em música da Universidade do Minho, ainda com os Cantate e João Gil, os quais, na catedral, encerrarão o Átrio, apresentando a Missa Brevis.
Não faltará o teatro, na manhã do dia 17, em adaptação da peça de Fabrice Hadjadj, intitulada “Job ou a tortura pelos amigos”.
Marcará presença a pintura, no Museu Pio XII, pelas mãos hábeis de Isabel Nunes, em trabalho intitulado “Crer: as imagens de uma aventura”.
Mas sobretudo teremos grandes nomes, da cultura portuguesa e estrangeira, espalhados por conferências e workshops.
Eduardo Lourenço, na conferência inaugural, em Guimarães, irá falar-nos sobre “Identidade e sentido de um povo”; o cardeal Ravasi e João Lobo Antunes, ainda em Guimarães, irão trocar impressões acerca do valor e sentido da vida de cada ser humano.
“Narrar a vida torna-a mais preciosa?” – sobre isso nos falarão (o palco muda-se agora para Braga) Ana Luísa Amaral, Tolentino Mendonça e Valter Hugo Mãe. Mas, se preferirmos, também poderemos escutar o debate sobre o sentido da vida e o sofrimento humano, orientado por gente que vive e convive no meio do sofrimento – Isabel Galriça Neto, Isabel Jonet, Fernando Nobre e Paulo Moura. Ou então poderemos acompanhar o debate acerca do valor da vida e o sentido do universo, em que marcarão presença Assunção Cristas, Henrique Leitão e José Rivas.
Esses três painéis serão sucedidos por outros tantos, intitulado um: “vida pessoal e vida coletiva na identidade cultural” (com participações de Aldina Duarte, Carlos Amaral Dias, Vasco Graça Moura); centrado outro na genética e bioética (sob patrocínio da Fundação Champalimaud, com participações de Elena Postigo Solana e Maria de Sousa e moderação de Leonor Beleza); outro ainda versando o valor do corpo e a consciência espiritual (frente a frente estarão Alexandre Mestre, João Duque e Olga Roriz).
A vida, o pensamento, a arte, a riqueza do pensar e da partilha – tudo entra neste acontecimento que é o Átrio. À procura de caminhos novos. Para pensarmos a nossa vida, a vida do povo que somos, o rumo que para este país desejamos. E o contributo que cada um, com a vida que tem, poderá dar. Ou não!...
Participar já é “Átrio”. Já é sinal de abertura. Já é manifestação de sociabilidade. Já é vontade de encontro. Já é atitude de descoberta e de sã democracia.
Depois, há a vida de cada um. E o valor que cada um sente de lhe atribuir. E a finalidade que cada um resolve dar-lhe.
Mas qualquer que seja a valorização a dar ao existir, próprio e dos outros, pelo menos valerá a pena confrontar pareceres e abrir-se à diferença, no estar e no ser.
A diversidade enriquece. A partilha é herança. O debate é sempre uma mais-valia.
Este Átrio será, certamente, pela excelência das pessoas envolvidas, pelos acontecimentos previstos, pela reflexão que incentivará, uma brochura de ouro para as capitais europeias da Cultura e da Juventude.
Cón. José Paulo Leite de Abreu,
Vigário-geral,
Instituto de História e Arte Cristãs da Arquidiocese de Braga
Igreja/Cultura