Dossier

Água, Fonte de vida, Património da Humanidade

João Carvalho Rodrigues
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A problemática da Água esteve em destaque no último Conselho Geral da Cáritas e será o tema da Semana Cáritas que vai decorrer entre o 2º e o 3º Domingos da Quaresma - "Água, Fonte de Vida, Património da Humanidade". Neste sentido, apresentam-se aqui alguns pontos essenciais dessa reflexão: - Ao longo dos tempos a Humanidade passou por diversas crises. Os séculos XX e XXI, são séculos de crise do ambiente, sendo a água uma dessas facetas. Estamos a habitar o planeta de forma incompetente e sem ética, que falta de modo particular à maioria dos governantes. - A presença humana no Universo é uma excepção. Esta raridade, ou privilégio, foi uma possibilidade equivalente a sermos premiados com o euromilhões. No sistema solar só temos condições desta vida na Terra e só podemos habitar a "pele" deste planeta semelhante a uma enorme laranja. A nossa espécie só tem centenas de milhões de anos, nos milhões do nosso sistema. A água é essencial para a vida, tal como o ar, e ainda existe uma quantidade razoável, mas muito mal distribuída e pior gerida. Temos uma média de 2.000/m3/ano/habitante disponível. O nosso planeta é o planeta da água, pois 2/3 é água, mas só 2,5% é doce e destes só podemos aproveitar 1%! Em alguns locais chove muito, mas noutros passam-se anos sem chover, os desertos aumentam e as áreas verdejantes diminuem, o ambiente da vida em abundância é substituído pelo que propicia a morte. Em Portugal temos que partilhar a água com a Espanha, de onde vem com 60% da água disponível. Em 1998 fez-se um acordo sobre o ordenamento dos meios comuns de Portugal e Espanha. É um bom acordo, mas tem sido mal acompanhado. - Temos riquezas em água subterrânea, mal conhecidas e por isso mal geridas. Não soubemos gerir bem os apoios comunitários, ainda temos 7% da população sem abastecimento de água e 25% sem tratamento de resíduos. Temos um bom documento - Programa Nacional para uso da Água - que devia ser melhor aplicado. Temos como objectivos para o ano 2011, passa as perdas de água por uso humano de 40 para 20% e nas agricultura de 50 para 35%. Temos legislação hidráulica desde D. Carlos (1892) e a nossa Lei Quadro da Água é exemplar, mas é muito melhor a Lei que a sua aplicação. - O equilíbrio água doce-água salgada é crucial e as alterações climatéricas tendem a subir o nível da água do mar e, em consequência, contaminar os aquíferos subterrâneos. Não havendo alterações correctivas para melhorar o ambiente, nos próximos 100 anos, a temperatura em Portugal pode subir de 2,5 a 7º C. e o nível do mar de 27 a 110 cm. A chuva, além de ser menos, vai ocorrer num período mais curto. As companhias de seguros, por questões de ambiente, pagaram em 2005 valores 5 vezes superiores aos de 1998. - A água tanto pode ser motivo de conflitos como também razão suficiente para unificar os seres humanos. Um bom exemplo é o rio Jordão no conflito Israelo-Palestiniano. 1,1 mil milhões de pessoas usa a água, transportando-a à cabeça, em burros ou próximo disso. Ainda temos muita gente que morre por beber água impura; 2,4 mil milhões de pessoas ainda não tem saneamento. - Para habitarmos a Terra é preciso chamar a atenção de quem a governa para manter equilibradas as estruturas fundamentais - água e ar. Não podemos continuar a ser analfabetos nesta compreensão, porque não sabemos, ou não queremos ler os sinais que nos rodeiam. - A alteração da mistura química dos gases da atmosfera é a causa dos impactos ambientais negativos. O CO2 calibra a temperatura do planeta, diminui a qualidade do ar e a quantidade de precipitação. No séc. XIX, havia uma relação de 280 p.p.m., hoje já passou os 370 e para não ultrapassar os 550, temos de fazer muitos esforços e mudar hábitos. - O clima sempre variou, mas as alterações que estamos a introduzir são um dado novo. Não temos cultura para a boa utilização da água, mas a origem dos Estados (sociedade organizada) esteve associada à necessidade de valorização da água e surgiu há 7.000 anos na Mesopotâmia, com a irrigação agrícola da planície dos rios Tigre e Eufrates. - Tudo o que temos na natureza foi-nos dado. Temos recursos porque temos fontes. Este planeta tem qualquer coisa de espantoso - a vida humana. A vida é um bem mais precioso do que pensamos; tomemos consciência disso para poluirmos menos e usar melhor a água. João Carvalho Rodrigues, Membro do Conselho Permanente da Caritas Portuguesa


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