Quando um jornalista quis ver por dentro uma das casas de Teresa de Calcutá, pejada de doentes incuráveis, de marginais e excluídos, de idosos abandonados e de crianças subnutridas, não encontrou outra maneira senão chamar-lhe “cidade da alegria”. Parece o nome menos adequado, mas ele não entendeu assim, porque conseguiu penetrar no mistério daquela incondicional dedicação e na força do amor que lhe dá sentido.
Onde há alegria é porque há amor, e onde há amor há sempre esperança. Não se trata de esperar o impossível que, no caso, o será sempre a solução para os mil problemas dos não amados, dos que a sociedade não acolhe, não ama, não dá a mão, porque nada espera deles. Não é essa a lógica do amor, a lógica de Teresa de Calcutá e dos que, como ela, tomam a sério a sua vida cristã e a tornam coerente até às últimas consequências.
Num momento em que se lamenta, e com fundamento, a situação de muitas famílias e a crescente e descontrolada epidemia do divórcio, ao lado de outras epidemias que atacam a saúde da família, surge uma palavra nova, que abre horizontes onde não cabe o desânimo nem o pessimismo.
Na Exortação “A Igreja na Europa”, um documento muito recente e muito directo, João Paulo II entrega, de modo muito especial às famílias, o encargo e a tarefa de anunciarem e construírem a esperança no mundo. E dá razões: “ Vós sois o santuário da vida, lugar onde a vida, dom de Deus, pode ser acolhida e protegida e se desenvolver de harmonia com as exigências de um crescimento humano autêntico”; “Vós sois o fundamento da sociedade, enquanto lugar primeiro de humanização da pessoa e da vida civil, modelo de relações sociais vividas no amor e na solidariedade”; “Vós sois alegria e esperança e podeis, por isso mesmo, ser testemunhas credíveis do Evangelho da esperança”.
O Papa, ao falar deste modo, pensa na família que, sem fugir às dificuldades, as enfrenta corajosamente, é fiel ao seu projecto e defende e promove o que lhe é essencial em relação à unidade, indissolubilidade, fidelidade e fecundidade. Dos modelos de família que se vão desenhando e propalando por aí, ele sabe que nada se poderá esperar, uma vez que quem vive desagregado não tem força conciliadora e convincente e quem deixou de remar não pode marcar rumo a ninguém quando o mar está encapelado.
A família e todas as expressões de vida e de relação humana, onde o amor oblativo é lei gratificante, são o espaço onde a alegria e a esperança têm algum sentido. O Padre Américo quis família para os que não têm família. O mesmo quis Teresa de Calcutá. Querem o mesmo os que dão vida a projectos que só o amor explica. Não o entendem assim os que não sabem o que é alegria de amar e deixam que a esperança lhes mingúe o coração.
D. António Marcelino, Bispo de Aveiro