Foi no tempo da Rainha Santa Isabel, quando esta esteve com residência fixa em Alenquer, que surgiram as primeiras Festas do Espírito Santo. Influenciada pelo espírito da comunidade franciscana existente em Alenquer, a Rainha Santa funda as Festas não apenas para prestar culto à terceira pessoa da Santíssima Trindade mas também para, por meio delas, assistir aos mais pobres, cujas necessidades estavam sempre presentes em seu coração.
De Alenquer, o culto e as Festas irradiaram para onde quer que existisse uma comunidade de portugueses, subsistindo ainda hoje em todas as ilhas dos Açores, na Madeira, no Brasil, nos Estados Unidos da América, no Canadá, no Hawai, nas ilhas de São Tomé e Príncipe, e até mesmo no Oriente, como em Margão, na Índia, para além de outros lugares de Portugal Continental, com destaque para o Penedo, em Sintra, ou para as célebres Festas dos Tabuleiros, em Tomar.
Com o passar dos anos, as Festas do Espírito Santo de Alenquer foram decaindo, até que, depois de um período de realização intermitente, aconteceram pela última vez em 1945.
Em 2007, por influência que já vinha de há algum tempo atrás do então Bispo Auxiliar de Lisboa, e actual Bispo do Porto, D. Manuel Clemente, Alenquer retomou essas seculares festividades em honra do Espírito Santo. Porém, não se quis simplesmente recuperar e reconstituir historicamente as Festas do passado. Pretendeu-se captar o sentido de então, para lhe dar uma adequada concretização no presente, fazendo das actuais Festas do Império do Divino Espírito Santo de Alenquer um acontecimento aglutinador, capaz de congregar as mais diversas forças vivas do concelho, celebrando tudo aquilo que se faz em prol do bem comum e da dignificação humana, nas artes ou na cultura, no desporto ou no lazer, sob o lema “O Espírito sopra onde quer!”.
Nesta perspectiva, as renovadas Festas do Espírito Santo assentam sobretudo em três grandes pilares.
Festas Pascais
Em primeiro lugar elas são eminentemente Festas Pascais e, nesse sentido, não se reduzem ao dia de Pentecostes, embora tenham aí o seu cume, nem se esgotam num único fim-de-semana. Preenchem todo o Tempo Pascal, qual «grande Domingo» como nos ensina Santo Atanásio. Inaugurando-se no próprio Domingo da Ressurreição, as Festas marcam presença, sobretudo com eventos de carácter cultural, em todos os demais Domingos da Páscoa. Assim como na Quaresma as procissões dos Passos ou do Enterro, as Vias-Sacras e tantas outras devoções, valorizam e procuram dar sentido a esse tempo litúrgico, assim as Festas do Espírito Santo pretendem preencher o Tempo Pascal com a alegria, o espírito e os sentimentos próprios desse Tempo e, no caso, extravasando até a própria comunidade cristã.
Solidariedade e acção do Espírito
Em segundo lugar, as Festas do Espírito Santo procuram valorizar tudo aquilo que de bom se faz no concelho de Alenquer, contrapondo a uma visão pessimista e derrotista do tempo presente a esperança cristã num mundo melhor que pode ser construído a partir da solidariedade entre os homens de boa vontade, se estes se deixarem conduzir – mesmo que inconscientemente – pela força renovadora e recriadora do Espírito Santo, o qual “sopra onde quer!”. E, assim, um dos momentos altos das Festas ocorre no sábado, véspera do Pentecostes, quando, na chamada “Festa da Solidariedade”, as dezasseis freguesias do concelho transformam em espectáculo uma autêntica mostra viva do bem-fazer que colectividades, associações, instituições, grupos, e até pessoas individuais, desenvolvem nas suas terras em prol da comunidade local.
As procissões e o bodo
O terceiro grande pilar das renovadas Festas do Espírito Santo são as procissões e o bodo. Na véspera do Pentecostes, a Procissão da Luz ilumina a noite alenquerense, enchendo de beleza as pitorescas ruelas da vila – expressão, afinal, da luz e da beleza do Espírito – e culminando com a celebração da Vigília de Pentecostes. No Domingo de Pentecostes, à Missa segue-se a tradicional Procissão do Espírito Santo que, desembocando justamente no Largo do Espírito Santo, aí termina com o grande Bodo. No passado era o bodo oferecido aos pobres. Hoje é o bodo oferecido à população inteira e, bem assim, aos forasteiros, suscitando o convívio fraterno próprio de uma refeição, capaz de superar as diferenças de raças, de convicções políticas, de condições sociais, de níveis culturais, e mesmo de credos religiosos, transformando as diferenças em riqueza de diversidade e abrindo o coração ao trabalhar do Espírito Santo. Porque, afinal, “O Espírito sopra onde quer!”.
Duarte João Ayres d’Oliveira