Ao longo dos tempos, não tem sido fácil a relação entre a Igreja e a Comunicação Social. Desde a classificação dos media como uma “imoralidade insolente e assustadora”, na época de Clemente XIII, na encíclica Christianae reipubblicae salus (1763), até à proclamação de João Paulo II da comunicação social como a “nova fronteira da missão da Igreja”, na encíclica Christifidelis laici (1989), um longo caminho foi percorrido pela Igreja, na forma de entender e utilizar os media.
Desde a Imprensa à Internet, passando pelo Cinema, pela Rádio e pela Televisão, todos os meios de comunicação, quando correctamente utilizados, têm revelado enormes potencialidades para o anúncio do Evangelho, ainda que envoltos em muitos riscos. A Igreja deve também aprender a conviver com os media e acostumar-se a estar sob os holofotes da comunicação social.
Os Papas do século XX foram aprendendo a relacionar-se com a rádio e a televisão, que, entretanto, se foram desenvolvendo e massificando. O Papa Pio XII, em 1940, em plena II Guerra Mundial, lançou a Rádio Vaticana, que viria a usar frequentemente para difundir a sua mensagem. Em 1941, utilizou este meio para dar a conhecer ao mundo o seu pensamento social, na impossibilidade de publicar uma encíclica comemorativa dos 50 anos da “Rerum Novarum”, de Leão XIII, o primeiro texto oficial dedicado às questões sociais.
Com a divulgação da televisão, que chega a pontos, onde ainda não tinha chegado a rádio, a imagem do Papa entra em milhões de lares espalhados pelo globo terrestre. Pela televisão, muitos têm oportunidade de ver o Papa, mesmo sem ir a Roma.
Nos últimos 26 anos, o Papa João Paulo II tornou-se visita frequente dos nossos lares. Pela televisão muitos acompanharam o seu pontificado, desde a sua primeira aparição pública, apoiado na balaustrada da varanda de S. Pedro, até ao seu funeral, a celebração com mais telespectadores, em todo o mundo de todos os tempos. Ao longo destes anos, fomo-nos habituando à figura atlética de Karol Wojtyla a percorrer os quatro cantos do mundo. Assistimos ao seu envelhecimento e à sua dissolução na doença.
Depois de tantos anos a conviver com uma personalidade como a de João Paulo II, que soube criar uma relação única com as massas, tanto ao vivo, como através dos meios de comunicação social, não pudemos deixar de experimentar alguma estranheza perante a primeira imagem de Bento XVI, na varanda de S. Pedro de braços abertos a acenar à multidão.
Os mais íntimos referem-se ao, então, Cardeal Ratzinger como uma pessoa muito inteligente e culturalmente muito bem preparada, mas também com uma personalidade marcada pela timidez e simplicidade. A sua postura não esconde o desconforto e o constrangimento, de quem se sabe observado e avaliado pelo mundo inteiro. As suas primeiras palavras revelam claramente a sua simplicidade, ao se apresentar como um “humilde trabalhador da vinha do Senhor”.
Certamente, ao longo do seu pontificado, ganhará uma maior à vontade nas aparições públicas e desenvolverá uma melhor presença nos media, mas a imagem que ficará associada ao início do seu pontificado será sempre a da humildade e da consciência do peso da responsabilidade em calçar as sandálias do pescador.
Calado Rodrigues
Director do “Mensageiro de Bragança”