Dossier

Campanha Virtual num país adiado

Pe. José Vieira
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"Os dirigentes partidários e candidatos a deputados falam, falam, falam, mas deixam à margem do discurso os grandes desígnios nacionais e as questões de fundo." - sublinha o director da revista «Além Mar»

O Presidente da República, ao dissolver o Parlamento e convocar eleições legislativas antecipadas, parece ter apanhado desprevenida a classe política tal é o deserto de ideias no discurso da grande maioria dos candidatos a deputados. O balanço da primeira semana de campanha eleitoral é, em última análise, manifestamente negativo. Os dirigentes partidários e candidatos a deputados falam, falam, falam, mas deixam à margem do discurso os grandes desígnios nacionais e as questões de fundo. O que tem contado são os fait divers, a exploração de boatos postos a circular no anonimato da Internet, a propaganda negativa, a pose. O discurso político está a tornar-se cada vez mais irrelevante e parco de ideias regeneradoras. Não admira, pois, que os eleitores se coloquem à margem da campanha, a não ser quando esta mete «comes e bebes». Entretanto, o país continua mergulhado num mar de desencanto, na ressaca da depressão colectiva que teima em se grudar ao horizonte nacional. Há um sem número de situações e problemáticas cuja resolução continua adiada ou descartada. Destaco três: pobreza, relações externas e educação. Enquanto o défice continua à espera de uma solução que, de facto, equilibre as contas do Estado e acabe com os exercícios de cosmética financeira a que os Governos têm recorrido para Bruxelas ver, a pobreza e o desemprego não param de crescer. O fosso entre uma minoria abastada e esbanjadora e a grande maioria endividada à banca e com sérias dificuldades para «esticar» o salário cresce. Os imigrantes, por seu turno, são explorados e maltratados como mão de obra descartável e cotizada. Em contrapartida, automóveis e habitações de luxo continuam a vender-se como pãezinhos quentes. É obsceno! O IRC que o fisco não consegue – ou não quer – cobrar tem que parar em algum lado... O lugar de Portugal no concerto das nações continua por discutir. As políticas e opções da cooperação fazem-se ao sabor de contingências ou conveniências de alinhamento e de interesses. Por outro lado, a promoção da língua e cultura lusas entre os países que falam português e nas comunidades de emigrantes espera dias melhores. Finalmente, a educação só foi discutida por causa e durante a trapalhada da colocação de professores no início do ano lectivo. De reforma em reforma os programas vão-se desfasando cada vez mais da realidade e não preparam os alunos para o futuro. Quem se preocupa em resolver as lacunas na aprendizagem do Português e da Matemática? É por aí que passa o futuro do país. Os discursos caleidoscópicos, que disfarçam a falta de ideias para cumprir Portugal, não desenvolvem o país. Precisa-se de políticos comprometidos com a coisa pública e com coragem para arriscar soluções de fundo. Infelizmente, os partidos estão cada vez mais dependentes dos quadros que as «Jotas» formam, figurões de verbo fácil mais preocupados com a imagem e com os seus interesses que com os desígnios nacionais. José Vieira Além-Mar


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