Dossier

Canonizações por nós e para nós

José Hipólito Jerónimo
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No próximo dia 5 de Outubro, João Paulo vai canonizar Arnaldo Janssen, fundador de três institutos religiosos missionários, um dos quais, a Congregação do Verbo Divino, e José Freinademetz, missionário da mesma congregação, que consagrou toda a sua vida à evangeli-zação da China. A canonização é, em primeiro lugar, por nós e para nós. Há quem compare os santos a um vitral através do qual resplandece o sol do amor infinito de Deus para com todos os homens e mulheres, sem excepção. A elevação aos altares de Arnaldo Janssen e José Freinademetz pode servir para que a luz do amor e solicitude de Deus, que resplandece através da vida e da pessoa destes novos santos, resplandeça não só para os membros das congregações religiosas missionárias de Arnaldo Janssen mas para toda a Igreja. A declaração oficial de novos santos é assim um estímulo a uma resposta confiante à vocação universal de todos à santidade: “se estes e estas conseguiram porque não eu?” (S. Agostinho). As vidas de Arnaldo Janssen e José Freinademetz, colocadas diante de nós como exemplo e modelo, animam-nos e indicam-nos um rumo para a nossa vida, vocação e acção. Ensinam-nos que a Igreja é uma comunidade de discípulos de Jesus, unidos no Seu amor e por Ele continuamente enviados a todos os homens sem distinção de raças, nações, línguas, culturas ou religiões. Arnaldo Janssen em 1873 deixou a segurança do seu lugar de professor no colégio diocesano de Bocholt libertando-se para o apostolado e para a fundação do seminário das missões em Steyl, do outro lado da fronteira, na Holanda. Mais tarde renunciou à nacionalidade alemã para poder atravessar fronteiras, superar barreiras e abrir casas missionárias noutros países. O mesmo despojamento ou êxodo, ainda mais acentuado, teve de o experimentar também José Freinademetz ao deixar pátria, família e partir para a longínqua China tão diferente no aspecto e hábitos das pessoas, na língua, religião e cultura. Amou de tal forma os chineses que se tornou “um verdadeiro chinês entre os chineses”. Na Alemanha de Bismark, a Igreja Católica passava por grandes dificuldades devido à legislação que limitava bastante a sua acção: era proibido abrir novos seminários e proceder à substituição de párocos falecidos, etc. Foi neste contexto adverso que Arnaldo escutou a seguinte reacção do arcebispo de Colónia ao seu projecto: “Numa altura em que tudo parece vir abaixo, o senhor vem-me propor a abertura de um seminário das missões?” Arnaldo respondeu com simplicidade: - “É precisamente quando tudo parece vir abaixo que é preciso iniciar algo de novo!” Esta resposta confiante de Arnaldo deve ressoar hoje na Europa da velha cristandade, nas nossas dioceses e paróquias, e nas comunidades religiosas e missionárias: - “É preciso iniciar algo de novo!” Nesta resposta, ecoa, aliás, a ordem firme de Cristo aos apóstolos, após a noite de pesca em vão, retomada nos nossos dias por João Paulo, na Tertio Millenio Ineunte” : -“Faz-te ao largo!”. Arnaldo Janssen e José Freinademetz exercitaram-se incessantemente na procura da vontade de Deus e esforçaram-se por ser seus instrumentos. Para isso, tiveram um grande amor à Palavra de Deus – à Bíblia e ao Verbo Divino Incarnado - e praticaram exemplarmente o que hoje denominamos “leitura dos sinais dos tempos”. As duas grandes causas da vida de Arnaldo Janssen foram a promoção da unidade dos cristãos – Haverá um só rebanho e um só pastor (Jo 10, 16) – e a evangelização dos povos – Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura (Mc16, 15)! Ambas continuam a ser causas actuais e causas nossas por exigência do mandato de Cristo e da essência da Igreja. Arnaldo enviou missionários para os confins da terra. José foi até aos confins da terra. Viveram ambos a cruzar fronteiras e a derrubar barreiras que separam a humanidade que Deus criou una e quer unida. Nos dois palpita a mesma urgência do mandato missionário: “A proclamação da Boa Nova é a principal e máxima expressão de amor ao próximo” (P. Arnaldo). - Dados biográficos - 15.03.1852 Nasce em Oies, Tirol do Sul (Norte de Itália) 15.08.1875 Ordenado sacerdote em Brixen 27.08.1878 Entra no Seminário das Missões, em Steyl (Holanda) 02.03.1879 Parte como missionário do Verbo Divino para a China 1900-1903 Superior Provincial da China 28.01.1908 Morre em Taikia, na China 19.10.1975 Beatificado em Roma por Paulo VI 05.10.2003 Canonização em Roma por João Paulo II José Hipólito Jerónimo, SVD


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