Dossier

Caritas: Combater a pobreza, construir a paz

Eugénio da Fonseca
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Quis Bento XVI escolher o combate à pobreza e a sua relação com a construção da paz como tema central de reflexão para o próximo Dia Mundial da Paz. Face aos tempos difíceis que se irão viver nos próximos anos, devido à crise financeira e económica que está a assolar o mundo, este assunto revela-se da maior pertinência e a mensagem escrita pelo Papa merece uma leitura atenta por parte de todos os que lutam por mais justiça e fraternidade entre os homens. É uma mensagem dirigida a todas as pessoas de boa vontade, mas que interpela, de modo especial, os que maiores responsabilidades políticas, cívicas e éticas detêm na sociedade. Os cristãos, a nível individual e em Igreja, pelos compromissos decorrentes da adesão à pessoa de Jesus e ao Seu plano salvífico destinado a toda a humanidade, são chamados a estar na linha da frente deste combate. Por isso, devem prestar redobrada atenção ao riquíssimo conteúdo deste documento pontifício, estudando-o com cuidado, meditando-o à luz da paternidade universal de Deus, que nos chama «a construir uma única família», e dando-o a conhecer a todos os que lhes estão próximos. A Cáritas revê-se, por inteiro, nas preocupações de Bento XVI e está em plena sintonia com as suas recomendações. Com efeito, desde a segunda metade dos anos setenta do século passado, que a Cáritas tem vindo a esforçar-se por não reduzir a sua acção a actividades que a arrastem para práticas meramente assistencialistas, procurando investir, como pede o Santo Padre, na formação das pessoas e no desenvolvimento, de forma integrada, de uma cultura que valorize mais a iniciativa dos destinatários. São exemplo disso a realização de múltiplas e diversificadas actividades nos domínios da formação escolar, profissional e humana, tendo consciência de que a pobreza tem também expressões de ordem imaterial. A promoção do emprego, a partir do apoio à criação de postos de trabalho, é outras das vertentes que procura evidenciar a real capacidade de iniciativa das pessoas em situação de desfavorecimento. «Outro âmbito de preocupação são as pandemias (…), pois, na medida em que atingem os sectores produtivos da população, influem enormemente no agravamento das condições gerais do país», lembra o Papa, realçando a tuberculose, a malária, e a SIDA, às quais se poderiam acrescentar outras, mais de ordem social, mas que não deixam de o ser, tais como a toxicodependência, o alcoolismo, os passantes e pessoas sem - abrigo. Algumas Cáritas diocesanas têm vindo a investir não só na satisfação das necessidades básicas de todos os que são atingidos por estes flagelos, mas na integração das mesmas nas famílias e no mercado de trabalho, por serem ainda vítimas de uma destruidora marginalização social. A pobreza das crianças é outra das preocupações evidenciadas na Mensagem para o Dia Mundial da Paz, na qual se denuncia que «actualmente dos que vivem em pobreza absoluta é constituída por crianças». Os Centros de Acolhimento para Crianças em perigo, bem como a dinamização e acompanhamento de famílias com o mesmo objectivo, a implantação de infantários e ATL’s em bairros críticos, a promoção de colónias de férias para crianças desfavorecidas são algumas das actividades que a maioria das Cáritas locais desenvolve para ir ao encontro desta legítima preocupação de Bento XVI. Com a solidariedade de muitos portugueses, através de campanhas de emergência ou, anualmente, pela Operação “10 Milhões de Estrelas – um gesto pela pazâ€, a Cáritas Portuguesa está presente em todos os países africanos de expressão portuguesa e em outros «de rendimento baixo que estão ainda gravemente marginalizados», não só, proporcionando bens essenciais à sobrevivência, mas, sobretudo, apoiando acções que autonomizem as pessoas e comunidades e sejam factor de desenvolvimento. A finalizar a sua mensagem, o Papa recorda o pedido de Jesus aos apóstolos, quando confrontados com uma multidão faminta: «dai-lhe vós mesmos de comer» (Lc 9, 13) para afirmar que, na fidelidade «a este convite do seu Senhor, a Comunidade Cristã não deixará, pois, de assegurar o seu apoio à família humana inteira nos seus impulsos de solidariedade criativa, tendentes não só a partilhar o supérfluo, mas sobretudo a alterar os estilos de vida…». Este é um grande desafio. Vencê-lo é dar credibilidade ao que anunciamos pela Palavra e celebramos na Liturgia. Mas há ainda um longo caminho a percorrer para consegui-lo. É a hora de acelerar o passo. Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa


Dia Mundial da Paz