Dossier

Caritas e Pastoral Social

Eugénio da Fonseca
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Eugénio Fonseca, Presidente da Caritas Portuguesa

A Igreja tem a missão de Evangelizar. Concretiza esta missão por meio do Anúncio de Cristo como salvador, da Celebração da acção de Deus na nossa história e da vivência cristã à luz da Sagrada Escritura: Palavra, Liturgia e Testemunho. São as três dimensões indispensáveis à vida da comunidade cristã. A Cáritas, segundo a definição dos nossos bispos, como “uma instância típica e oficial da Igreja para a promoção da sua acção socialâ€(1), assume o testemunho do amor preferencial de Deus pelos pobres e marginalizados. É esta a razão fundamental da existência da Cáritas, cuja missão é impulsionada por duas motivações: o amor a Deus e o amor aos excluídos, fazendo que o amor se torne credível para todos os seres humanos. A Cáritas é, por isso, parte constitutiva da própria Igreja e não apenas uma mera Organização Não Governamental (ONG). A animação da pastoral social é o papel que se pede que a Caritas desempenhe nas suas Dioceses, “ contribuindo, em especial, para o conhecimento dos problemas e a sua leitura à luz da Doutrina Social da Igreja; o apoio à criação e funcionamento de serviços paroquiais de acção social, com empenhamento directo na prevenção e solução dos problemas; o contributo possível para a transformação social em profundidade, nomeadamente no domínio das relações sociais, dos valores e do ambiente, em ordem ao desenvolvimento solidário; a formação de agentes...†(2). As Cáritas Diocesanas devem apoiar a criação de “serviços sociais paroquiaisâ€, mas não como uma espécie de multi-nacional que abre sucursais nas paróquias. O apoio passa sobretudo por ajudar as comunidades cristãs a tomarem consciência de que a Cáritas é um elemento essencial delas mesmas e só nelas e com elas poderá desenvolver a sua acção. A Cáritas nasce e vive na mesma comunidade que proclama a palavra e celebra os sacramentos, comprometendo a sua verdadeira identidade se não se enraizar na vida das comunidades concretas e se não sintonizar com o ministério pastoral que as anima. Todavia, a Cáritas não esgota toda a luta pela justiça e contra a pobreza. As obras de Institutos de Vida Consagrada, os Centros Sociais Paroquiais, as Misericórdias e a Sociedade de S. Vicente de Paulo... revelam com a sua vida, compromisso e exemplo cristão que o campo é muito vasto. Porém, a Cáritas está chamada a promover a animação da pastoral social, no respeito por cada carisma e pelo pluralismo de actuação das diferentes instituições de acção social e caritativa, sendo, no dizer dos bispos espanhóis, “lugar de encontro diocesano da comunidade cristã para um melhor serviço aos pobresâ€. Por isso, a Cáritas valoriza projectos e programas de outros grupos, desenvolvendo serviços de qualidade que sejam referência para outras iniciativas. A opção pelos mais pobres reclama justiça, mas também caridade, uma palavra que apesar de tão desprestigiada, encerra um conjunto de significados irrenunciáveis. É verdade que a justiça divorciada da caridade, pode fazer desta uma atitude hipócrita e contraproducente. Mas também é verdade que sem caridade, a justiça pode ser demasiado racionalista e nada humana. A pastoral social tem implicações socio-políticas, porque tem como objectivos (entre outros): defender os direitos dos pobres, denunciar os atentados aos direitos humanos, propor orientações para solucionar problemas sociais e humanos e empreender transformações. A Cáritas, por isso, tem de preservar a sua independência dos poderes públicos, para poder questionar as “estruturas de pecadoâ€, responsáveis pelas injustiças e desigualdades. (1) n.º 31 da Instrução Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa sobre a “ A Acção Social da Igreja. (2) Idem


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