A evolução social e o crescimento demográfico, as novas vias rodoviárias, a democratização da cultura e a mentalidade corrente aconselham a que se revejam, periodicamente, as estruturas administrativas e sociais e até mesmo as religiosas. Aliás, para bem da vida das pessoas, a revisão periódica de todas as estruturas que as servem é uma exigência salutar que se impõe cada vez mais aos responsáveis públicos.
Nos últimos dias têm dado que falar os novos concelhos, os que esperavam ser e não foram, e ainda as novas cidades e vilas.
Também, de vez em quando, vem à conversa, nos meios eclesiásticos, a necessidade de criar novas dioceses e, aqui e ali, novas paróquias.
Não esquecendo a competência de quem pode ou deve tomar decisões neste campo, não é de estranhar que as pessoas se empenhem, opinem e se organizem para chamar a atenção de quem parece alheio ou distraído.
No campo administrativo jogam demais o bairrismo e as influências político-partidárias. As decisões são aceites ou contestadas consoante as promessas eleitorais e os interesses reconhecidos ou rejeitados. Ficam muitas vezes, depois de tudo, tensões e discórdias que levam tempo a sarar.
Nestas coisas deve prevalecer a objectividade, o bem das populações e nunca os jogos partidários. O espectáculo recente não honrou os políticos, nem serviu as populações. Na votação não podem pesar razões passageiras, mas sim o juízo cuidadoso sobre os requisitos legais cumpridos, o bem concreto das populações e a possibilidade de resposta, no momento, às exigências daí emergentes. Mais cidades ou mais vilas (porquê estas e não outras?) denunciam um enredo que vence a força decisiva da teimosia e da influência. Corre-se assim o risco de ninguém ligar importância ao facto e apenas fique satisfeito o bairrismo local por ver o nome da sua terra precedido de um vistoso “vila ou cidade de…” Gostava que nestas coisas se andasse por outros caminhos e com outros critérios.
Quanto às estruturas da Igreja, o princípio indiscutível é o melhor meio de evangelizar, a resposta pastoral possível, a presença mais eficaz da Igreja numa comunidade humana concreta, o número de pessoas a beneficiar e o seu meio de vida. O bairrismo ou a tradição não devem entrar aqui e, muito menos, outras razões, traduzidas em despique de grandeza ou em outros interesses diversificados. Hoje a Igreja põe a relação pessoal do bispo ou do padre com o seu povo como um elemento determinante. As exigências de outros tempos, como seminário e tribunal eclesiástico próprios, para as dioceses, e o número de padres para as novas paróquias, estão hoje ultrapassadas pelas soluções interdiocesanas, e pelo alargamento possível da acção pastoral a equipas diversificadas, que não apenas clericais.
Temas normais de debate, com pena que o sejam pouco.
D. António Marcelino