Dossier

Confissões religiosas na Rádio: um momento histórico

Samuel R. Pinheiro
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A partilha no diálogo é um princípio essencial da condição humana. É aí que nos descobrimos e encontramos. Os muros do silêncio engendram medos e fantasmas. Há que ter a coragem de saber conjugar o respeito pela afirmação do que de comum existe na natureza humana face à sua condição, ao sentido da sua razão de ser, à sua vocação e destinos eternos, aos sinais que dentro e fora de si apontam para a existência de um Deus Criador e Sustentador de todas, que não se aliena das perguntas e dúvidas mais íntimas que desabrocham no seu ser, mas que na consciência delas está disponível para ser interpelado pelo transcendente. No nosso entender o pior que pode acontecer ao ser humano é encerrar-se nos estreitos limites da sua “grandeza”, da sua materialidade, racionalidade e cria-tividade. O materialismo e o naturalismo que se excluem do religioso e da espiritualidade, apesar de serem eles tantas vezes também uma outra forma de religião e de espiritualidade, são bem pequenos diante dos horizontes do espírito.

A religião, no nosso entender, é a expressão dos sinais que dentro do coração de cada homem, em cada cultura, em cada geografia e em cada momento histórico pulsam pelo divino. Todas as religiões têm em comum, apesar de toda a sua diversidade, esse anseio pelo coração de Deus, pela Sua presença, pela Sua manifestação, pelo seu conhecimento. Pensar e reflectir sobre Deus, falar acerca d’Ele, congeminar sobre a Sua natureza e sobre a Sua vontade, sobre os seus atributos, é uma paixão que desde sempre povoou o pensamento humano. Falar com Deus, dirigir-lhe preces, invocá-lO, é outro dos impulsos de que comungam todas as expressões religiosas, por palavras, gestos, criação artística e música. Os valores e os princípios éticos e morais, as linhas de força da vivência vinculam cada criatura no senso do certo e do errado, mas acima de tudo no amor a Deus acima de tudo e de todos, e ao próximo como a nós mesmos, fazendo aos outros o que queremos que eles nos façam ou não lhes fazendo o que também não queremos que nos façam.

No entanto não existe verdadeiro diálogo sem a assumpção das diferenças que existem nas diferentes confissões religiosas e como cristão, com toda a humildade, tenho que assumir a profunda convicção de que não apenas existe uma história da busca do homem por Deus, existe igualmente uma busca de Deus pelo homem (se O buscamos é porque Ele nos busca), e Ele sabendo que nunca por nós O poderíamos alcançar veio ao nosso encontro e se fez homem. Deus fez-se homem em Jesus Cristo e em Jesus Cristo temos a expressão em traços humanos de quem Deus é, em toda a Sua graça e justiça, em todo o Seu amor e aceitação, em todo o Seu perdão e serviço, na dádiva total de Si mesmo até à morte e morte de cruz, para que por Ele conheçamos a verdadeira vida.

Uma sociedade que reconhece sem preconceitos a presença e a importância do religioso e do espiritual no seu seio, abrindo-se à expressão pública de cada uma das suas expressões no comum e no diferente de forma transparente e assumida, é uma sociedade que evidencia maturidade e que desta forma dá uma contribuição determinante para o seu crescimento e desenvolvimento saudável.

Uma democracia que não esconde o religioso e o espiritual para o domínio privado, apesar da sua feição laica, é uma democracia adulta, uma referência política para outras latitudes e longitudes.

Após 12 anos de serviço público na televisão, depois de três anos de pacientes negociações, no mês de Novembro concretiza-se um novo passo neste processo agora através das ondas da rádio na Antena 1. Saudamos efusivamente este protocolo que reúne 13 confissões religiosas. Um exemplo para a Europa e o Mundo…

Samuel R. Pinheiro, Aliança Evangélica Portuguesa



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