Dossier

Consagrados pelo mesmo Reino

Pe. José Augusto Leitão
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A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), integrando-se nas celebrações do ano jubilar dos 50 anos da Conferência dos Religiosos (CNIR) e da Federação das Religiosas (FNIRF), publicou uma Nota Pastoral sobre as Ordens e as Congregações Religiosas em Portugal (NP). Os objectivos desta NP são enunciados claramente logo no início: dar a conhecer a Vida Religiosa (VR) às comunidades cristãs “para que tenham uma maior compreensão e apreço pela vida religiosa e se sintam estimuladas a colaborar na promoção das vocações de consagração†e ser “uma mensagem amiga, expressão de gratidão e de estima, dirigida a todos os religiosos e religiosas de Portugal, que queremos estimular sempre mais na sua fidelidade e na disponibilidade para com Deus e os irmãos†(nº 1). Estes dois objectivos inserem-se naquilo que a Vita Consacrata (VC) nº 48, apresenta como dever do Bispo em relação à Vida Consagrada: “acolham e estimem os carismas da vida consagrada, dando-lhes espaço nos planos da pastoral diocesana†e “acolhendo-a generosamente com acções de graçasâ€. A NP refere-se nos nº 1 e 9 ao ano jubilar, congratulando-se com o passado e pedindo as bênçãos de Deus para o processo de criação de uma única Conferência de religiosos masculinos e femininos que permitirá uma “maior colaboração de ambos†(nº1) e a “mútua colaboração entre os religiosos e Bispos†(nº9). Os nº 2 e 7 apresentam a natureza teológica da VR: “homens e mulheres chamados por Deus e que respondem ao convite do seguimento radical de Jesus Cristo, os quais, professando publicamente os conselhos evangélicos, imitam a Sua vida, procuram viver em cada dia o espírito das bem-aventuranças, constituem comunidades fraternas, e testemunham, em ordem à construção plena do Reino, o absoluto de Deus e a transitoriedade das coisas criadas†(nº2). O seu “cariz evangelizador†não nasce tanto daquilo que fazem, mas do testemunho que dão como consagrados. Por isso, os religiosos, mais do que “substituir os leigos†devem “colaborar na sua formação e a estimulá-los, pelo testemunho da sua vida pessoal e comunitária, a prosseguirem nos caminhos da santidade, na disponibilidade para o serviço aos irmãos e na vivência comunitária†(nº 7). O nº 3 evoca o contributo histórico e o nº 4 o contributo actual da VR à Igreja Portuguesa. A lista é exaustiva e abrange os mais diversos campos de acção (cultura, arte, educação, saúde…) e de apos-tolado (missionário, paroquial, catequese, escolas, migrantes, mais pobres…). Há uma referência importante ao património cultural fruto desta acção e que nos Sec. XIX e XX foi espoliado, em grande parte, pelo Estado. O nº 5 é todo ele dedicado à vida contemplativa, “menos compreendida†e conhecida, mas que “constituem uma parte muito rica e enriquecedora da vida da Igreja em Portugalâ€, pelo seu testemunho “do absoluto de Deusâ€. O nº 6 é um importante número dedicado à pastoral vocacional. Reconhece-se que se “nota alguma crise em relação a novas vocações†e que, embora haja jovens generosos que se empenham no voluntariado solidário, “são ainda poucos os que abrem o coração aos apelos de Deus para irem mais além, quer na vida sacerdotal, quer na vida religiosa ou noutra forma de consagraçãoâ€. Segundo a NP a pastoral vocacional deve partir duma pastoral juvenil evangelizadora que passe por “propostas directas de seguimento radical de Jesus Cristo aos que já as podem entender e convidá-los a responder com sinceridade e liberdade interiorâ€. Uma verdadeira e eficaz pastoral vocacio-nal só acontecerá se toda a Igreja se empenhar na criação de uma cultura vocacional que nasça de “apreço pela vida sacerdotal e pela vida consagrada†e conduza à apresentação das diversas propostas vocacionais na Igreja. O nº 8, partindo de uma eclesiologia de comunhão, situa a VR na Igreja Diocesana. “A unidade efectiva e o mútuo afecto entre o Bispo e todos os consagrados da sua Diocese†deve tornar-se num “sinal visível†da comunhão eclesial e um forte apelo “à maior inserção de todos os religiosos e religiosas†na Igreja Diocesana. A VR acolheu com júbilo e gratidão esta NP dos nossos Bispos. Apesar da pouca divulgação que documentos desta natureza têm na Igreja e na sociedade portuguesa em geral, esta NP significou a expressão da solicitude pastoral dos Bispo de Portugal e um esforço meritório em dar a conhecer a VR e estimular a promoção das vocações de consagração junto das comunidades cristãs. No nº 7 da NP, os nossos Bispos manifestam-se “surpreendidos pela ignorância em relação à Vida Religiosaâ€. Esta surpresa tornou-se mais evidente após a conclusão do inquérito à população portuguesa pedido pela CNIR/FNIRF à Universidade Católica, em 2004. Dos inqueri-dos que responderam, 42% desconheciam a existência dos/as religiosos/as na Igreja! Perante este resultado, uns têm-se lamentado e culpabilizado por este facto, outros têm procurado “defender†a VR apresentando as muitas obras e serviços que os religiosos realizam. Pessoalmente, penso que as verdadeiras respostas a este inquérito passam por três vias: a informativa, a evangelizadora e a purificação libertadora. Ao primeiro grande desafio da informação sobre a VR, os nossos Bispos já tentaram responder e muito bem, por meio desta NP. O segundo grande desafio é o crescente deficit de evangelização do povo português. Embora 84% dos portugueses se digam católicos só cerca de metade destes são “católicos praticantes†o que me leva a concluir que estes 42% que disseram desconhecer os religiosos, desconheçam não só os religiosos mas também a fé em Jesus Cristo Vivo. E isso, deveria fazer surgir na VR e na Igreja em geral um verdadeiro movimento missionário preocupado com a sorte de um grande número de portugueses que desconhecem a riqueza libertadora de viver em Cristo. O terceiro desafio é-nos lançado pela Instrução “Partir de Cristoâ€. A VR deve aproveitar este momento para uma “purificação libertadoraâ€: “Se, nalguns lugares, as pessoas consagradas se converteram num pequeno rebanho, devido à redução numérica, este facto pode ser lido como um sinal providencial que convida a recuperar a missão essencial de levedura, de fermento, de sinal e de profecia. Quanto maior se apresentar a massa a levedar, tanto mais rico em qualidade deverá ser o fermento evangélico, e tanto mais refinados o testemunho de vida e o serviço carismático das pessoas consagradas.†(Partir de Cristo 13). Pe. José Augusto Duarte Leitão, svd


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