Dossier

Cristãos responsáveis

Elias Couto
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Intenção Geral do Santo Padre para o Apostolado da Oração - ABRIL

Cristãos responsáveis Intenção Geral do Santo Padre para o Apostolado da Oração – ABRIL Que todos quantos desempenham funções de responsabilidade na Igreja sejam luminoso exemplo de vida, sempre dóceis ao Espírito. 1. Todos responsáveis. O Evangelho é um chamamento à responsabilidade. Veja-se o início do Evangelho segundo S. Marcos: «O tempo chegou ao seu termo. Arrependei-vos e acreditai na Boa Nova» (Mc 1, 15) – proclama Jesus. É como se dissesse: a responsabilidade está do vosso lado; não espereis que Deus venha fazer um grande milagre para vos obrigar à conversão; arrepender-se e acreditar é responsabilidade vossa. E este espírito perpassa as páginas dos Evangelhos: cada um é responsável por si diante de Deus. E é também responsável pelos outros e diante dos outros – leia-se, neste contexto, a parábola do bom samaritano (Lc 10, 29-37). Não há desculpa para ser discípulo de Jesus de outro modo, não há argumento para nenhuma «fuga do mundo», não há maldade do mundo que não seja fruto do mal que nos habita e este sempre implica conversão e responsabilidade pessoal. Será esta a leitura que fazemos da Boa Nova de Cristo e da sua vida entre nós? Há motivos para crer que mais facilmente nos entretemos com um cristianismo feito de rituais e tradições, consumidos como consumimos tudo o resto, irresponsavelmente! 2. Todos responsáveis, em Igreja. O discípulo de Cristo é sempre membro de uma comunidade de fé. E não pode, por isso, sentir-se alheio à dupla responsabilidade que sobre ele impende: como discípulo de Cristo e, consequentemente, como membro de uma comunidade – a qual tem direito a esperar dele essa condição adulta que se revela no assumir responsável do chamamento divino, ou seja, da própria vocação. Considerar que a comunidade só diz respeito a alguns, estar enquistado numa crítica mordaz àqueles que trabalham e ao trabalho feito, mas sempre indisponível para qualquer compromisso, lamentar sistematicamente o mau exemplo dos padres, dos bispos, dos religiosos, mas nunca se interrogar sobre o próprio exemplo, dizer «a Igreja», como se fosse uma realidade à qual se é estranho… – são sinais evidentes de uma incongruência vital, porventura não consciente, mas real. Infelizmente, esta incongruência foi alimentada, durante séculos, no interior da Igreja, fruto da sua clericalização e da por demais evidente menorização da maioria absoluta dos seus membros: os fiéis leigos. Esta menorização produziu frutos seculares de desresponsabilização que, ainda hoje, é muito difícil ultrapassar. E por isso, quando da parte de muitos membros do clero se escutam lamentos sobre a pouca disponibilidade dos leigos ou sobre a sua falta de formação para colaborar na vida da comunidade, talvez fosse útil que juntamente com os lamentos viesse o compromisso de fazer mais e melhor para formar os leigos, em ordem a uma verdadeira co-responsabilidade eclesial. 3. Luminoso exemplo de vida. A responsabilidade de cada cristão é esta: convertendo-se ao Evangelho, ser luminoso exemplo de vida, na fidelidade ao Espírito de Deus. E se é assim com todos, na sociedade actual é-o mais ainda com aqueles que, por vocação, tradição e exigência das funções desempenhadas, surgem mais expostos ao olhar inquiridor da sociedade. Num tempo em que tudo é mediatizado, tornado objecto de exploração e exposição por parte dos meios de comunicação social, não é de estranhar que quem desempenha funções com maior visibilidade social seja objecto de maior atenção e curiosidade por parte desses meios, apostados em dar a conhecer o que acontece, de melhor ou de pior – mais de pior do que de melhor – na vida quotidiana. É de esperar, pois, que os cristãos investidos de missões eclesiais com maior visibilidade social, sejam também objecto de um escrutínio mais severo por parte dos meios de comunicação. E é igualmente de esperar que estes possam aparecer como «os melhores dos melhores», de modo a, fiéis ao Espírito Santo, constituírem luminosos exemplos de vida, para os seus irmãos na fé e para toda a sociedade. Quando assim não acontece – porque se deixam vencer pelo mal, pela vaidade, pelo auto-endeusamento, porque se deixam corromper pelo mundo e pelos seus apelos – são eles, certamente, os primeiros a sofrer. Mas sofre também a Igreja que representam, sofrem os seus irmãos na fé, e sofre toda a sociedade – a qual, mesmo se não crente, tem o direito a esperar deles, como de todos os cristãos, um exemplo de vida coerente no seguimento de Cristo. Elias Couto


João Paulo II