Descobrir o silêncio no meio dos ruÃdos
Tem o curso de Engenharia do Ambiente e começou logo a trabalhar após a conclusão deste na Universidade de Aveiro, mas “já tinha descoberto o rosto de Deus” antes da Engenharia do Ambiente. João Santos nasceu no seio de uma família católica e, desde cedo - ainda andava na Escola Primária -, já colocava a hipótese de ser padre. “Porém, a ideia depressa sumiu com o confronto de outras «profissões» que pareciam interessantes” – disse.
A Engenharia do Ambiente foi uma fase do seu percurso formativo e de “um contexto que gostava: operacionalização de meios para a protecção do ambiente” – declarou. O ambiente universitário não se resumiu apenas às aulas. O convívio cristão no Centro Universitário Fé e Cultura daquela cidade “foi marcante”.
Natural da paróquia de Canedo, Santa Maria da Feira (diocese do Porto), João Santos sempre esteve ligado à actividade pastoral na paróquia. No entanto – reconhece – que não sabe “se estaria no Seminário” se fosse estudar para outra cidade diferente. “Deus esteve sempre presente na minha vida, mesmo no meu percurso de formação académica”. E acrescenta: “acredito que Deus nos chama”.
No meio do chamamento existem ruídos “que tapam os ouvidos”. João Santos – citando um colega – diz que o ruído é “o som que ninguém quer” porque “Deus é uma voz que se manifesta, mas manifesta-se no silêncio”. Quando o ruído existe “deixa de haver silêncio e Deus não se pode escutar”.
Com 29 anos – nasceu a 23 de Fevereiro de 1981 – este seminarista vive e sente os momentos de silêncio na sua vida. “Eles foram surgindo, mais do que sendo eu a descobri-los foram os momentos de silêncio que me foram encontrando” e “fui conhecendo melhor o rosto de Deus”.
Aprender com o sorriso de África
O ar sério – apesar da luminosidade do seu olhar – do João Santos contrasta com a alegria expansiva do Pedro Barros. São colegas de curso (ambos frequentam o 3 ano de Teologia) e entraram no Seminário após uma licenciatura. No meio de uma gargalhada, Pedro confessa que “não é sempre assim” (e continua a rir…). “O sorriso de Deus também passa por estes momentos” porque “uma caminhada não se faz meditabundo”. O sorriso é o que caracteriza a “essência de qualquer um de nós”. E pergunta: “Quem não quer ter um sorriso? Quem não quer dar um sorriso?”
Na sua caminhada vocacional – com etapas de voluntariado missionário – o seminarista aveirense explica que no continente africano (Moçambique e Angola) também descobriu o sentido do sorrir. “O meu percurso vocacional começou muito por aí, a minha primeira experiência é, de facto marcada, pela essência do sorriso”. Descobriu no rosto do outro uma “nova forma de olhar a vida”. E acrescenta: “o sorriso é uma das marcas em África” e “trouxe este sorriso de África”.
Pemba e Namaacha (Moçambique) e Luanda e Lwena (Angola) deixaram marcas na personalidade do seminarista de Santa Joana Princesa. A nostalgia daquele continente está patente na voz do Pedro. Carimbos do solo africano: “Tenho necessidade também de, às vezes, ir procurá-lo [sorriso] em África. Há um «bichinho» que marca” e “que ajuda a crescer, a crescer e a crescer…”
Fazer uma opção radical
É o mais novo de três irmãos. Os raios solares de Outono passam entre a pouca folhagem e iluminam as palavras do Vítor Cardoso. Com uma experiência no Movimento dos Focolares, este seminarista concorda com a expressão: Os focolarinos são os «apóstolos do sorriso»: “exactamente… exactamente, os focolarinos têm a característica do sorriso”. E salienta: “Acreditamos num Deus amor”.
O encontro com o Movimento dos Focolares levou-o a “fazer uma opção radical”. No ano de 2005 após ter concluído os estudos secundários chega o momento de “me lançar nesta aventura”. Faz um curso intensivo de italiano, em Roma. Regressa a Portugal e entrega “a carta de despedida na empresa”. Abandonou tudo, “nesta radicalidade”.
As reacções dos colegas da empresa onde o Vítor Cardoso trabalhava foram diversas. “Alguns tiveram uma sensação estranha - não foi a questão de rir -, mas tentaram por tudo para eu abandonar esta ideia” – declarou o seminarista da Gafanha de Nossa Senhora do Carmo. Por sua vez, o director da empresa aceitou “muito bem e apoiou-me”. Até o dispensou dos dois meses que as normas laborais exigem no caso de despedimento por livre iniciativa.
Um mês de mudanças totais e “decisivo”. Deixou a empresa e teve de contar a novidade em casa. “Propriamente, a família não sabia de nada”. Não escondeu o «segredo», mas – apesar de verem “o acompanhamento que estava a fazer a nível do Movimento dos Focolares – não sabiam da nova etapa.
A partida foi “difícil”. No entanto – realça logo o Vítor Cardoso – o Evangelho diz: “quem deixa pai e mãe recebe cem vezes mais”. Não foi apenas essa a razão. “Deixava cá algo que foi construído em 33 anos”.
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