Dossier

É fácil informar sobre a Igreja?

José Eduardo Borges de Pinho
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Confrontado com esta questão e colocando-me no ponto de vista de quem tem a missão de informar, direi - deixando de lado qualquer possível comparação com outros âmbitos de vida ou instituições - que não é fácil, às vezes é até bastante difícil informar sobre a Igreja. Explicito sucintamente porquê. 1. Informar (bem) sobre a Igreja exige algum conhecimento da realidade eclesial, e o comum das pessoas que trabalham na informação não dispõe, pelas mais variadas razões, de conhecimentos suficientemente fundados nesta matéria. 2. Informar (bem) sobre a Igreja pressupõe algum confronto com os critérios jornalísticos dominantes: interessa (ou determina-se que interesse) mais o folclórico, o sensacional, porventura até o escandaloso, ou simplesmente o que obedece a parâmetros vigentes na sociedade, enquanto o mais importante na vida da Igreja não passa por aí e tem sobretudo a ver com aspectos da realidade quotidiana que não despertam a atenção e, por isso, não “merecem” ser notícia (pense-se, por exemplo, no serviço prestado diariamente a inúmeras pessoas). 3. De um modo geral, as pessoas que exercem cargos de maior responsabilidade na Igreja lidam mal com a comunicação social – desde as palavras que usam ao modo de relacionamento, desde a tendência a pôr-se à defesa à atitude de suspeita – e isso dificulta muito o trabalho de quem queira informar sobre as realidades da Igreja. 4. O facto que muitos informadores, por ignorância, por desvalorização do fenómeno religioso ou, eventualmente até, por alguma má fé, não transmitem correctamente os acontecimentos eclesiais reforça aquela mentalidade eclesiástica que tende a ser pouco transparente, o que afecta a possibilidade de uma informação atempada e adequada dos acontecimentos. 5. Embora se afirme, a nível dos princípios, a importância de uma opinião pública dentro da Igreja, na prática ela existe muito pouco (além de que a grande maioria dos cristãos não têm sido preparados, no estilo de vida eclesial dominante, para aceitar essa opinião pública e tomar parte activa nela). No entanto, é possível informar (bem) sobre a Igreja. Para isso há, obviamente, que atender a alguns pressupostos. 1. Da parte do comunicador é fundamental um mínimo de percepção da especificidade da realidade eclesial e alguma capacidade de leitura dos acontecimentos neste âmbito. 2. É indispensável, evidentemente, capacidade e atitude profissionais (desde a busca do rigor na informação à tentativa de perceber o essencial ou à escuta de diversos pontos de vista) o que, nalguns casos, exigirá a ultrapassagem de preconceitos que impedem uma visão correcta da vivência religiosa. 3. Não menos importante é a liberdade própria de um comunicador responsável, que, na sua preocupação de ser profissionalmente competente e sério, terá de conseguir manter também alguma distância crítica relativamente ao quotidiano eclesiástico (informar sobre a Igreja não é transmitir comunicados, não é simplesmente dizer ou escrever o que as pessoas querem que se diga…). 4. Para uma (boa) informação sobre a Igreja é, enfim, decisivo que a própria Igreja se habitue a olhar com normalidade a comunicação social, sem ideias feitas generalizadas, sem receio de correr alguns riscos, sem medo de “abrir as janelas” quanto ao que pensa e procura fazer relativamente a tudo o que importa ao viver humano. Claro que a condicionante básica (em diversos aspectos) de muito do que está subjacente ao informar sobre a Igreja tem a ver com a relação que se tem com a própria Igreja. De qualquer forma, creio que informar o melhor e o mais amplamente possível sobre a vida da Igreja, nas suas luzes mas também nas suas sombras, é um dos melhores caminhos para ajudar os cristãos a crescer na maturidade da fé e para sugerir a quem está (ou olha) de fora que talvez valha a pena prestar mais atenção àquilo que se passa na Igreja, ao que ela deve ser e ao que ela procura propor. José Eduardo Borges de Pinho Rádio Renascença


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